Em apenas um semestre, foram promulgados e, diante das críticas, revogados, para depois serem promulgados novamente, nada menos que sete decretos presidenciais, numa tentativa insólita de modificar a legislação. Uma lei que foi discutida pela sociedade, aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República estava sendo derrubada através de uma simples decisão presidencial, o que contrariava todo o ordenamento jurídico brasileiro. No sistema presidencialista de um regime democrático como o nosso, quando o poder Executivo deseja revogar uma lei vigente, ele envia um projeto de lei para o Congresso e lá mobiliza seus congressistas para aprovar a medida. A função de um decreto é somente regulamentar a lei.
Criou-se assim um quadro de grande insegurança jurídica. Novas regras que passavam a ter validade imediata eram contestadas judicialmente e no Congresso Nacional. Problemas na redação dos decretos também contribuíam para criar mais dúvidas do que solucionar as existentes, e isso acabou por forçar o presidente a desistir da edição consecutiva de decretos presidenciais sobre o tema. Assim o poder Executivo passou a defender a aprovação de um projeto de lei para modificar a lei 10.826/03 e assim acabar com essa insegurança trazida pela sucessão de decretos. Tal projeto já está em análise no Congresso Nacional.
Mas muitas mudanças trazidas pelos decretos continuam em vigor, e isso teve impactos reais no mercado legal de armas de fogo no país. Segundo dados obtidos via Lei de acesso a informação, de janeiro a novembro de 2019 somente a Polícia Federal concedeu 44.181 autorizações para aquisição de armas de fogo em todo o país. Uma alta de 24% em relação a todo o ano de 2018. Parece que a aposta da indústria armamentista nacional foi certeira, pois mesmo diante de tantas idas e vindas, o que importava era o aumento das vendas e isso ocorreu. Resta saber o impacto que esse aumento de armas de fogo em circulação terá na sociedade.