Pezão quer limpar seu nome e diz que não viu atos ilícitos de Cabral
Arnaldo Neto 31/07/2021 02:01 - Atualizado em 31/07/2021 02:23
Fernando Frazão/Agência Brasil
Luiz Fernando Pezão, ex-governador do Rio de Janeiro, voltou a afirmar que se não tivesse sido preso, a 33 dias de encerrar o seu mandato, concluiria a ponte da Integração, obra que ele mesmo iniciou em junho de 2014. A declaração foi ao Folha no Ar, da Folha FM 98,3, dessa sexta-feira (30). Condenado a mais de 98 anos de prisão pela Lava Jato do Rio, em sentença do juiz Marcelo Bretas, ele diz que vai provar sua inocência: “Eu passei por um câncer, passei por essa crise do Estado, fui preso, peguei uma Covid que foi pior do que o meu câncer, fiquei com 75% do pulmão comprometido. E tenho certeza que Deus me deu essa oportunidade, saúde, para eu me defender e limpar o meu nome”. Ele também comentou a relação com o ex-governador Sérgio Cabral — de quem foi vice e secretário de Obras —, que o delatou como beneficiário em um esquema de propina, dizendo que nunca recebeu nada, nem percebeu movimentação atípica do seu aliado.
Pezão voltou a destacar a importância da ponte da Integração, mas disse desconhecer a posição do Tribunal de Contas do Estado (TCE) a cerca da suspeita de superfaturamento da obra, envolvendo o Departamento de Estradas de Rodagem e a empresa Premag, em valor superior a R$ 30 milhões. “Isso surgiu tudo depois que eu saí. Foi durante o governo do (ex-governador Wilson) Witzel que começaram a auditar as obras. Eu não tive problema nenhum, não sabia de nada. A Premag é uma empresa, hoje, que faz ponte no estado inteiro, é a melhor empresa de ponte, um pessoal seríssimo”.
O ex-governador questionou a forma que foi conduzida a operação que levou à sua prisão e diz que não há provas sobre repasses ilegais a ele, que foram relatados nas denúncias: “Eu estava dentro do Palácio, 6h, entraram 10 pessoas armadas no quarto, seis de fuzis e quatro mulheres de metralhadora, para me tirar de dentro do Palácio, faltando 33 dias para terminar o governo, procurando cofre dentro do Palácio. Aqui na minha casa, em Piraí, a mesma coisa. Vasculharam e não acharam um centavo, uma joia, um diamante, não acharam nada. (...) Como é que pode eu esconder 84 repasses de R$ 150 mil? Como é que eu não tenho uma movimentação atípica na minha conta? (...) Não conheço um doleiro na minha vida, nunca conheci. Como você esconde R$ 39 milhões que o doutor Felix Fischer e a doutora Raquel Dodge disseram que eu tenho, que eu tinha que ser preso, que eu poderia até movimentar esse dinheiro no exterior, e não mostrarem nada?”
Pezão também questionou a sentença de Bretas, da qual está recorrendo: “Ele me julgou e deu uma sentença em outra pessoa. Ele falar sete vezes dentro da sentença que eu sou uma pessoa gananciosa e vivia nababescamente... Quem me conhece, sabe o que eu tenho. Tenho um apartamento e a casa aqui, de onde estou falando, que é da minha esposa, foi herdada por ela, os irmãos deram para ela. Só vivo de aposentadoria do INSS, ganho R$ 5.100 por mês. Eu tenho que provar que sou honesto? Como é que eu provo? Eu não sei como é que eu faço. O Coaf, a Receita só servem para condenar a pessoa?”.
Sobre as denúncias feitas por seu antecessor como governador, e que resultaram nas investigações que o levaram à prisão, Pezão diz desconhecer os motivos. “Até a 14ª condenação dele, eu era uma pessoa honesta, uma pessoa simplória, uma pessoa com todos aqueles adjetivos que ele sempre falava de mim. Depois da 14ª condenação dele, quando ele está com mais de 200 anos de condenação, ele começa a falar de mim. Então, eu não tenho explicação. Não sei da estratégia dele. Eu acho que uma pessoa que está há quatro, cinco anos presa, ela fica numa situação de vulnerabilidade muito grande. Não sei se eu tenho inimigos, mas eu não desejo ao meu maior inimigo que fique um dia na cadeia. Eu fiquei um ano e 11 dias. Imagino a cabeça dele indo para completar em novembro cinco anos de prisão”.
Vice e secretário de Obras de Cabral, entre 2007 e 2014, Pezão afirmou que nunca percebeu nenhuma movimentação atípica do seu aliado, que já confessou ter recebido propina durante o mandato:
— Nem eu, nem o Ministério Público, nem o Tribunal de Contas nem ninguém do Ministério Público Federal, Estadual, quem viveu ali. Até a própria família dele falou que de muita coisa não sabia. A própria família. Sou eu que vou ficar procurando e julgando-o? O que não falta hoje no país é órgão para controlar a vida das pessoas e julgar.
Confira a entrevista:

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