Dora Paula Paes
13/05/2017 17:52 - Atualizado em 16/05/2017 12:05
Campos já teve um grande Ceasa que foi fechado / Paulo Pinheiro
Depois de São Francisco de Itabapoana arrecadar mais de R$ 194 milhões em 2015 com agricultura e Campos, no mesmo ano, R$ 62 milhões, o economista José Alves de Azevedo Neto, com base em dados do IBGE, mostra que nos oito anos do governo Rosinha Garotinho, Campos investiu R$ 30,7 milhões na agricultura. No mesmo período, foram R$ 149 milhões em entretenimento e cultura. O economista compara os valores aplicados nos dois setores e afirma que a agricultura perdeu prestígio, no período de 2009 a 2016. Sem petróleo/royalties — cada vez mais escassos —, sem indústrias e sem agricultura forte, uma coisa para ele já é certa: Campos foi um município rico, hoje é pobre”.
Com uma Campos esfacelada economicamente, afundada em dívidas herdadas, o atual prefeito Rafael Diniz ainda acredita no setor agrícola. Seu governo acredita, principalmente, no potencial da agricultura familiar. Para 2017, a pasta conta com um orçamento tímido de R$ 3,7 milhões, quando comparados aos R$ 21 milhões gastos com terceirização de máquinas no ano passado por Rosinha. Sem recursos, a vontade de tornar o setor mais forte, inclusive, leva a atual em junho a elevar a superintendência de Agricultura à categoria de secretária.
— Ao se focar a análise no segmento econômico da agricultura, vocação natural do município, os aportes financeiros restringiram-se, apenas, ao valor de R$ 30,7 milhões. Importa salientar, a secretaria de Agricultura se transformou nos últimos anos numa superintendência, por conta da reforma administrativa realizada pela prefeita (Rosinha), alegando contenção de despesa, em virtude da queda do preço do barril do petróleo no mercado internacional a partir de janeiro de 2015, numa clara demonstração, de enfraquecimento do setor agrícola junto às hostes governamentais — analisa o economista.
José Alves e o superintendente de Agricultura, Nildo Cardoso, defendem que Campos precisa investir na pequena agricultura familiar, na falta de recursos para tornar a cultura canavieira forte como foi no passado. O governo do ex-prefeito Alexandre Mocaiber, até que tentou com o Fundecana. O programa foi sepultado com a eleição de Rosinha. “Foi um erro estratégico. Campos já teve até o Fundecana. Quando se tem dinheiro começa gastar demais e não nos importamos com o que temos, foi o que aconteceu”, disse Alves.
Atenção para agricultura familiar
Se o caminho para aumentar a economia do município pela nova gestão é a agricultura, o economista José Alves pontua: “É preciso repensar a cidade e reeducar as pessoas para uma saída a longo prazo. A curto prazo o jeito é aguentar. Foram 16 anos de muita dependência da prefeitura. Não se ensinou o povo a trabalhar. O caminho é manter no campo quem já está, dando oportunidades. Temos exemplos, no Espírito Santo a agricultura familiar funciona muito bem. Com vontade e renovações na área agrícola acho que se consegue”.
Se depender de vontade e ação, o superintende de Agricultura, Nildo Cardoso, diz que vem trabalho dia e noite desde que assumiu a missão. Nesses primeiros meses, mesmo o município quebrado, sem recursos, o trabalho está sendo realizado.
— Os sete refrigeradores que encontramos parados estamos reativando. Fizemos parceria com o Colégio Agrícola, hoje são 12 alunos formandos ajudando na vacinação contra a febre aftosa, vacina doada pelo município. Estamos reativando o projeto das granjas com o “Mais frago” e ampliando o “Mais ovos”. O último governo gastou R$ 21 milhões/ano com terceirização de maquinário, nós gastamos até agora R$ 70 mil com máquinas e o cadastro de atendimento foi ampliado. Estamos limpando canais com ajuda do Estado. A falta de recurso não está nos paralisando — disse Nildo.
Reativação do Ceasa deve ocorrer, mas com parceria
Um projeto maior do atual governo na área da agricultura é a reestruturação do antigo Ceasa, em Guarus. A intenção é criar um consórcio de municípios produtores do Norte e Noroeste Fluminense, que entrariam como parceiros no projeto. A reestruturação do local também seria um trabalho de organizar a área do Mercado Municipal, que é uma feira de varejo e não de atacado.
— Podem dizer que Campos não tem agricultura para reabrir o Ceasa, mas com o consórcio é possível beneficiar a todos. Inclusive, municípios do Espírito Santo — disse o superintendente de Agricultura.
Segundo Nildo, ainda é preciso pensar na questão da água. “Para uma agricultura forte é preciso primeiro ter água. Então a questão de irrigação para o campo também precisa ser bem estudada e viabilizada”, completou.