Atafona nos anos 50 quando recebia os campistas para temporadas
08/05/2021 07:28 - Atualizado em 08/05/2021 11:09
Por CARMEN LUCIA PESSANHA, no blog Dijaojinha em 2011: 
Nossos maiôs eram de lã. Coisa mais sem nexo, mas eram. Lã viva, grossa que, com a areia que se juntava nos fundilhos, ficava mais incômoda ainda. Pois com ou sem o ardume provocado pelo traje de banho, ou catávamos conchinhas ou fazíamos castelos de areia à beira mar.
E entre um picolé e outro, muito banho de mar, furando ondas, curtindo as águas douradas, às vezes, é bem verdade, safando-nos de algumas algas esverdeadas que teimavam em grudar em nossa pele.
Não se tinha cadeira de praia na época. Era cada qual ficar como um bife à milanesa mesmo, exposto ao sol, um sol que não adoecia a pele, glorioso, que só fazia bem, deixando-nos negros e irreconhecíveis ao chegar à escola no primeiro dia de aula no ano seguinte.
Que eu me lembre, o sistema de ir à praia lá de casa era diferente do das outras famílias. Aos meus olhos, pelo menos, parecia assim.
HORA DE IR PARA CASA
Era ir cedinho e, para meu total desagrado, retornar às onze e pouquinho, quando quem interessava (o flirt da ocasião) estava acabando de chegar. Os adultos tinham todo o poder. Criança não tinha voz nem vez.
Alguma das irmãs mais velhas se levantava, dizia que estava na hora, e lá íamos nós. Era só o tempo de dar um último mergulho para “tirar a areia” e, pronto, estava tomado o rumo de casa.
O detalhe é que, dependendo da intensidade do vento, este mergulho higiênico não resolvia grande coisa, pois que na volta cruzávamos o areal sendo chicoteados por sua força cobrindo de areia todo o nosso corpo novamente. Chegava a doer.
TEMPORADA
Durante todo o verão, este vai e vem que hoje existe entre Atafona e Campos não havia em minha infância. Íamos para a praia no iniciozinho de janeiro para só retornar no final das férias.
Na manhã da ida, madrugada ainda, parava um caminhão na porta de casa. Era a senha para começar a agir.
Chegava dindinha Nilza e nos colocava, um a um, os menores, para fora da cama: os travesseiros tinham que ser ensacados para seguir viagem.
GELADEIRA
Ia de tudo no caminhão, mas do que eu lembro mesmo é da geladeira Frigidaire, minha conhecida desde que eu me entendo por gente, até hoje em funcionamento na Vivenda Carmen Lucia.
A vontade de ir no caminhão, lá em cima, junto com os móveis, dava e passava, e nunca foi nem explicitada por mim.
Papai ia de carro nos levando, sempre correndo muito, a não ser num dos anos, quando a estrada era pura lama, quando levamos quase um dia de viagem até concluir o percurso.
Nunca soube como o carro dava pra todo mundo. Iriam alguns, os mais velhos, de trem? Pai, mãe e 9 filhos, como se acomodavam?
VIVENDA
Sei que algumas casas foram alugadas antes de papai comprar a que veio a ser a Vivenda Carmen Lucia, uma perto da Casa dos Óculos, na rua da Estação, e a Vivenda Maia, em frente ao Cassino, dentre outras.
A Vivenda Carmen Lucia, na Rua do Meireles, que bem mais pra frente, após a morte de papai, foi comprada dos irmãos por Rubinho e Maria Regina, foi adquirida e ampliada, no iniciozinho dos anos 50, quando ganhou o seu (ou meu) nome.
Há bem pouco tempo, uma amiga me perguntou: “Mas o Carmen da casa é com eme, não?”.
Ao que eu, peito simbolicamente inflado, respondi: “Não, aquela Carmen Lucia ali sou eu. Dela eu sei".
A imagem de papai orientando o pedreiro na colocação de meu nome é das mais preciosas recordações de minha infância.

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