Carlos Valpassos dá nota 7 para o início do governo Wladimir
Folha1 20/01/2021 08:17 - Atualizado em 20/01/2021 19:16
Entrevistado nesta quarta-feira (20) no Folha no Ar - 1ª edição, da Folha FM 98,3,o antropólogo Carlos Abraão Moura Valpassos, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos, avaliou com nota 7 o início do governo municipal de Wladimir Garotinho (PSD): "Passar, passa, mas a alegria não desperta", declarou. Elogioso aos nomes escolhidos por Wladimir para chefiar secretarias importantes da gestão, Valpassos fez uma ressalva para determinadas movimentações do prefeito, especialmente no setor econômico, demonstrando preocupação a respeito de possível tomada de empréstimos.
— Eu tenho muitas dúvidas para pautar. Quando eu penso nos nomes do secretariado, me vem uma tranquilidade, porque teve uma preocupação, por exemplo, com o secretário de Saúde, em pegar alguém qualificado. Você tem vários nomes ali que são. O de Educação também é um profissional qualificado. Isso parece um sinal de boa intenção, um prospecto razoável, um prospecto positivo — disse Carlos Valpassos. — Só que a grande questão que me trava um pouco é: até que ponto vai haver condição de trabalho para esses profissionais? Em 20 dias, nem eles sabem exatamente quais as condições de trabalho, porque eles não tiveram ainda, provavelmente, nenhuma celeuma. Não teve nenhuma discussão sobre recurso drástica. Então, até que ponto eles vão de fato gerir? — indagou.

Segundo Carlos Valpassos, os 20 dias até agora do governo Wladimir não foram suficientes para uma avaliação mais profunda sobre o seu trabalho.
— A gente tem um tempo que é relativamente curto para pensar, e por isso demanda algum cuidado nas afirmações. Mas, é um tempo curto, porém relativo, porque a gente está falando de uma continuidade, de um ciclo político já antigo. Temos 20 dias de Wladimir, mas temos alguns governos da família Garotinho. Embora Wladimir não seja o pai nem a mãe, seja outra figura, ele traz consigo uma bagagem, um peso, e foi esse peso, inclusive, que o colocou como prefeito. A força política dele vem, em grande parte, da família, do histórico familiar que ele possui — disse o antropólogo.
Na opinião de Valpassos,gera preocupação a rápida decisão de Wladimir em decretar estado de calamidade pública no município, o que foi feito no último dia 7.
— Rapidamente ele pronunciou dando razão ao seu adversário político (o ex-prefeito Rafael Diniz) e indo além, porque o adversário político, que perdeu nas urnas, não decretou estado de calamidade nos últimos quatro anos. É claro que isso é uma estratégia. Provavelmente, ele deve estar pensando nos benefícios e nas possibilidades abertas por esse tipo de decreto. No entanto, vale se pensar se isso vai ser tomado como uma oportunidade ou não. O que vai ser feito a partir disso? Isso é o que me preocupa. E rapidamente voltou ao horizonte das conversa, das declarações e etc, a noção de que é possível pegar empréstimos, é possível comprometer certa parte da renda. Os gastos com folha são muito altos, então a gente teria que conseguir verbas para isso — afirmou Valpassos. —As urgências da cidade estão aí. Então, é um período preocupante, vide a situação dos servidores públicos, vide o pagamento dos RPA's e todos os outros que dependem dos recursos da Prefeitura — enfatizou.
No entendimento do antropólogo, o cenário atual é marcado por incertezas.
— Você soma a dificuldade de um governo que está entrando com uma geração de renda que vai ser lenta e um contexto pandêmico, que não tende a se resolver nos próximos meses, e você vai ter um cenário muito incerto para Campos, por mais que iniciativas sejam tomadas e etc. A gente viu um discurso, até agora, relativo a cortes de funções. E, no entanto, já começa a haver uma discussão se esses cortes estão de fato ocorrendo ou se você está tendo cortes para colocar outras funções. Então, até o momento, a gente não teve como avaliar a perspectiva de médio prazo. E eu acho que, num curto prazo, já é um tanto arriscado bater uma sentença com 20 dias, embora seja preocupante o discurso dos empréstimos e etc — ressaltou.
Carlos Valpassos citou ainda a estratégia adotada pelo governo Wladimir de destacar excessivamente as dificuldades no período de transição, o que pode ser visto como algo negativo pela população:
— O governo do Wladimir esperar uma situação de céu de brigadeiros em janeiro de 2021, isso não é uma verdade. Eles sabiam onde estavam entrando e sabiam mais ou menos qual seria a situação, os desafios de pagamento de folha, de arrecadação, todas as questões já estavam dadas. Então, simplesmente culpar a transição não é suficiente. E foi uma das críticas mais repetidas pela população em geral a Rafael Diniz depois de alguns meses de governo: que tudo era jogado na conta da gestão anterior. O Wladimir, agora, tem que se preocupar para não repetir esse mesmo erro.
Confira a entrevista:

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