Cultura do Medo
Há tempos queria escrever sobre este assunto, eis que para minha surpresa, fui convidado pelo Jornal Correio de Corumbá, MS o qual sou colunista, a falar cobre ele. Então, aproveito o mesmo texto para compartilhar com vocês.
Não sei se o nome do título é adequado, mas trata-se de pânico ou síndrome do pânico, depressão, ansiedade, e demais palavras que estamos mais do que acostumados a escutar diariamente.
Alguns mais radicais acreditam que alguém ganha, e muito, dinheiro com estes tipos de manchetes, constantemente colocadas em sites, redes sociais, jornais e programas de TV.
Infelizmente é muito comum abrirmos sites de notícias, e nos depararmos com manchetes sobre fulano que enfartou, beltrano teve AVC e outro jovem que morreu de repente, muitas vezes durante a prática de esporte.
Afinal qual o problema, se são notícias? Ai que está. O problema é que este determinado assunto, não pode ser tratado assim, como se fosse notícia sobre inflação. Ou no mínimo não deveria.
Comumente, usam-se duas justificativas, que para mim, não colam. Uma de que estão ajudando as pessoas a se cuidarem melhor, ou seja, alertando, e outra de que, tratando-se de famosos, seus fãs tem a curiosidade em saber.
Ora, o alerta não deve ser feito colocando pânico na população. Não tem sentido a manchete ser “homem de 25 anos morre durante disputa de tênis”, e falar que isso serve de alerta. O certo, e muito mais civil, seria algo como a importância de exames médicos regulares. Isto é alerta. Homem morre, é para colocar medo, causa pânico, afinal achamos que a qualquer momento pode ocorrer conosco, ou com quem amamos.
Em relação a famosos, acho que o cuidado deveria ser dobrado, até pela privacidade, apesar de que alguns até gostam da falta de. O que custa noticiar que fulano passou mal, teve problemas de saúde e precisou de atendimento, ficando aberto a quem tem curiosidade pelo tal famoso, a clicar no link e ler a noticia. Mas claro, não haveria o sensacionalismo, necessário hoje em dia.
Portanto, fica a duvida. Será que é mesmo para alertar? É fato que muitas pessoas correm diariamente aos hospitais achando que estão enfartando e na verdade, são diagnosticados com pânico ou estresse. Doenças estas consideradas da nova geração.
Vivemos em um mundo onde não sabemos mais o que, realmente, faz mal ou bem. Os alimentos, por exemplo, estão sempre mudando. Um dia o ovo faz mal devido ao colesterol e no outro faz bem. E o café, chegaram a alguma conclusão?
Conheço pessoas que estão um pouco acima do peso, que vivem em constante medo de acontecer algo. Veja bem. O problema aqui, não é acontecer algo, é você viver o dia inteiro achando que vai acontecer algo, por que a notícia é que sobre peso mata. Como se não existissem mais Jô Soares no mundo, no auge de seus 80 anos.
Se ao mesmo tempo falam que a expectativa de vida mundial esta aumento, e a obesidade também, não há algo errado?
A impressão é: você é gordo? Qualquer momento pode morrer. Pare de comer, de beber, de fumar, vá caminhar, praticar exercício físico...mas de vagar, para não enfartar.
Não é bem assim. Claro que devemos nos cuidar. Óbvio. Mas cada um tem seu estilo de vida e biótipo. Magros e esportistas também tem diabetes, pressão alto, colesterol..
Sem considerar que muitas destas notícias não vem explicando o histórico médico da pessoa/famoso, se ela usou substancias ilícitas ou se já estava sofrendo de tal mal antes.
Enfim, acredito que noticias devem ser dadas, principalmente se for para nosso bem, visando nossa qualidade de vida. Claro que devemos nos cuidar, obesidade não é bom. O sentido do texto é criticar a forma que estas notícias são dadas.
Um colega meu que trabalha em uma loja num grande shopping de São Paulo, onde passam milhares de pessoas por dia, uma vez conversando sobre isso, me disse que “do jeito que as noticias são colocadas, parece que está andando uma pessoa ali e pá, enfartou. Outra caminhando ali e, teve AVC, um obeso lá e teve derrame..” e raras vezes viu isto acontecer, em anos de profissão.
Portanto acredito que o bom senso, principalmente em noticias relacionadas a saúde, devem vir em primeiro lugar, afinal não é bom para ninguém. Nem para quem lê, despertando o receio, nem para quem trata (atrasando o atendimento de um paciente com risco sério) e nem para quem escreve, afastando os bons leitores.

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    Fábio Pexe

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