Marcão Gomes: Expectativas e realidade
- Atualizado em 05/05/2021 09:58
Marcão Gomes é advogado e suplente de deputado federal
Marcão Gomes é advogado e suplente de deputado federal / Divulgação
Membros da equipe econômica do governo tem afirmado a interlocutores que a intensidade da pandemia de Covid-19 deve diminuir em um horizonte de três meses no Brasil e apostam que com a vacinação concentrada nos grupos mais vulneráveis à doença vai decrescer o número de mortes e, em consequência, a força da crise sanitária nos próximos meses.
O tempo estimado para a perda de força da pandemia fica dentro da duração dos programas anticrise relançados neste mês. Tanto o auxílio emergencial quanto o programa de manutenção de empregos preveem quatro meses de duração.
Caso a estimativa se confirme, a necessidade vista pelo governo de lançar novos estímulos fiscais ao longo do segundo semestre pode diminuir, assim como as chances do acionamento do estado de calamidade pública, algo que o ministro Guedes procura evitar por considerar a medida um cheque em branco.
O ministro vê sinais de resiliência da atividade doméstica atualmente, com crescimento de empregos formais mesmo em meio ao que considera ser o auge da crise sanitária no país.
Não é a primeira vez que a equipe econômica do governo faz prognósticos positivos em relação à pandemia e nas vezes anteriores suas projeções acabaram frustradas.
Especialistas da área de saúde alertam para os riscos de continuidade da pandemia, inclusive no próximo ano e afirmam não haver dúvidas de que a epidemia não terá se extinguido em 2022. A se manter esse ritmo de vacinação tão lento e um patamar de transmissão ainda muito alto, sobretudo contaminando camadas da população mais jovem, e falta de medidas restritivas, não existe ilusão de que teremos a epidemia controlada em curto espaço de tempo .
O alerta é feito também pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Michael Ryan, diretor-executivo da entidade, afirmou em março que é “prematuro e irrealista” falar em fim da pandemia em 2021.
A própria equipe econômica tem admitido em análises internas que a continuidade da pandemia em 2021 gerou incertezas sobre qual será a duração da crise sanitária e de suas consequências, inclusive para os próximos anos.
Tal incerteza foi mencionada pelo governo no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2022 que foi enviado há cerca de 15 dias ao Congresso, o texto não apresentou cálculos de impacto da Covid nas contas e mencionou dificuldades para traçar o cenário. Em 2021, a continuidade dos impactos advindos da pandemia da Covid-19 torna o cenário ainda bastante desafiador para a realização de projeções que envolvem a perspectiva econômica para o triênio de 2022 a 2024.
O nível de incerteza permanece para prever a intensidade, a extensão e a duração da pandemia e, consequentemente, a magnitude de seus reflexos sobre o nível de atividade econômica global e doméstica.
Por enquanto, a duração estimada para o programa de emprego é considerada adequada pelos segmentos mais afetados pela crise.
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), afirmou que o período de quatro meses de duração da medida deve dar conta para enfrentar a crise.
Apesar do discurso pregar rápida recuperação, Guedes e equipe criaram dispositivos para renovar as medidas anticrise de forma facilitada neste ano, caso seja necessário. O programa de emprego e o auxílio emergencial preveem em suas regras a possibilidade de prorrogação por decreto do Executivo.
Bruno Dalcolmo, secretário de Trabalho, já afirmou que pode haver prorrogação do programa de emprego e lembrou que, para isso, a MP do programa de emprego precisa ser aprovada pelo Congresso. O texto traz a possibilidade de renovação via decreto do Executivo.
Concluímos que existe um abismo enorme entre as expectativas do governo e as certezas apontadas pela ciência em meio a esta crise econômica e sanitária. Sigamos em frente!

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