A CPI do Genocídio
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“Temos uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga pelo mundo todo". Essa foi a posição do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, no ano passado, quando o mundo já estava em alerta total e tomando as providências para se precaver da pandemia que nos assola. O Brasil, no seu 4º ministro da Saúde, permitiu 375 mil mortes (números de hoje, 20), muitas delas evitáveis, muitas delas sob tortura — asfixiadas ou amarradas em uma cama de hospital, sem analgésico ou sedativo.
Enquanto os países procuravam vacinas para comprar, cientes de ser a única forma de proteção efetiva contra o Covid-19, o Brasil rejeitava 70 milhões de doses de vacina, não assinando contrato com a farmacêutica Pfizer, em agosto de 2020, segundo apuração da Folha de S.Paulo. A alegação do governo foi que os termos do contrato isentavam a fabricante do imunizante dos possíveis efeitos colaterais. O ministro da Saúde à época, o General da ativa Pazuello, disse que acompanhou a “primeira reunião” com a Pfizer, e foi “deixando (de lado)” por serem colocações “muito duras”. Foi quando Bolsonaro disse que as pessoas poderiam se transformar em um “jacaré” ao se vacinarem.
Meses depois, foi firmado pelo Governo Federal um contrato com a Oxford/AstraZeneca, nos mesmos termos, sem qualquer questionamento. Termos de contrato podem ser questionados, a indústria farmacêutica tem seus interesses, o que não pode ser aceito é que imunizantes sejam ignorados em uma pandemia tão grave.
Se as vacinas não interessavam o governo, remédios sem comprovação científica enchiam seus olhos — e o bolso de produtores de cloroquina. O dinheiro para financiar a produção saiu da Medida Provisória 940, editada em abril do ano passado pelo presidente. A MP abriu crédito extra de 9,4 bilhões de reais, onde, ainda segundo a Folha de S.Paulo, R$ 457 milhões foram para a Fiocruz e R$ 70 milhões para a produção do Tamiflu e da cloroquina. O Ministério da Saúde nega, alegando que os medicamentos foram usados para o combate à malária. Bolsonaro disse na ocasião que “a cloroquina pode e deve ser usada desde o início”, e segue a fala, reconhecendo sua ineficácia: “apesar de saberem que não tem uma confirmação científica da sua eficácia”.
Esses e outros pontos devem ser esclarecidos na chamada “CPI da Covid”, Comissão aceita pelo Senado Federal depois da decisão do Supremo Tribunal Federal, na semana passada, que obrigou a Câmara Alta brasileira cumprir a Constituição e iniciar os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito.
É preciso responsabilizar governantes que — por omissão ou ação — colocaram o Brasil como o pior exemplo do mundo no combate à pandemia. Principalmente quando falta o básico, como oxigênio, analgésicos e sedativos, fazendo com que pessoas morram sob as piores condições possíveis. Presidente, governadores, prefeitos e ministros devem responder com a rigidez máxima, implacavelmente e punidos exemplarmente. Assim como deve responder o Exército Brasileiro, que permitiu que um de seus generais da ativa fosse um dos principais partícipes do caos genocida instalado. Quando finalmente saiu do governo, Pazuello acusou personagens ocultos e deixou a entender que (mais) crimes ocorreram: “a liderança política que nós temos hoje que nos mandou uma relação para a gente atender, e nós não atendemos” “A operação de grana com fins políticos acontece aqui”.
A CPI da Covid deveria se chamar CPI do Genocídio. Não há outro nome para o que acontece.





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    Edmundo Siqueira

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