Cinema - Elvis e o coronel
Matheus Berriel - Atualizado em 10/08/2022 08:54
Cena do filme 'Elvis'
Cena do filme 'Elvis' / Divulgação
Elvis Presley é uma daquelas figuras emblemáticas, que mesmo que você não conheça muito de sua história, reconhece seu estilo, seu visual e sua voz. Está no imaginário popular de muita gente e levado pelas bem-sucedidas cinebiografias musicais que vêm tomando os cinemas nos últimos anos. Agora, o intitulado rei do rock ganha um filme para narrar sua história que, diferente das outras produções recentes, é comandado pelo diretor Baz Luhrmann, um artista que fez sua carreira no gênero dos musicais.
“Elvis” é escrito pelo próprio diretor em parceria com Sam Bromell e Craig Pearce (dois de seus parceiros habituais). O trio adota duas posturas curiosas: primeiro, a de tentar contar toda a vida do personagem, sem usar um recorte específica; e segundo, a mais espantosa é a de narrar sua história através do ponto de vista do controverso coronel Tom Parker (Tom Hanks), o empresário que fez a carreira de Elvis e apontado por muitos como o responsável pelo fim prematuro do astro.
Essa é uma decisão que permite uma série de liberdades criativas, já que, ao trazer o ponto de vista do vilão da trama, eles estabelecem que nem toda informação ali é totalmente confiável, como ainda correm o risco de humanizar demais a figura desagradável do coronel. Porém, essa decisão vai perdendo força com o desenrolar da trama, com Elvis (Austin Butler) assumindo esse protagonismo, mesmo que o filme nunca apresente o personagem na intimidade.
O filme tem um ritmo frenético, que dialoga bem com o estilo musical da obra e do personagem-título, desde sua introdução, com transições inspiradas, inserindo flashbacks, com montagens dinâmicas de shows e algumas cenas que funcionam como recortes para passagem de tempo, que pecam pelo exagero e por um CGI terrível, que realmente tiram o espectador do filme. Ém recurso problemático que acontece em diferentes momentos do longa.
Esteticamente, o estilo de Elvis e o cinema de Luhrmann se combinam perfeitamente. Seja nos exageros das cores, do brilho, o diretor cria um verdadeiro espetáculo visual, principalmente na reprodução dos shows. Esse contraste entre os momentos dramáticos e os momentos musicais (quase sempre sobre o palco) são poderosos em definir a própria relação conflituosa do protagonista entre sua vida privada e sobre seus momentos nos palcos.
Trabalhando a relação do fanatismo dos fãs com a necessidade de adoração de Elvis, o longa ainda busca modernizar a história ao reforçar a relação de Elvis com a música negra, uma influência real e inquestionável, mas que não foi tão próxima quanto o longa faz parecer, principalmente ao trazer para a narrativa músicas atuais, uma decisão que não encontra justificativa na narrativa.
A verdadeira força de “Elvis” está na atuação de Austin Butler. O ator encarna o cantor de uma maneira impressionante. Seja no estilo inconfundível sobre o palco, em seus trejeitos, seu jeito de dançar ou na reprodução da voz, Butler tem uma daquelas atuações que definem carreiras. Já Tom Hanks interpreta um personagem que basicamente é uma caricatura de antagonista. Se utilizando de uma forte maquiagem e um sotaque estranho, o ator é bem-sucedido na construção de um personagem bem desagradável.
Com uma longa duração, a cinebiografia faz juz ao astro, mesmo que nunca se aprofunde na sua persona. Um longa intenso, vibrante, exagerado, que consegue contar grande parte da história de Elvis a partir da sua relação com seu empresário e, principalmente, sua relação com a música e com o seu público, um dos principais elementos quando pensamos em Elvis Presley.

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