Elas querem respeito
10/11/2019 | 10h17
Para encerrar uma série de artigos sobre violência contra mulheres, a ideia hoje é mostrar que mesmo existindo previsão legal para um atendimento especializado a essas vítimas, tanto Estado quanto Município tem sido negligentes. Enquanto o Estado deixa a DEAM em situação longe da ideal para atendimento ao público, o Município não tem política pública direcionada a essas vítimas. A situação é tão grave que no final de 2018 tanto Estado quanto Município foram condenados em ação civil pública a implantarem um Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM).
Como citado na semana passada, a DEAM (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) em Campos não tem uma estrutura física adequada, nem um corpo de servidores treinados para um atendimento especializado. Segundo a legislação, o primeiro atendimento às mulheres vítimas de violência deve ser feito preferencialmente por policiais especializadas do sexo feminino, o que não ocorre na DEAM em Campos, onde grande parte do atendimento é feito por policiais do sexo masculino e a maioria sem treinamento especializado.
Além disso, não há no município um local com psicólogas, assistentes sociais e advogadas que possibilite um primeiro atendimento adequado às vítimas. Atualmente são atendidas no CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social), que oferece atendimento à toda população do município.
Em razão desse quadro o Ministério Público impetrou a Ação Civil Pública contra o Estado e o Município, mas isso com certeza não será suficiente. Medidas como a inclusão do tema no escopo da educação básica para evitar a perpetuação da violência de gênero, a criação de casas de acolhimento para vítimas e seus dependentes e a realização de campanhas de esclarecimento junto à população, com certeza teriam como resultado a diminuição de casos de violência contra as mulheres.
Mas mesmo sendo mais da metade do eleitorado, parece que a segurança e proteção das mulheres não é prioridade para muitos políticos. Seja por falta de vontade ou prioridades diferentes, o tratamento às mulheres vítimas de violência tem deixado muito a desejar em nossa cidade. Isso só irá mudar quando as eleitoras mostrarem nas urnas o que acontece com quem não as coloca entre suas prioridades. Porque elas não querem apenas ajuda, querem ser respeitadas como cidadãs.
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Sobre o autor

Roberto Uchôa

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