Guilherme Belido Escreve - Paisagem perdida
16/03/2019 16:27 - Atualizado em 18/03/2019 18:03
A curva da Lapa está entre os locais mais bonitos da cidade, para não dizer o mais bonito.
Num determinado ponto, onde se vê de um lado a tradicional Igreja de Nossa Senhora da Lapa e de outro o Rio Paraíba do Sul – a se revelar majestoso seguindo até onde a vista alcança, – não há outra paisagem de igual beleza. Mas, infelizmente, a imagem que se mostra não é exatamente essa.
Cidades que têm o privilégio de serem cortadas por rio dão ao visual ofertado pela natureza o máximo de aproveitamento, cuidando que no entorno cada metro seja ocupado por estrutura compatível. Geralmente os espaços são usados para gastronomia e lazer – com respeito ao meio ambiente – mas cuidando que tamanha beleza não seja desperdiçada. Afinal, é incompreensível que não se ‘produza’ bem estar em áreas que se manifestam generosa e extraordinariamente aprazíveis.
Frise-se, esse contexto vem ao encontro do que se mostra cada vez mais valorizado em nossos dias: o conceito de espaço aberto, como antídoto ao estresse, contrapondo-se aos ultrapassados ambientes fechados por paredes, que sufocam e impedem a contemplação daquilo que por obra da natureza nos chega como dádiva.
Rios que contam a história de suas cidades
Os exemplos de valorização das margens dos rios são fartos e vão desde algumas das cidades mais famosas do mundo a lugares interioranos e pouco conhecidos.
O Rio Sena figura entre os cartões postais mais festejados de Paris, em cujas margens estão majestosos castelos, monumentos históricos, restaurantes, etc., sendo roteiro obrigatório para turistas. As majestosas pontes que ligam as duas partes da capital francesa são atração à parte.
O que a mão do homem fez erguer nas margens do Tâmisa, em Londres, forma uma das paisagens mais conhecidas e divulgadas do planeta, orgulho do povo inglês. Pubs, galeria de arte, restaurantes e a visitadíssima London Eye. Destaque para a imponente Tower Bridge – a mais famosa das pontes londrinas. Caminhadas a pé e os mini-cruzeiros sobre as águas cinzentas do Tâmisa oferecem paisagem indescritível da terra de sua majestade.
Mas não se tome a comparação com Campos e o nosso Paraíba como desatino. Na pequena Cachoeiro do Itapemirim, no ES, as margens do rio abrigam vários barzinhos, pizzarias, restaurantes, hotel e áreas de lazer. Ressalve-se, Cachoeiro e tantas outras cidades Brasil afora banhadas por rio.
Campos não aproveita a paisagem
Pior que não dar aproveitamento algum ao trecho que se coloca entre o Paraíba e uma igreja de quase 300 anos, é saber que a área já foi bem diferente. Onde hoje é um enorme terreno baldio, funcionou o icônico Restaurante Ururau da Lapa, que marcou época nos anos 80 e 90.
Com dois ambientes e formato panorâmico, tinha vista voltada para o Paraíba, que naquela época não estava ‘tapada’ pelo mato e pelas árvores que hoje impedem a visão. A noite aquele trecho fervia de gente e carros à procura de vagas. Pequenos quiosques funcionavam defronte e tudo era bem iluminado.
Atualmente, o lugar é escuro, quase ermo e ‘receptivo’ a assaltos. As margens do Paraíba – quer por regulamentação do Meio Ambiente ou descaso do poder público – estão encobertas por matagal. E o rio, em si, não recebeu nenhum projeto que pudesse fazê-lo atrativo.
A mais bela paisagem de Campos jaz perdida... sepultada pelas decadentes circunstâncias.

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