Crítica de cinema: Regra número 1: Diversão
*Felipe Fernandes 28/10/2019 15:53 - Atualizado em 01/11/2019 14:48
Divulgação
(Zumbilândia: Atire duas vezes)
— Lançado no já distante ano de 2009, “Zumbilândia” foi uma das boas surpresas daquele ano. Um road movie que mistura muito humor com violência estilizada em um roteiro ágil, com uma direção certeira, que traz desde seu título o tom daquela narrativa: um país destroçado por um apocalipse zumbi, que se torna o playground de um improvável quarteto, que procura se divertir enquanto sobrevive aos ataques dos comedores de cérebro.
“Zumbilândia: Atire duas vezes” traz de volta o grupo original e mostra um novo momento, como o tempo juntos e o conceito de família naquele contexto moldaram as relações, criando novos conflitos e uma nova jornada.
O grupo agora vive na Casa Branca. Um refúgio que os deixa seguros, e a rotina é o provocador dos conflitos que vão causar a trama toda do filme. Trama esta que é um mero detalhe, funciona quase que como desculpa para tirá-los da zona de conforto, gerando mais piadas e o encontro com novos personagens.
O filme tem uma abertura praticamente idêntica ao longa original, com Columbus atualizando a situação através de suas regras, ao som do Metallica. O filme estabelece esse conceito de família e os problemas que o convívio diário e o tédio podem causar nas relações.
As mudanças ocorrem devido a aspectos pessoais já explorados no filme anterior e pela necessidade da agora jovem Little Rock (Abigail Breslin) de conhecer pessoas de sua idade e ter uma vida próxima de uma normalidade. Todos os personagens de uma certa forma evoluíram, menos Columbus (Jesse Eisenberg), que permanece em sua zona de conforto, sentimento justificado pela obsessão em estar preparado para qualquer situação.
As relações dos personagens são estabelecidas de forma muito rápida. Com poucas cenas entendemos a dinâmica atual, mas a relação de pai e filha entre Tallahasse (Woody Harrelson) e Little Rock carece de um pouco de profundidade. São poucas as cenas dos dois juntos, em um elemento motivador que se mostra fundamental para o desenrolar dos acontecimentos.
O roteiro trabalha uma dinâmica de estabelecer pequenas pistas para o grupo seguir e, entre um caminho e outro, trabalha as relações com o sarcasmo e piadas (algumas bem repetitivas), que vão desde os relacionamentos até piadas com os clichês do gênero.
A química do elenco principal segue afiadíssima; o timing cômico, as piadas. É fácil entender a relação entre eles, a sensação de que eles se conhecem muito bem é real. Muitas das piadas funcionam devido aos atores, e Harrelson rouba a cena em diversos momentos. Os novos personagens funcionam em sua maioria, principalmente as personagens femininas Madison (Zoey Deutch) e Nevada (Rosario Dawson).
O diretor Ruben Fleischer retorna à direção e demonstra a mesma competência do seu trabalho original. Uma direção afiada, com um timing cômico excelente, se permitindo aqui até mesmo um plano sequência interessante, um dos pontos altos do filme.
O grande problema do filme é seu terceiro ato, onde tudo acontece de forma muito apressada, sem justificativas, com personagens surgindo do nada. Algumas atitudes dos personagens que levam ao conflito final soam estúpidas. Aliás, a estupidez é um elemento forte no filme, que joga contra elementos importantes da franquia. Os únicos personagens mais espertos a sobreviverem são o quarteto e Nevada. De resto, só idiotas. A própria comunidade Hippie apresentada no filme é retratada dessa forma.
“Zumbilândia: Atire duas vezes” repete a fórmula do original com competência. O descompromisso da premissa e o humor mantêm o frescor do longa. É a mesma piada contada de uma nova forma, mas que mantém a graça após tanto tempo. Certamente vai agradar aos fãs do original.

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