Vacinem as crianças, por favor!
Nélio Artiles Freitas 27/01/2022 14:10 - Atualizado em 27/01/2022 14:17
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
* Por Nélio Artiles Freitas
([email protected])
Volta e meia recebo mensagens de whatsapp de mães perguntando se é para vacinar ou não as crianças, pois as frequentes desinformações veiculadas por fake news — infelizmente também de forma oficial pelos nossos desregulados órgãos reguladores — confundem a população que naturalmente se preocupa com esta doença tão séria. Em crianças a Covid-19 tende a ser mais leve, assintomática na maioria, complicando somente de 2 a 3%. Porém crianças na faixa etária de 5 a 11 anos se infectam ainda mais que adultos e adolescentes, sendo importantes transmissores.
Mas quando consideramos populações acometidas na casa dos milhões, a mortalidade passa a ser uma preocupação. Até dezembro de 2021 foram 34 mil crianças e jovens notificados, somando os menores de 19 anos, e apesar de se contabilizar cerca de 300 mortes de crianças de 5 a 11 anos no país até agora, não se pode menosprezar e dizer que estes patamares não são preocupantes. Em uma família que se perde uma criança equivale a 100% de sofrimento e sequelas emocionais.
Além de ser letal, a Covid ainda pode causar consequências inflamatórias graves, como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, com mais de 2.500 casos suspeitos com internações prolongadas, com doenças cardíacas, renais e neurológicas que evoluem para uma UTI. Outra repercussão séria da Covid é a miocardite, que tem 16 vezes a chance de ocorrer durante a doença, bem mais frequente que em adultos. Ainda tem a Covid longa, que em crianças há por enquanto poucos estudos.
A cepa Ômicron acomete mais vias aéreas respiratórias superiores e brônquios e menos os pulmões, sendo quatro vezes mais transmissível que a cepa Delta, levando à sobrecarga dos sistemas de saúde e agravando nos não vacinados. As crianças estão neste grupo.
As vacinas hoje autorizadas em nosso país pela Anvisa são seguras e eficazes. A vacina com RNA mensageiro não é uma invenção de agora. Existe há cerca de 30 anos e é, sem dúvida, um grande avanço tecnológico e o futuro de todas as vacinas. Ela não entra em nosso genoma e nem mexe em nossas células, mas estimula a produção de anticorpos e células de forma segura e eficaz. São degradadas no corpo e não causarão consequências futuras, diferente talvez do consumo de embutidos, salsichas, biscoitos, refrigerantes, corantes etc.
Efeitos adversos às vacinas já são muito bem conhecidos e a citada miocardite da vacina da Pfizer foi observada muito raramente em um percentual de 0,000001%. Assim mesmo, muito leve e benigna, ao contrário da miocardite da doença. Recentemente a autorização da Coronavac para crianças de 6 a 17 anos aumentou o leque de proteção aos nossos menores.
A ignorância de muitos que temem o uso de uma vacina neste momento tão difícil que estamos vivendo traz a discussão da responsabilidade dos pais na proteção das crianças e adolescentes. É preciso confiar na ciência, pois a autorização de vacinas ocorre a partir de estudos bem feitos e principalmente já observados em vida real, com mais de oito milhões de crianças vacinadas só nos EUA, sem reações graves relatadas.
Sinceramente não entendo por que duvidar. Vacinem os pequenos, por favor!
* Médico e professor

ÚLTIMAS NOTÍCIAS