Por isso os textos têm sempre uma perspectiva própria, uma parcialidade que, por mais que se esforce para ser ampla, é sempre tendenciosa para aquilo que foi dito (o que fica de fora lá está por um motivo).
E isso faz do texto, por diversas vezes, um espaço de opressão, pois a narrativa é, quase invariavelmente, uma forma de induzir a interlocução em determinado sentido.
Deixadas de lado, todas as demais narrativas são parte da história - não contada.
E, assim, se diz pelo não dito. Se diz no silêncio da colonização do outro. E o texto se posiciona pelo que deixa de lado, impondo sigilo nas cadeias paradigmáticas capazes de dizer pelo que se excetua ao que é proferido.
Até porque não é preciso desdizer o que não fora dito, guardando apenas o que fica com o registro das arbitrariedades, deixando espaço somente para explicações do que está explicitamente posto, não do que se oculta em ausência.
Ao se contentar com a fragmentariedade das palavras selecionadas, esmaecendo as nuances que foram emudecidas, o autor toma partido da linha em branco, fazendo dela um espaço daquilo que está nas ideias, mas não se declara – qual seria sua razão?
Não saber, porém, pode até ser um privilégio para viver unicamente a superfície do agora, sem os sofrimentos de suas funduras. Por outro lado, forçar o esquecimento é perpetuar, uma vez que as marcas vividas se perdem para reaparecer mais intensamente com outras faces
Na parede da memória, a palavra não dita - falada, porém, no avesso da enunciação que se ausencifica - fala ainda mais alto pela humanidade que passa despercebida.
*Ronaldo Junior tem 26 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Sobre o autor
Ronaldo Junior
[email protected]Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.