Hip Hop resiste em Campos
Jhonattan Reis 22/01/2018 18:33 - Atualizado em 25/01/2018 17:25
Patrimônio cultural imaterial do estado do Rio de Janeiro desde o último dia 10 com a aprovação de uma lei, o hip hop mantém resistência em Campos. Uma das questões que mudam com a medida no estado do Rio é a realização de manifestações culturais ligadas a essa cultura sem regras discriminatórias, passando a ser ilegal qualquer tipo de preconceito contra o gênero. Na planície goitacá, pessoas ligadas à cena do hip hop comentaram sobre o crescimento do movimento na cidade e sobre as expectativas em relação à lei estadual.
— Espero que, com a lei, o hip hop passe a ter maior visibilidade e respeito. Pode ser que tenhamos uma ascensão com isso tudo. Em Campos, a cena conta com vários artistas de qualidade em cada elemento, como na música, na dança e no graffiti. Acredito que o gênero só tem a crescer na cidade, porque a cada dia mais vemos melhores trabalhos sendo feitos aqui — disse o rapper, dançarino de hip hop e ator Jota Z.
Coletivo Lajeband
Coletivo Lajeband / Divulgação
O rapper e estudante de design Sávio Teixeira também falou sobre a lei aprovada no Estado.
— Lei no Brasil é algo que muitas vezes não funciona muito. Mas espero que a cena do hip hop cresça com isso. Espero que a gente futuramente tenha algum suporte, porque a gente faz música e eventos com muita garra e as coisas são difíceis, principalmente no interior, sendo uma das principais dificuldades nossas — comentou ele.
Jota Z ressaltou que o hip hop é um gênero marginalizado.
— Além disso, é composto, em sua maioria, por artistas negros. Então, quando você junta um gênero marginalizado com uma figura marginalizada há muito tempo na sociedade, muita gente não se presta a ouvir. O hip hop tem muito a acrescentar na sociedade, a exemplo dos raps que têm críticas sociais e ajudam a pensar sobre diversas questões — pontuou ele, que também comentou sobre a resistência da cena em Campos.
— A gente espera ter mais apoio com o tempo. Temos grupos de break que ensaiam na rua, rappers que fazem evento embaixo da ponte, DJs que batalham muito na cidade, grupos que realizam eventos de graffiti na raça e assim por diante. Acho que seria importante, inclusive, haver mais discussões sobre o assunto na cidade.
Tanto Jota Z quanto Sávio são membros do grupo de rap The Cria e do coletivo Lajeband, que consiste em uma união de grupos e MCs em prol do rap na cidade.
— O coletivo é formado por várias pessoas da região e encabeçado pelo produtor Henriq Nene, de Grussaí (São João da Barra). Há, no Lajeband, produtores que fazem beats, mixagens e masterizações, vários MCs, pessoas que fazem filmagem, edição de vídeo, pessoas que fazem design e, com isso, a gente vai se ajudando. Nenhum de nós teria dinheiro para pagar todas essas coisas, então, como todo mundo precisa e todo mundo é de periferia, a gente vai produzindo e se ajudando, em nome da cena — explicou Sávio.
Ele ainda relatou sobre a força que o movimento tem em Campos.
— Tem muita gente boa por aqui. Não tem muito público porque acredito que a cidade está muito puxada para o lado de outros ritmos. Mas as pessoas do hip hop aqui estão levando as coisas mais a sério. Acho que tudo isso vai ajudar a melhorar a nossa visibilidade. A cena é bem unida, todo mundo se conhece e acredito que só temos a melhorar. É um movimento bem forte na cidade e em qualidade nossa cena não perde para nenhuma do underground brasileiro.
Lei — A lei que tornou o hip hop patrimônio cultural imaterial do estado do Rio de Janeiro, aprovada no dia 10 de janeiro de 2018, é de autoria dos deputados Marcelo Freixo (PSOL) e Zaqueu Teixeira (PDT).
A medida garante a realização de atividades do ritmo e de suas manifestações artísticas — como o rap, o grafite e os DJs — sem regras discriminatórias, tornando ilegal o preconceito contra o gênero, seja de natureza social, cultural, racial ou administrativa.
Com isso, também fica proibido que eventos dessa manifestação cultural sejam regidos por regras diferentes das aplicadas a outros gêneros e que assuntos relacionados à cultura hip hop devem ser tratadas pela secretaria de Estado de Cultura, que poderá, ainda, abrir edital para apoiar iniciativas ligadas ao tema.

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