Nélio Artiles: Qual a melhor máscara?
- Atualizado em 05/05/2021 22:04
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
O registro do uso de máscaras ultrapassa milênios, com suas múltiplas funções, seja como disfarce, estilo ou mesmo como no oriente, com o objetivo de ocultar expressões de tristeza ou felicidade em pessoas tímidas ou retraídas. Mas o uso de máscaras como proteção também tem sido usada de longa data em profissões que apresentam riscos de doenças respiratórias ou infecções transmitidas pelo ar.

Em mais de 30 anos de formado sempre usei máscaras como proteção em atendimentos a pacientes com meningites, tuberculose etc. Mas no momento estamos em meio a esta guerra contra um inimigo invisível, o SARSCoV-2, que se transmite principalmente por gotículas respiratórias. Com a escassez das vacinas, precisamos investir no uso deste equipamento em toda a população, pois as máscaras são capazes de evitar maior circulação de vírus entre nós.

O uso de máscara na população fora do ambiente hospitalar tem a principal função de impedir que o vírus saia da boca de alguém e entre em outra pessoa. Em geral, mesmo usando máscaras de pano, todos podemos aspirar gotículas lançadas no ar quando estamos próximos de alguém transmissor, sintomático ou assintomático.

Então qual é a melhor máscara para usar? Quando falamos, espirramos ou tossimos geramos gotículas, que visualizamos saindo da boca das pessoas em ambientes frios, por exemplo, mas também pequenos e invisíveis aerossóis, todas elas com partículas de tamanhos variáveis. As máscaras em geral tentam funcionar como uma barreira mecânica, mesmo com tecidos variáveis. Alguns tecidos podem ser tratados com cargas elétricas, com atração eletrostática, impulsionando e impedindo a entrada das menores partículas. As máscaras de pano, assim como a cirúrgica, não têm este tratamento e só fazem a barreira mecânica. Já as máscaras que são utilizadas nos serviços de saúde têm esta propriedade eletrostática que se soma à proteção mecânica, ficando bem mais eficiente.

As transmissões virais podem ocorrer em núcleos de partículas maiores que um micrômetro, ficando aderida e retida no tecido, mas também através de partículas menores, que se difundem em zigue e zague e conseguem ultrapassar aquelas barreiras comuns dos tecidos. Neste caso somente as máscaras de tecidos com atividade eletrostática, como a N-95 e a PFF2, podem atrair estas partículas por forças elétricas opostas. As máscaras cirúrgicas devem ser trocadas após algumas horas, pois a umidade e o aquecimento com a fala até facilitam a transmissão. As máscaras de pano e cirúrgicas devem ser usadas para proteger o ambiente e as outras pessoas, porém não protegem totalmente contra o contágio pessoal. Por isso o distanciamento físico deve acontecer junto.

Quando falamos, as partículas viajam a 5,5 cm/segundo, já quando tossimos, falamos alto ou cantamos, essa velocidade chega a 16,5cm/segundo. Logo, máscaras comuns e caseiras não protegem. Máscaras com duas ou três camadas de tecidos, como algodão e seda juntos, fazem cargas eletrostáticas e oferecem melhores proteções.

A melhor orientação para o dia a dia em não profissionais de saúde são as máscaras com três camadas, sempre em ambientes ventilados e respeitando o distanciamento de pelo menos um metro entre as pessoas. Caso isso seja impossível, como em transporte público, o ideal seria usar a N-95 ou a PFF2, como os profissionais de saúde. O vírus só tem duas entradas para infectar nosso corpo, boca e nariz, sendo a mucosa dos olhos improvável, mas possível. Logo, se todos usassem as máscaras e de forma adequada, tapando estas portas, e mantivéssemos distanciamento físico seguro, haveria menos sofrimento e menos perdas de pessoas queridas, mesmo sem as vacinas, que são nossas armas principais.

Usar máscara é uma atitude responsável, mas principalmente altruísta, no sentido de proteger o outro.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS