Ragha agita verão no Farol
Matheus Berriel 09/01/2019 18:45 - Atualizado em 14/01/2019 14:38
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Neste verão, não são apenas os shows nacionais ou de artistas locais que agitam o público na praia do Farol de São Thomé, em Campos. Convidado pela Prefeitura, o grupo de dança Ragha se apresenta todos os sábados, a partir das 16h, no Espaço para Todos, próximo ao Náutico. Na semana passada, os dançarinos colocaram centenas de pessoas para balançar o esqueleto num ritmo muito original.
Com nome ligado a um gênero musical da Jamaica e uma modalidade de dança indiana, o Ragha surgiu no ano de 2016, criado pelo baiano Alírio Menezes, residente em Campos desde 2001. Empresário do ramo de comunicação, Alírio usou a luta contra a obesidade como o estímulo necessário para retomar uma paixão de infância: a dança, unindo o útil ao agradável. Antes disso, ele ficou parado durante oito anos, devido a uma cirurgia por ruptura de ligamento.
— Fui duas vezes a Salvador e me chamaram a atenção pela minha obesidade. Aquilo mexeu comigo, e a única forma para eu controlar era voltando a dançar, fazer algo que eu gostasse e já tivesse experiência. Mas eu queria voltar a dançar e fazer alguma coisa para ajudar as pessoas. Ainda luto contra a obesidade, mas reduzi um pouco. E a minha ideia era de criar algo que fosse simples e fácil. Já que estavam na moda várias modalidades de dança, resolvi criar uma também. O Ragha é uma modalidade e um movimento de dança, com o objetivo de agregar todo mundo. Hoje, graças a Deus, a gente vem tendo um sucesso que não é só por mim, mas por várias pessoas que acreditaram e vêm acreditando, ajudando a gente a divulgar isso. Hoje, a dança não é só dança. É uma terapia, o remédio do século XXI — disse.
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Segundo Alírio, atualmente, o Ragha é o maior movimento de dança do estado do Rio de Janeiro, mesclando as raízes baianas com a valorização da cultura regional. Entre os integrantes, 12 estão sendo treinados há um ano para atuarem como professores em academias, multiplicando o trabalho desenvolvido no grupo. Um dos projetos já desenvolvidos é o Ragha nos Bairros, há dois anos levando a dança de forma gratuita a seis comunidades carentes de Campos. No Farol, além do Ragha Beach, durante os sábados de verão, começa no próximo domingo (13) outra atração semanal, a Tardezinha do Ragha, também a partir das 16h, em um quiosque da praia campista. Para o sábado de Carnaval, está sendo planejado mais um Arrastão do Ragha, que reúne cerca de 100 pessoas.
— Estamos felizes, porque, amanhã ou depois, se Deus permitir que a gente chegue a outros patamares, vamos ter orgulho de falar que somos campistas. Eu tenho muito respeito à Bahia, me emociono quando falo, minha mãe está lá. Mas, eu também amo Campos, já me sinto campista de coração, fico feliz quando vejo coisas bacanas acontecendo. Sonho em chegar às grandes mídias e poder falar que começamos aqui — pontuou Alírio.
Moradora de Nova Goitacazes, a jovem Juliana Reis Paulo, negra, de 23 anos, destacou o caráter integrativo e transformador do Ragha, independente de cor, religião e opção sexual: “Antes, de entrar no Ragha, eu era totalmente sedentária, não tinha vontade de fazer nada. As pessoas me olhavam com outros olhos. E além da dança, o Ragha traz um conhecimento. Eu moro numa comunidade e não tinha acesso a nada. Nasci para viver e morrer ali. Com o Ragha, comecei a ver e querer outras coisas, isso é importante. As pessoas passaram a me respeitar pela minha cor e pelo que eu faço”, afirmou.
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Outro dançarino, João Victor Pikasso, apelidado de Sorriso, 19 anos, relatou a quebr a de um tabu pessoal: “Já sofri preconceitos por usar calça legging, é outro tabu que o Alírio vem quebrando com o Ragha. Quando eu dançava por conta própria, era chamado de gay, discriminado. Hoje, graças a Deus, o pessoal me respeita. Se não fosse o Ragha, eu seria só mais um por aí. O Alírio e o Ragha transformam pessoas anônimas em artistas”, disse o jovem de 19 anos, morador de Goitacazes.
As aulas do Ragha acontecem as segundas e quartas-feiras, de 19h30 a 20h30, em uma casa amarela na rua Serafim Saldanha, nº 15, no Turfe Clube. Além da dança, há acompanhamento psicológico e informações culturais para os participantes. “A gente é um projeto que precisa de ajuda. E nós somos de verdade. Nas aulas, a gente cobra R$ 20, R$ 25, mas só paga quem pode. Se tem alguém que quer dançar, tem algum talento, ama a dança, precisa fazer atividade física e não tem como pagar, o Ragha acolhe. Se tem alguém querendo fazer algo profissional na dança e não tem condição, a gente está ali para dar uma informação, ajudar a pessoas a ingressar no mundo artístico”, disse Alírio.
Interessados a ingressar no grupo ou dar algum apoio podem entrar em contato pelo telefone (22) 99884-2365. É possível acompanhar o Ragha pelo Facebook, Instagram e Youtube.

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