Nélio Artiles: Testar ou não testar?
28/07/2021 21:16 - Atualizado em 28/07/2021 21:16
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
Muitas pessoas ficam preocupadas em saber se têm ou não anticorpos contra a Covid após uma vacinação ou mesmo após adoecer. Nossa imunidade tem muitas variáveis, desde questões genéticas, com respostas individuais bem diferentes entre diversas pessoas, ou mesmo comorbidades, idade ou até uso de algumas medicações que podem interferir nesta resposta imune.
 
A imunidade do corpo humano apresenta duas fases de proteção, chamadas de imunidade inata e adaptativa. A resposta inata é aquela que é bem primária, sendo a primeira defesa contra qualquer agressor. Fazem parte a pele e a mucosa, com sua microbiota ou flora local, e as células de defesa iniciais, que vão engolir ou fagocitar os germes agressores. Além desta primeira barreira, há a segunda etapa que é mais elaborada, especializada ou evoluída, com um direcionamento mais específico contra o micro-organismo.
Nesta etapa chamada adaptativa existem dois braços de ação, chamados de imunidade celular e a humoral. Na fase celular, as células de defesa, os linfócitos, irão fazer um trabalho magnífico de liberar verdadeiros “hormônios”, chamados citocinas, que permitirá um aumento destes exércitos de células de defesa, capazes de destruir não só os germes invasores, mas as células que estão infectadas. Concomitante, montam um arquivo contra as infecções futuras daquele intruso.
No outro braço, tem a imunidade humoral, ou por anticorpos, que são produzidos após as células iniciais de combate e os linfócitos, produzirem um estímulo certeiro dos chamados plasmócitos, que produzirão as conhecidas imunoglobulinas ou anticorpos IgM, IgG, IgA, IgE e IgD, fazendo uma “limpa” e protegendo nosso organismo.
Então, quando o Sars-CoV-2 entra no corpo, toda essa imunidade entra em ação para o bom combate. Algumas pessoas reagirão mais ou menos, algumas responderão de forma atípica, levando a quadros de inflamação tão grandes, capazes de lesar o próprio organismo, até mesmo quadros graves e morte. Por isso é chamado por muitos cientistas de “tempestade de citocinas”. Porém, passada aquela infecção, ou a simulação dela, através de uma vacina, estes dois caminhos imunológicos vão acontecer, seja com a ativação celular dos linfócitos, assim como a produção de anticorpos, sempre de forma variável de uma pessoa para outra.
A forma que existe de mensurar o arquivo de imunidade, contra qualquer doença é através da quantificação dos anticorpos ou detecção da sua presença. Não há método comercial em laboratório de análises que venham mostrar a parte da atividade celular. Então, quando se faz um exame de IgG pós doença ou para saber se está vacinado ou não, e se este der negativo, não reflete uma falta de imunidade, pois a parte celular, considerada a parte nobre de nossa defesa não foi medida.
Alguns já ouviram falar que tem que fazer o exame chamado anticorpo neutralizante, que são aqueles que realmente protegem no organismo, mas mesmos esses, que são exames mais sofisticados, também não representam a realidade da defesa, pois dependem de vários fatores, já que não há como predizer sua efetividade ou o tempo que irão durar no sistema. Desta forma, não é recomendado realizar este tipo de exame, pois não trará a resposta que se deseja.
Não tem sentido a busca no momento de fazer uma terceira dose ou tentar se vacinar com vacina de outro laboratório, pois esta é uma atitude egoísta, tirando a proteção de outra pessoa, entendendo que a maioria de nossa população ainda não se vacinou. No futuro, os reforços ou as misturas entre as vacinas poderão ser comprovadas e realizadas. Assim, é preciso vacinar, completar a vacinação, para que possamos estimular de forma efetiva nossa imunidade e, assim, levar, além da proteção individual, também a coletiva.
 
 

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