Sem samba não dá: Dia Nacional da Cultura com tristeza em todos os aspectos
05/11/2021 | 09h26
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Sem samba não dá: Dia Nacional da Cultura com tristeza em todos os aspectos
Morte precoce da artista Marília Mendonça no Dia Nacional da Cultura entristece o país.
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O Dia Nacional da Cultura, 5 de novembro, não será comemorado neste 2021. Por diversos motivos e por uma tragédia: a cantora Marília Mendonça morreu nesta sexta-feira em um acidente de avião (Folha1). A cantora, que tinha 26 anos de idade, viajava para realizar shows e estava com seu assessor e tio, Abicieli Silveira, com o produtor, Henrique Ribeiro e com o piloto e o co-piloto da aeronave de Taxi Aéreo. Todos morreram. A cultura brasileira perde uma de suas principais interpretes. 
Arte e cultura não cabem em definições simples. São expressões humanas complexas e sofisticadas que não cabem em conceituações limitantes; ou meros gostos pessoais. Entre seus aspectos tangíveis e intangíveis, a cultura representa as características de uma sociedade, o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos que constroem as relações humanas. O Brasil é um país de cultura exuberante, advinda de sua miscigenação, diversidade e intelectualidade.
A artista Marília Mendonça deu voz a milhões de pessoas, colocou a mulher como protagonista em suas canções, provocou a quebra de paradigmas mercadológicas da indústria da música, rompeu com padrões e tinha uma enorme brasilidade. Esta cantada em prosa e verso por Caetano Veloso no álbum “Meu coco”, lançado no último dia 21 de outubro. No trabalho, a música “Sem samba não dá” cita Marília Mendonça:
"Olho pro Cristo ali no Corcovado
E, em silêncio, grito "Êpa babá!"
Tudo esquisito, tudo muito errado
Mas a gente chega lá
Tem muito atrito, treta, tem muamba
Mas tem sertanejo, trap, pagodão
Anavitória, doce beijo d'onça
Maravília Mendonça, afinação”
O samba é usado como sinônimo de Brasil no mundo, muitas vezes de forma caricata, mas em sua maioria como o ritmo que — de fato — melhor representa o país. Por que o “samba nasceu lá na Bahia”, como cantou Vinicius, lembrando a sua origem ainda século 19. Vindo da mistura de ritmos africanos, desenvolveu-se no Rio de Janeiro alguns anos depois, mas nasce nas rodas de dança dos negros escravizados. Antes de qualquer definição, o samba é arte e cultura.
Sem samba, não dá. Mesmo em sua “renovação” pela Bossa Nova, reconhecida mundialmente por sua qualidade, e construída na Zona Sul carioca dos anos 1950 com forte influencia do Jazz — este vindo de Nova Orleans, cidade da Luisiana nos Estados Unidos —, o samba mantinha sua brasilidade.
Criado em homenagem a Rui Barbosa — jurista, jornalista, político e diplomata — nascido em 5 de novembro de 1849, o Dia Nacional da Cultura deve ser sempre lembrado por todo esse cenário artístico e cultural, talvez único no mundo. Mas as tragédias como a de Marília Mendonça nos mostram que parte de nossa brasilidade se perde em escombros; sejam por acidentes ou por descaminhos políticos.
Não há o que comemorar hoje, mas há muita cultura para nos fazer esperançar em dias melhores, e governos melhores que saibam a importância de arte e cultura para uma nação. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, mas "sem samba, não dá". 
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Sobre o autor

Edmundo Siqueira

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