Referência em Atafona e ameaçada pelo mar, casa de Sônia Ferreira será demolida
Arnaldo Neto - Atualizado em 21/05/2022 08:28
Residência foi construída nos anos 1980 e era vizinha ao antigo prédio do Julinho
Residência foi construída nos anos 1980 e era vizinha ao antigo prédio do Julinho / Rodrigo Silveira
Atafona perde mais uma referência para o mar. A casa de Sônia Ferreira, vizinha ao antigo prédio do Julinho, começará a ser desmontada e demolida neste sábado (21), antes que o processo seja feito pela força do oceano. Testemunha há décadas do processo de erosão costeira e ainda esperançosa de que alguma intervenção possa ser feita para contê-lo no litoral sanjoanense, Sônia tomou a decisão de demolir o imóvel por acreditar que será menos doloroso do que ver o mar levar pedaço por pedaço da residência, como vem ocorrendo com o seu muro desde 2019. Os entulhos vão ficar, assim como as ruínas do Julinho, que ela vê preservando outra parte do seu terreno, no qual continuará morando. Também neste sábado, um evento será realizado no local, o “Memória em Moinho”, das 19h às 21h, numa espécie de despedida. Promovido pelo Casa Duna, contará com filmes e fotos relacionados à praia.
A residência da filha do ex-deputado federal Alair Ferreira (1920-1987) sempre foi referência entre as grandes casas já construídas na praia sanjoanense. Além disso, por anos foi palco da famosa festa de Carnaval “Atafolia”, entre outros eventos. Sônia construiu sua casa nos 1980 e, àquela época, era distante do mar. Antes mesmo de construir sua residência, veraneava na casa da sogra, que fica ao lado. Conheceu o “seu Julinho” e viu o prédio ser erguido. Anos mais tarde, viu a área ser isolada pelo risco de desabamento, com a intensa movimentação da imprensa e dos curiosos, até o prédio desabar.
Mar avança em Atafona e impõe a derrubada de mais um imóvel
Mar avança em Atafona e impõe a derrubada de mais um imóvel / Rodrigo Silveira
Viu a queda do prédio do Julinho, em 2008, da sacada da sua casa. Levou 11 anos para que o mar levasse um pedaço muro da sua residência. Era o limite, em um acordo com os filhos, para deixar a casa. Contudo, Sônia não quis sair do local, reformou um imóvel menor, no mesmo terreno, mais distante do mar, e passou a residir ali. Não pensava em demolir a sua antiga residência, na qual tem grandes recordações, de uma vida, do convívio com a família. Mas, devido à velocidade com a qual o mar tem avançado nos últimos meses, não vê outra solução:
— Infelizmente, chegou o momento. O tapume (que foi colocado quando o muro começou a cair) já encostou na casa. A partir de amanhã (sábado) já vai começar a tirar tudo o que é possível aproveitar e depois vai demolir. A gente fica muito triste com isso, são muitas lembranças, mas acho que eu ia sofrer mais vendo o mar levando cada pedaço e eu sem poder fazer mais nada.
Com os entulhos da antiga casa, espera proteger a parte do terreno na qual continuará a viver. Ela vê no dia a dia que o processo de erosão é mais severo na parte do seu imóvel que não está protegido pelos entulhos do Julinho. Até mesmo por isso mantém a esperança de uma obra de contenção, mas sabe da morosidade do processo.
Tapumes foram colocados em 2019, quando o muro começou a cair
Tapumes foram colocados em 2019, quando o muro começou a cair / Rodrigo Silveira
SJB tem pelo menos três projetos de contenção do avanço do mar, que desde os anos 1950 já levou centenas de casas e dezenas de ruas de Atafona. Porém, nenhum deles avançou. A Prefeitura de SJB, em outras oportunidades, sempre informou que a intervenção ainda precisa de aval ambiental e recursos oriundos das demais esferas administrativas (estadual e federal).
Evento — Antes de a casa ser, de fato, demolida, o Casa Duna (Centro de arte, pesquisa e memória de Atafona) vai realizar o “Memória em Moinho”, que, entre outras atrações, contará com a exibição dos filmes “Mar concreto” e “Museu Ambulante”, ambos tendo a praia como temática, a partir das 19h deste sábado.
Matéria na página 8 da edição deste sábado da Folha da Manhã
Matéria na página 8 da edição deste sábado da Folha da Manhã / Reprodução
 

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