José Eduardo Pessanha: Para que lado você vai?
José Eduardo Pessanha - Atualizado em 09/05/2022 09:36
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário
A primeira pergunta que será plenamente entendida ao final do texto é: somente existem dois lados? Estamos em uma situação linear ou imersos em um círculo de possibilidades?
Dias passados observava, atentamente, preocupado, um trio de amigos, em nossa rotina de apreciar um bom boteco, se digladiando em uma ampla discussão. Quem passava ao largo tinha a séria impressão que iriam às “vias de fato”. Em certo momento, um levantou, alterado e...bem, foi ao banheiro. E no retorno, juntou-se aos outros e enveredaram pela mesma cansativa discussão.
Sobre o que dissentiam, com tanta ênfase? Os rumos do governo de nossa Nação, mas precisamente sobre quem poderia e deveria ganhar as próximas eleições presidenciais. O nível da conversa (se assim podemos nomina-la) era de alta diversidade, vezes usando dados oficiais (citam sempre o IBGE, mesmo quando o dado não é dele!), ora usando dados de redes sociais, ora usando, claramente, fake news, mas o mais importante é que ninguém dava espaço para “ouvir o outro”.
O dissenso, em verdade, não era muito equânime, pois, tinha um debatedor radicalmente pró governo, um tendente ao governo e outro de clara oposição (é bem verdade que pela agressividade dos pró governo, muitos presentes preferiram ficar à margem da discussão). Os argumentos permeavam pela estatística, pela relativa razoabilidade ou mesmo pelas paixões. Não é o cerne deste artigo reproduzir argumentos ou posicionar-se quanto a questão, mas o fato é o evento social que se desenvolvia.
Pessoas queridas, amigas, contumazes, que convivem há anos estavam em francos opostos, envolvidos em bravatas e promessas, enaltecendo fatos não comprovados, demonstrando opiniões sem alicerce, ou seja, todos buscando uma justificativa, no mais das vezes frágil, para amparar as teses que expunham.
A se destacar, o fato que a beligerância será o mote desta campanha, em sua quase totalidade incentivada pelo próprio governo, na pessoa do chefe (não há como mencioná-lo como líder, pois algumas observações desde nos cobrem de vergonha), gerando rusgas e atritos que há muito não se viam nas discussões políticas.
Claro, há os que apoiam o atual governo e se dispõem a deixar de lado certas condutas reprováveis, como xenofobia, incentivo a violência, desmonte da cultura, relatividade do respeito às leis, celeumas com outros Poderes, enfim, procedimentos que poderiam ser entendidos como antidemocráticos, para louvar posturas que consideram “atos de coragem”. Estes sempre tem em mente o passado recente (com nome e sobrenome), onde a outra banda se refestelou no Erário, criando “novos ricos” e dilapidando o patrimônio público.
Por outro lado, temos os de “pouca memória”, que veem o País como um aprendiz de ditadura, onde o comandante despreza as mais basilares regras que compões o galardão de um Chefe de Estado. Esses passaram uma borracha nas condutas espúrias e entendem que tudo vale a penas para substituir o atual chefe do Executivo. Será? Esta é a pergunta que o eleitor terá de responder, pois serão 04 anos decorrentes desta escolha e...bem...não é pouco tempo!
Na verdade, se tivéssemos opções a esta disputa diametralmente oposta, certamente seria salutar, pois novas ideias adentrariam ao campo político, trazendo esperanças de posicionamentos mais centrados e razoáveis. Ocorre que já próximo ao início do período eleitoral, o que vemos é uma polarização estrita, onde os “outros”, ao que consta, serão meros coadjuvantes, sem possibilidade de ingressar, seriamente, no jogo político presidencial.
Assim, desvendando a pergunta inicial, temos que nesta eleição, por mais desproporcional que seja, somente teremos, ao que se vislumbra, dois lados. Aos amigos, daquela nem tão sadia discussão de boteco, que quase deixou sequelas na relação, recomendamos prudência, zelo nas informações e, principalmente, tentarem se cercar de Verdades. O que se divulga neste momento, em profusão, são informações deturpadas ou totalmente falsas, visando, seja de um lado ou outro, ludibriar o eleitor. Fique atento, afinal “para que lado você vai”?

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