José Eduardo Pessanha: Ser pai
José Eduardo Pessanha 12/08/2022 17:43 - Atualizado em 12/08/2022 20:19
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário

Dias atrás, em mais uma das nossas intermináveis resenhas de boteco, agora no “bar do gelo”, trouxemos à baila o seguinte questionamento: “ser pai” nos dias atuais é mais difícil ou fácil em relação ao passado, notadamente na época dos atuais cinquentões?
Bem, como toda proposição de nosso heterogêneo grupo, logo começaram as divergências. Boa parte argumentou que, no passado, ser pai era mais simples: o pai, normalmente provedor da família, fixava limites, traçava fronteiras, erguia barreiras, norteando o crescimento dos filhos pelo conhecimento que possuía (muito ou pouco), logo estes, no mais das vezes “espelhavam” o pai (ou pais), até porque não possuíam acesso a outras possibilidades. Quando os filhos ultrapassavam as linhas divisórias, eram, imediatamente, “disciplinados”, na forma arcaica, ou seja, pela força, invariavelmente sem uma explicação exata da razão pela qual estavam sendo penalizados, mas o suficiente para saberem que tinham quebrado alguma regra.
Assim, defendiam, o respeito era mantido e uma atmosfera de unicidade, inclusive de regras de comportamento social e, até mesmo de “rotular” os pensamentos, era sedimentada.
Por outro lado, um grupo menor, ligeiramente mais jovem, defendia que criar filhos, nos dias de hoje, ainda que não fosse mais tranquilo, era um contexto que ofertava muito mais possibilidades para os filhos, pois o mundo globalizado externava inúmeras vertentes, de forma que a individualidade de cada um fosse preservada e a busca pela felicidade fosse mais autêntica e personalizada.
Em um ponto todos convergiam: os riscos do mundo atual são bem mais elevados! Não havia como negar que a violência, as possibilidades de desvios, a superficialidade das relações, a banalização no tratamento dos institutos históricos — como, por exemplo, a família —, a falta de respeito aos limites do espaço alheio, entre muitas outras coisas, tornam mais volúveis e voláteis as relações sociais e reduzia a convivência à conceitos tribais.
Sem dúvidas, um pai, hodiernamente, para estar conjugado com os filhos, necessita estar muito mais próximo, participando do dia a dia, seja para expurgar/minimizar os riscos citados, seja para conseguir estar no circulo relacional dos filhos, de forma que possa perceber e auxiliar nas difíceis decisões que um mundo globalizado e, ao mesmo tempo, individualista, apresenta e apresentará à sua prole.
Muitos conceitos evoluíram (ou apenas mudaram), em nossas apresentações e com focos diferenciados, como, por exemplo, os afeitos à sexualidade, com as diferenciações bem mais evidentes, atualmente, entre sexo e gênero, sendo um imbróglio que os pais (no plural) precisam “enfrentar”, aceitar, mas acima de tudo, compreender, pois as sequelas de uma rejeição, recusa ou recalque costumam impregnar por toda a vida.
Assim fluía a conversa, sem uma decisão harmônica, com o dissenso entre um passado estável, um presente diversificado e um futuro desafiador. O fato é que ser pai sempre foi ser modelo, pois a formação do caráter dos filhos possui um componente importante de assemelhação, onde a figura paterna apresenta relevante contexto formador.
A despeito das questões técnico-sociais, ser pai é “sonhar os sonhos dos filhos”; construir o edifício da conduta escorreita; ser exemplo de uma obra de vida e, por fim, estender a mão e abraçar os filhos, seja nos momentos de glória ou de dor. Esta é a missão; a verdadeira essência de “ser pai”.

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