Regulação sobre missas em latim: bispos discutem causas e consequências
Ícaro Abreu Barbosa 28/07/2021 08:20 - Atualizado em 28/07/2021 10:17
O Papa Francisco reverteu uma das decisões do Papa Bento XVI e limitou a disseminação da missa em latim. A nova determinação é do último dia 16, através da Carta Apostólica Traditionis Custodes. As reações foram imediatas com críticas e queixas entre alguns católicos tradicionalistas que veem o ato como ataque à antiga liturgia. Em Campos, a situação não é avivada por nenhum dos bispos. Dom Fernando Arêas Rifan, líder da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, e Dom Roberto Francisco Ferrería Paz afirmam que a reação na cidade foi mínima – se é que houve alguma.
As restrições às celebrações em latim foram impostas pelo Papa Francisco devido ao uso da missa estar sendo explorado, de acordo com o mesmo, pelos fiéis que se opunham ao processo de modernização da liturgia católica, iniciada nos anos 60, com o Concílio Vaticano II. “O problema não é o latim; o problema é que quem está rezando este rito extraordinário está rejeitando a missa ordenada pelo Concílio e, por isso, o Papa interveio: o Concílio representa a unidade de toda igreja e serve para todos”, explicou o Bispo da Diocese de Campos, Dom Ferrería, acrescentando: “Nós não podemos admitir que os ritos extraordinários gerem uma nova cisma”.
Apesar da grande quantidade de fiéis tradicionalistas no Norte e Noroeste Fluminense, cerca de 30 mil praticantes, pouco barulho foi feito nas regiões – principalmente por conta da posição apaziguadora assumida pelo bispo da Administração Apostólica, Dom Rifan, na questão. “Nem é preciso dizer que, como católicos, acatamos essa orientação do Papa Francisco”, pontuou.
Agora cada missa em latim deve ser autorizada por um bispo. Os reajustes entregaram ao Bispo de cada Diocese, a competência de moderador, promotor e guardião de toda a vida litúrgica da Igreja particular que lhe foi confiada. Por isso cabe ao bispo autorizar o uso do Missal Romano de 1962 na sua diocese – sempre seguindo as orientações da Sé Apostólica.
O bispo da Diocese de Campos, Dom Ferrería Paz, se adiantou: “Cada missa em latim deve ser autorizada. E eu não preciso autorizar, pois quem rezará a missa aqui no Norte e Noroeste Fluminense é a Administração Apostólica Episcopal e os fiéis apegados ao antigo rito devem ir para lá. Agora, nas paróquias da Diocese de Campos não vai se rezar mais. Acabou. Antes, quando havia uma novena, alguns padres aproveitavam para rezar um rito extraordinário, mas isso nunca foi utilizado aqui contra o Papa Francisco; aqui em Campos nós sempre estivemos em comunhão”.
Para ele, não irão haver muitos problemas em Campos, que na sua opinião é uma das cidades menos afetadas pela decisão papal. Reforçando a comunhão com Dom Rifan, Dom Ferrería explicou que o missal continuará sendo rezado na Administração Apostólica.
– O Papa não restringiu a ele (Dom Rifan), mas aos grupos tradicionalistas que o estão confrontando. Não é um problema que envolve apenas o uso do Latim, mas mexe com todo o Concílio do Vaticano II, que prevê uma Igreja renovada que incultura a missa nas pessoas; sendo a língua nativa um dos aspectos importantes deste processo – concluiu o Bispo.
Fiéis ultra tradicionalistas foram responsáveis pelas novas normas do missal pré-conciliar:
Os dois bispos de Campos e Região concordam no ponto da justificativa do Papa Francisco: os fiéis tradicionalistas mais radicais foram os responsáveis pelas restrições impostas pela autoridade católica na última sexta-feira (16).
Dom Rifan admitiu: “infelizmente”, a intervenção do Papa atual foi provocada pelos abusos de muitos chamados tradicionalistas, “que, não observando o que desejava Bento XVI, instrumentalizaram a Missa na forma tradicional para atacar o Papa e o Concílio Vaticano II”. Ele ressaltou que estas pessoas não são a maioria e nem os mais importantes, “mas são os que mais gritam e aparecem nas redes sociais”.
– É incomparavelmente maior o número daqueles fiéis que aderem à forma antiga do Rito Romano por razões corretas, nem a instrumentalizam, nem negam a ortodoxia e o valor do Concílio Vaticano II nem a reforma litúrgica dele oriunda, a chamada Missa de Paulo VI, ou a forma normal do Rito Romano. Os justos não poderiam pagar pelos pecadores – concluiu o bispo da ala tradicionalista da igreja em Campos.
O bispo da Diocese de Campos, Dom Ferrería Paz complementou: “Nós já conhecemos bem a mentalidade de alguns grupos tradicionalistas existentes em Varre-Sai e em outras cidades do interior que pertencem a nossa Diocese, que não querem aceitar o Concílio e, por conseguinte, não aceitam o Papa Francisco. É por causa deles que ele (Papa Francisco) colocou na Carta Apostólica esse modo próprio para não ter mais o missal de 1962 praticado sem autorização prévia”.

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