Beth Landim: Um amor gratuito
27/04/2020 19:26 - Atualizado em 08/05/2020 21:41
Artigo cita amor pelos animais para abordar também as relações pessoais
Artigo cita amor pelos animais para abordar também as relações pessoais / Divulgação
Os animais têm suas singularidades.. Porém, a pureza e o amor gratuitos são excepcionalmente desafiadores para nós, humanos. Desde pequena tenho cachorros. Adoro, mas tenho uma paixão arrebatadora por cavalos. Já tive uma cachorrinha pequinês — uma raça, penso eu, quase em extinção — chamada Kika. Tive também um cocker spainel, Free Willy, além de alguns adotados. Hoje, temos Nick, Princesa, Lobinho, Athena e meus dois amores, Bob (buldogue francês) e Chanel (fila brasileiro).
Nossa, é impressionante: para onde eu vou dentro de casa, Bob está junto. Se estou triste, ele percebe. Se estou bem, ele percebe. Conversamos pelo olhar. Sabe aquela fidelidade? “Estou aqui com você!” E quando chego à casa, do trabalho, parece que ele não me vê há séculos, de tantos pulos e da festa que me faz.
Chanel é um amor, um chamego. Enorme, do tamanho do coração. Hoje, ela mora na fazenda por ser um local mais apropriado para ela. Aqui teria pouco espaço, e não podemos ser egoístas a este ponto. Mas, todos os fins de semana, quando chego, ela pula em cima de mim, num abraço apertado que diz tudo. Me lambe toda, caminha ao meu lado... Se estou na rede, fica ali, junto, no silêncio do amor. E aí, rolamos na grama e sinto seu amor genuíno. Tenho certeza de que eles (Bob e Chanel, mais particularmente) também sentem o mesmo! E isso me remete a um aprendizado constante: o amor gratuito. Amamos o outro não pelo sexo, pelo dinheiro, pela beleza ou pelo status. O amor genuíno “simplesmente é”... Ele é sentido à distância: o coração presente, reconhece e conhece sua chegada. E como é lindo! Simplesmente amar, querer, rezar e ver o outro feliz.
Sou uma pessoa que ama a natureza e as coisas rurais. Me encanto em apreciar o canto dos passarinhos, o silêncio da mata verde que nos enche de esperança, o tilintar das águas dos rios e riachos, o ar puro... "Entre todos os mugidos do gado e o cheiro do capim, nasce a lua cheia", nos fala de forma pitoresca Paulo Franchetti. E então, apreciar a lua, o entardecer, a fogueira a iluminar o céu junto às estrelas, o fogão a lenha fumegando aquele café quentinho com banana cozida e bolo, nos faz experimentar também o amor genuíno de Deus, que nos proporciona toda essa natureza ao nosso dispor. Óbvio que temos que cuidar! Assim como os animais cuidam de nós, nós cuidamos deles e temos esse legado com a natureza.
Um cachorro que me marcou muito foi Marley, mas sua mãe era Rafaela. E que amor eu pude presenciar... As conversas deles na garagem, a escuta sempre sincera de Marley para com Rafaela, a fidelidade dele em segui-la por onde fosse, mesmo que fosse para dar voltas no mesmo lugar. Eles eram “anjos” um para o outro! E quando eu não estava em casa, soube bem depois que os dois nadavam muito na piscina. A cumplicidade de Marley e Rafaela, sua intimidade de vida, seu abraço era indescritível... E quando Marley se foi, fizemos de tudo. Mais do que isso, Rafaela fez de TUDO. Foi muito difícil. Almas gêmeas. É o amor que fica. Plantamos e colhemos... Vivenciamos e guardamos em nossas almas esses registros amorosos indeléveis que nos sustentam a caminhada. Hoje, ele está lá, retratado em uma pintura, num lugar especial na casa dela, porém em seu coração: nem se fala. E até hoje eles continuam a conversar. Ela conta sua alegrias, seus desafios, suas tristezas, e seu olhar sempre atento na tela acolhe e acompanha silenciosamente seu coração, inspirando amor...
Assim também acontece conosco. Às vezes, por impossibilidades da vida, não podemos estar todo tempo, ou por algum tempo, ou naquele momento da vida, com quem amamos. Mas estamos! Porque o amor genuíno inspira, fala silenciosamente ao nosso coração, reza em silêncio sem os holofotes dos palcos da vida. E, mais do que nunca, o mundo está ressignificando seus valores e sentimentos. O amor genuíno será um deles. O amor sempre vence!
Voltando então aos animais: os cavalos fazem parte da nossa cultura desde os nossos antepassados/ Bucephalus era um garanhão negro que foi comprado para a Macedônia, em 346 a.C., e apresentado ao Rei Filipe II. O cavalo foi criado de forma selvagem e considerado incontrolável. O filho do Rei persuadiu seu pai a deixá-lo treinar e domar o animal. Ele era Alexandre, o Grande. Alexandre percebeu que Bucephalus tinha medo de sua própria sombra, então encarou o cavalo em direção ao sol e o montou sem problemas. Isto foi considerado uma guinada na vida do jovem Alexandre. Ele, então, cavalgou Bucephalus em todas as suas batalhas. Um era pelo outro. E é isso que muitas vezes nos acontece... Temos medo das nossas próprias sombras e precisamos da mão do outro para nos conduzir ao caminho do sol, da luz... Sozinhos, não temos coragem para enfrentar grandes desafios. Mas, quando estamos juntos, mesmo que em pensamento, em SINTONIA, somos fortes, e a intimidade e a cumplicidade se fazem presentes em qualquer situação e distância.
Volto para as minhas duas paixões no quesito cavalo: Astral e Cristal!. Astral foi um manga-larga marchador, branco, branco, branco, bondoso, lindoooo... Tínhamos total conexão. Educado, inteligente, um lord. Quando o adquiri, ele já era um cavalo adulto. Tenho até hoje um de seus cascos, na minha mesa da sala da fazenda, e ele presente em meu coração. Cristal já chegou para mim bem mais novo. Arisco no início, mas nosso amor foi à primeira vista. Me lembro muito bem do dia que o ganhei. E logo nos primeiros toques estabelecemos a nossa conexão. Eu e Cristal cavalgamos muito, com a brisa soprando em nossos rostos, sua crina ao vento, pois na maioria das vezes ele quer começar a correr logo. Aí acertamos o passo, e a conversa se desenrola no nosso compasso. Ele é meu confessor, meu conselheiro, meu amigo, que me proporciona momentos de intensa liberdade, de descortinar meu coração para a natureza. É impressionante como o acaricio no rosto e no pescoço, dou banho (todas as vezes que terminamos de cavalgar, para soltar o cavalo, temos que dar um banho)... E sinto seu olhar de reconhecimento e amor.
Quando abraçamos os animais, ou a pessoa quem amamos, parece que nos reiniciamos por dentro. E é isso que estamos precisando fazer: REINICIAR nosso HD, nosso coração, nossos sentimentos. Ter olhos para ver e sentir o amor genuíno que nos rodeia. Assim são os animais em nossas vidas: anjos da guarda. Pois o amor é um altar secreto onde se reza em silêncio, e este amor é insubstituível, apesar de invisível, mas é puro e genuíno, como nos diz com tanta propriedade Exupèry: “O essencial é invisível aos olhos”. E o nosso amor verdadeiro é essencial e tem que ser vivido, não importam as circunstâncias em que nos encontramos. Que possamos, então, nos contagiar com os bons exemplos de amor dos animais e vivenciar o amor genuíno, plenos de liberdade interior.

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