Autoteste de HIV é liberado pela Anvisa
Marcus Pinheiro 03/07/2017 21:07 - Atualizado em 04/07/2017 09:52
Chegaram nesta segunda-feira os primeiros lotes do autoteste para a triagem do HIV, o vírus causador da Aids, nas farmácias e drogarias do Rio de Janeiro. O dispositivo de teste que, segundo o fabricante, deverá custar entre R$ 60 e R$ 70, obteve a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercialização no país, no último dia 15 de maio. O autoteste será capaz de indicar a presença do HIV 30 dias após a exposição, com grau de confiabilidade de 99,9%, e resultado que leva de 15 a 20 minutos. No entanto, especialistas em prevenção e combate a doença demonstram preocupação com a liberação do novo dispositivo no mercado farmacêutico. Segundo eles, a população carece de maiores informações.
De acordo com a fundadora da Associação Irmãos da Solidariedade, Fátima Castro – que há 30 anos assiste portadores do vírus HIV – alguns pontos e esclarecimentos têm que ser levados em conta antes da realização de um autoteste de Aids. “O que vai aparecer de pessoas que se relacionaram sem os cuidados há uma semana, por exemplo, querendo fazer o teste, não vai ser brincadeira. Muita gente ainda desconhece o tempo da ‘janela imunológica’, que é o intervalo de tempo decorrido entre a infecção pelo HIV até a primeira detecção de anticorpos anti-HIV produzidos pelo sistema de defesa do organismo, neste caso, de no mínimo 30 dias”, afirmou Fátima.
— Se um teste para detecção de anticorpos anti-HIV é realizado durante o período da janela imunológica, há a possibilidade de gerar um resultado não reagente. Desta forma recomenda-se que, nos casos de testes com resultados não reagentes em que permaneça a suspeita de infecção pelo HIV, a testagem seja repetida após 30 dias com a coleta de uma nova amostra — acrescentou a presidente da Associação Irmãos da Solidariedade.
Ainda segundo Fátima, existe outro fator muito sério na questão do autoteste de Aids: o psicológico. “Para muitos isso é uma sentença de morte. Não se entrega um resultado desse sem acompanhamento de um profissional especializado, porque ninguém sabe como a pessoa se comportará a partir daquele exame”, finalizou.
Em nota, a Anvisa informou que apenas concede o registro do produto, quando há a comprovação de eficácia e segurança. No entanto, afirmou que questões sobre a política e uso do produto podem ser esclarecidas junto ao departamento DST/AIDS do Ministério da Saúde do Governo Federal.
O coordenador de Programas Especiais da Prefeitura de Campos, Alexandre Sereno, informa que, apesar de fazer parte da Política Nacional de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do DST/Aids e Hepatites Virais, não houve a participação dos municípios para discutir o assunto. A maioria dos estados não aderiu ao autoteste. Ele esclarece que o município não possui qualquer gerência sobre o autoteste.
O autoteste não substitui o atendimento realizado no Centro de Doenças Infecciosas e Parasitárias (CDIP) e o programa está à disposição para esclarecer dúvidas da população e de profissionais. “A intenção não é vender o teste para que as pessoas não procurem o serviço de saúde. Na verdade, é para atender as pessoas que não querem ir ao posto de saúde fazer o exame. É um teste igual ao de gravidez”, explica Sereno, ressaltando que o autoteste não será acessível a todos, devido ao custo.
A reportagem da Folha tentou contato com o ministério da Saúde durante toda a tarde dessa segunda-feira. No entanto, até o fechamento desta matéria, nenhum retorno foi obtido.

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