Decisão da Índia anima produtores de cana da planície goitacá
Ícaro Abreu Barbosa
Expectativa de mais lucro na safra
Expectativa de mais lucro na safra / Genilson Pessanha
A liberação da comercialização do etanol puro (E100) na Índia e a obrigatoriedade de, em 2023, o país deixar de oferecer subsídios à exportação, seguindo a linha de um acordo no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), animam produtores campistas em relação aos preços internacionais e resultarão em mudança na produção da Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), que ampliará para 70% a produção de etanol, durante a safra de 2022, de acordo com Frederico Paes, presidente da cooperativa.
— O etanol está com um preço muito bom, puxado pelo preço da gasolina e do petróleo. O etanol, com o qual trabalhamos com o preço médio de R$ 2,80 o litro, hoje está saindo a R$ 3,60. O açúcar também teve uma reação importante da safra passada para cá. O preço médio que estávamos trabalhando era em torno de R$ 70 a
R$ 75. Hoje, estamos trabalhando a R$ 100 o saco de 50kg — comentou Frederico.
De acordo com ele, a safra deste ano vai começar a ser moída em maio e será uma das melhores safras da história da Coagro. “A produção será muito boa, beirando 1,2 milhão de toneladas de cana, e com bom preço no mercado”. Diferentemente do que vem acontecendo nos últimos anos, com uma safra ruim e preço bom, ou o oposto”, acrescentou Frederico Paes.
Os cooperados da Coagro estão plantando bastante cana. Os números da safra 2021/22 confirmam e a previsão deste ano dá conta de 3 mil hectares plantados para abastecer a moagem da Coagro. “Mesmo que não voltemos aos anos áureos da cana em Campos, estamos trazendo recursos, geração de emprego, renda e impostos”, afirmou Frederico.
Para Tito Inojosa, presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), o fato de a Índia ser impedida de subsidiar toneladas de açúcar que vão para o mercado internacional e começar a fazer misturas de etanol na gasolina — a princípio 10%, e em alguns anos 20% —, além da liberação do uso do carro 100% movido a álcool, resultará na “abertura e redução do volume de açúcar no mercado internacional”.
— O preço não vai depender só de fatores climáticos e nós poderemos competir. O impacto disso tudo vai ser sentido na região nos próximos anos, mas com reflexos já nesta safra — concluiu Tito.
Restrição internacional beneficia a região
O mundo pode enfrentar restrições na oferta de açúcar durante a safra internacional 2022/23, que começará em outubro do ano que vem, aumentando o valor pago ao comércio internacional e beneficiando produtores brasileiros e, consequentemente, as regiões Norte e Noroeste Fluminense. Abre-se o flanco para Campos lucrar com o mercado açucareiro: outrora seu principal motor econômico.
O motivo: a Índia, país responsável pela maior produção de açúcar, terá que reduzir os subsídios para seus produtores, e, ao mesmo tempo, a demanda por etanol absorverá um volume maior de cana no país, pois o ministro do Petróleo, Gás Natural e Aço da Índia, Dharmendra Pradhan, anunciou, ainda na semana passada, que empresas de petróleo e de distribuição de combustíveis poderão comercializar etanol puro (E100).
De acordo com o cenário traçado por tradings internacionais, a janela de sustentação dos preços do açúcar no mercado internacional atual — que já subiram 40% nos últimos 12 meses — poderá se estender, beneficiando os outros países exportadores, como Brasil e Tailândia.

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