Nélio Artiles: Amores e pandemia
- Atualizado em 10/06/2021 15:57
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
 
O número de divórcios no país teve um aumento expressivo com a pandemia, ratificada pela tendência de aumento dos últimos anos, pelo registro do IBGE. É comum receber casais em meu consultório com enfermidades diversas em uma variedade de posturas e comportamentos. Em geral, quem tem a nobre função de cuidar de toda a família é a mulher. O homem tem uma tradicional dificuldade de ir a um médico, fazer os exames de rotina, etc. Mas ali estão eles, que em geral falam grosso em casa, mas ficam acuados e um pouco incomodados, às vezes sem paciência para relatar algum sintoma, ou desconforto.
Interessante que, muitas vezes, quando o assunto é sexo, há certa dificuldade para expor a situação aos olhos de um estranho. Não raro a esposa pergunta se não seria melhor ela sair, para que ele fique mais à vontade. Isto acontece, às vezes, com pessoas mais maduras e já com uma longa jornada lado a lado. Estas conversas muitas vezes não acontecem nem mesmo em casa, entre as quatro paredes, onde deveria ser o palco principal da interação, da cumplicidade e da liberdade de um casal, que se propôs caminhar em uma mesma estrada, lado a lado.Isso foi agravado com as circunstâncias da pandemia, onde muito se mantiveram em casa em home office.
Percebo que em algum momento aquelas pessoas que já se olharam, se desejaram, se amaram em algum momento, se distanciaram e não compartilham mais os mesmos sentimentos de antes, mas apenas os problemas, as dívidas e as preocupações. Na Escritura Sagrada descreve que o Criador percebeu que o homem não deveria ficar sozinho, pois o complemento não era só físico, mas também a necessidade de preenchimento de sua essência. Há quem prefira buscar este preenchimento na própria família, se doando e participando ativamente, mas prefere uma “solidão” voluntária, porém, sempre precisará do cuidado e do amor das pessoas. Mas uma grande maioria decide formar uma nova família, cumprindo a Palavra de “cresceis e multiplicai-vos”.
Dividir uma vida não é apenas morar em um mesmo espaço físico. É preciso pensar, sonhar, amar juntos para buscar uma unidade divina. Infelizmente, o encaixe às vezes não acontece, acaba não rolando o “até que a morte os separe”, e a busca por outra parte continuará. No começo do relacionamento é, em geral, uma docilidade constante, com “meu benzinho” para lá, “meu benzinho” pra cá... E quando se percebe que se casou com um estranho pela distância, pelo silêncio e pelo incômodo de estar ao lado do outro, a falta de conversa e entendimento faz mudar o discurso para “meus bens pra cá, seus bens pra lá” e começa uma briga de pertences, já que os dois se perderam entre eles.
Viver a dois necessita de respeito, generosidade, compaixão, humildade, e principalmente de uma percepção que qualquer erro pode merecer o perdão. É necessário que o namoro de uma relação, independente do tempo vivido, seja uma declaração diária de amor e companheirismo, como forma de adubar e perfumar uma instituição chamada família, que, apesar de não existir perfeição, é a garantia de um futuro pleno.

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