Cinema - Só os Estados Unidos salvam o mundo
Matheus Berriel - Atualizado em 03/08/2022 08:38
Cena do filme 'Reptilicus'
Cena do filme 'Reptilicus' / Divulgação
Sabe-se que uma lagartixa pode regenerar sua cauda quando ela é perdida. Mas não se sabe de cauda que regenera lagartixa perdida. Estamos diante de um dos mais fantásticos fenômenos da natureza em “Reptilicus”, filme dinamarquês-americano de 1961, com direção de Poul Bang e Sidney W. Pink. Primeiramente, é fenomenal que um filme tenha uma versão dinamarquesa e outra norte-americana. Bang dirigiu a versão dinamarquesa, e Pink se incumbiu da versão estadunidense. Os artistas são os mesmos, com exceção de Bodil Miller como Connie Miller na versão dinamarquesa, substituída por Marla Behrens na versão americana, porque Bodil não falava bem o inglês. Aliás, o inglês de todos os artistas é carregado.
O grande fenômeno começa a se manifestar quando o supervisor de uma prospecção mineradora na Lapônia encontra tecidos e sangue na perfuradora. Uma cauda animal é encontrada e enviada a Copenhague para análise. Trata-se da cauda de um réptil da era dos dinossauros. Mas não um simples réptil. Trata-se de um animal resultante do cruzamento de réptil e mamífero. A cauda é mantida em sala refrigerada, mas, por descuido, alguém esquece a porta aberta, e o fragmento do corpo descongela. A cauda ressuscita e reconstitui o animal. Talvez a eletricidade de uma tempestade tenha contribuído para a revitalização, como aconteceu com o monstro do Dr. Frankenstein.
Posicionam-se, então, os tipos estereotipados. O professor típico usando gravata borboleta. Sua filha, uma mocinha nórdica à moda dos anos 1960. A cientista norte-americana que surpreende o professor pela sua beleza. É o momento do galanteio. Como pode uma cientista ser, ao mesmo tempo, uma bela mulher? Um traço machista da sociedade da época. Um general norte-americano arrogante, herói na Segunda Guerra Mundial, agora numa missão menor e detestando a Dinamarca. Um zelador mentalmente limitado. E o passeio do general por Copenhague, de um militar dinamarquês subalterno e da bela cientista. As ruas, as estátuas, os prédios e a noite na boate Tivole ao som de uma cantora. Algo bem ao estilo norte-americano de mostrar as belezas típicas de um lugar diferente e exótico.
Findo o passeio turístico, o general assume o comando da operação para matar Reptilicus, animal híbrido com o corpo coberto de escamas e impenetrável a projéteis do mais alto calibre, além de expelir pela boca um mortal ácido verde. Só o exército é insuficiente. Torna-se necessário mobilizar marinha e aeronáutica. Tudo sob comando do general, o que dá bem a ideia ainda hoje vigente de que os Estados Unidos salvam o mundo das maiores ameaças. Mas o arrogante general encontra a resistência do velho professor. Violência contra ciência, conflito muito presente no mundo atual.
Mas é o general que, num ato de heroísmo e com a ajuda das mulheres, consegue vencer o monstro. Será? Num ataque naval ao monstro, uma de suas patas é separada do corpo. Ela aparece se movimentando no fim do filme. É um gancho para haver uma sequência, que não houve.
Em cores, o filme é bonito, mas o monstro não é muito convincente em relação à tecnologia. Já havia animais gigantescos animados por stop motion. Parece que várias cenas de prédios destruídos são imagens de arquivo, pois a computação gráfica ainda não existia. É grande o número de figurantes. Ao todo, o filme custou 100 mil dólares.

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