Garotinho na Justiça e na pesquisa, Marielle e Lilico
11/05/2018 15:39 - Atualizado em 15/05/2018 18:23
Garotinho ensina a Lula e Cabral
Em sua edição de ontem (10), esta coluna observou que diferentemente de vários líderes políticos presos por corrupção, como Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Sérgio Cabral (MDB), o ex-governador Anthony Garotinho (PRP) tem colhido êxitos jurídicos no enfrentamento contra operações que já o levaram a três prisões, como a Chequinho e Caixa d’Água. Nesta última, o político da Lapa conseguiu na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) com que o juiz da 98ª Zona Eleitoral (ZE) de Campos, Ralph Manhães, seja obrigado a ouvir testemunhas de defesa no processo. Na quarta (9), ele já marcou até a data: 16 de maio.
Do “Éden” a Campos
Ralph havia se negado a ouvir as testemunhas de Garotinho, alegando se tratar de iniciativa “protelatória”. Mas foi obrigado a rever sua posição, por determinação da Segunda Turma do STF — conhecida como “Jardim do Éden” por suas decisões favoráveis a políticos, empresários e operadores envolvidos em esquema de corrupção. Um dos seus integrantes, Ricardo Lewandowski estará em Campos no próximo dia 18, para participar do debate “Judicialização da Saúde”, no teatro Trianon. Antes, em decisão monocrática, ele suspendeu o julgamento de Garotinho pela Chequinho do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Combinou com os russos?
Suspender um julgamento de um condenado em primeira instância é uma decisão, no mínimo, estranha. A coisa só fica fácil de ser entendida quando constatado que, sem uma condenação colegiada, Garotinho se livra da Lei da Ficha Limpa e pode concorrer às eleições de outubro. Mas, beneficiado duas vezes por alguns dos ministros mais questionados do STF — na Segunda Turma, além de Lewandowski, estão os insuspeitos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli —, quem conferiu a pesquisa Paraná à corrida pelo Palácio Guanabara, publicada ontem (10) pelo Jornal do Brasil, pode ter ressalvado ao político da Lapa: “mas faltou combinar com os russos”.
“Mas, seu Feola...”
A expressão teve origem na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, quando o técnico brasileiro Vicente Feola explanou aos jogadores uma jogada infalível para o jogo do Brasil com a seleção da extinta União Soviética, que tinha na Rússia sua principal república. Considerado como intelectualmente limitado, mas de grande sabedoria popular, o gênio do futebol Garrincha então perguntou ao treinador: “Mas, seu Feola, o senhor combinou com os russos?”. Depois de Garrincha desmontar o esquema defensivo dos russos no improviso “implanejável” dos seus dribles, o Brasil venceria aquele jogo e os demais, até conquistar a Copa, nossa primeira.
“Russos” do Rio
Os “russos”, no jogo eleitoral da eleição a governador do Rio, são os eleitores. Feita entre 4 e 9 de maio, com 1.850 pessoas em todo o Estado e margem de erro de 2,5 pontos percentuais, a pesquisa Paraná mostrou outro ex-gênio do futebol liderando: o senador Romário (Podemos), com 26,9%. Ele veio seguido do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM), com 14,1%; de Garotinho, 11,6%; e dos deputados federais Indio da Costa (PSD) e Miro Teixeira (Rede), respectivamente com 8,8% e 6,2%. Terceiro colocado nas intenções de voto, o político da Lapa só é insuperável na rejeição: 71,9% do eleitorado fluminense não votariam nele de jeito nenhum.
Impossibilidade
Para se ter uma ideia do que essa imensa rejeição de hoje representa em termos práticos, em 2014, quando naufragou ainda no primeiro turno na sua obsessão em voltar a ser governador, a rejeição de Garotinho era de 48%. Foi registrada em pesquisa Datafolha feita entre 1 e 2 de outubro daquele ano, enquanto o pleito se deu no dia 5. Eleitores são ganhos e perdidos na paixão. Já as eleições são vencidas e perdidas pela matemática. Até porque, não há paixão — ou ministro do STF — capaz de fazer com quem já perdeu com 48% de rejeição, seja capaz de ganhar, quatro anos depois, quando a ojeriza popular à sua figura chegou a 71,9%.
Marielle e Siciliano
Ontem, o ministro da Segurança Raul Jungmann oficializou o que O Globo havia relevado dois dias antes: o vereador carioca Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando de Curicica são investigados como mandantes da execução a tiros da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março. A causa seria a expansão de programas sociais de Marielle em áreas controladas por Siciliano. Ao campista com mais de 35 anos, o crime e seus supostos motivos lembraram outro acontecimento bárbaro: no início de 1997, o vereador Lilico (PMN) apareceu morto a golpes de martelo na cabeça, ao lado da estrada de Travessão.
Lilico e Zezinho
Como o assassinato de Lilico não foi obra de “profissionais” como o PM e o ex-PM suspeitos de atirarem contra Marielle e Anderson, o autor foi logo identificado: fora seu suplente, Zezinho de Travessão, também do PMN. Ele estaria pessoalmente endividado e precisava assumir a vaga na Câmara para pagar seus credores, não necessariamente pelos ganhos republicanos de um vereador em Campos. Segundo revelou à Polícia, Zezinho ficou ainda mais irritado com Lilico, após saber pelo então prefeito Garotinho que este havia oferecido uma vaga na secretaria de Transportes ao vereador. Estimuladas, algumas paixões não têm bom fim.
Charge do dia
José Renato

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