Nélio Artiles: Doenças infecciosas x humanidade
- Atualizado em 14/04/2021 23:52
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
Nesta semana comemoramos, no dia 11 de abril, o dia do infectologista, uma especialidade bem diferente das outras em geral, pois costuma lidar com inimigos invisíveis, que sempre mexem muito com o comportamento humano. Gratidão eterna ao dr. Adrelírio Rios, que me levou a navegar por estas ondas e fez tantos infectologistas no país. As doenças infecciosas dizimaram populações, promoveram êxodos, proporcionaram miscigenação, influenciaram a expressão artística e cultural de povos, vitimizando artistas que, através de suas artes, marcaram momentos históricos.
A Peste Negra, também originada na China, causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida inicialmente por pulgas e relacionada à presença de camundongos, mas também no contato pessoa a pessoa, foi a pior das pandemias, dizimando povos desde mil anos antes de Cristo. A partir do renascimento e barroco, vários artistas produziram obras primorosas, inspiradas no sofrimento de tantas perdas, considerando religião, razão e fé, como Moteverdi, Vivaldi, Hendel e Bach.
Foi uma pandemia devastadora, disseminando por toda a Europa, Ásia e Américas, com estimativa, de mais de 200 milhões de mortes. Vários artistas descreveram e foram vítimas da Peste, como, por exemplo, Giovanni da Palestrina, compositor de música sacra do século VI, junto com sua esposa e netos.
Outras doenças contagiosas, como varíola, sífilis e a própria influenza, quase dizimaram populações indígenas das Américas, carregadas pelos colonizadores europeus.
Essas doenças infecciosas sempre estiveram presentes na história da humanidade, influenciando tanto a arte quanto as questões políticas e econômicas. Algumas personalidades artísticas foram vítimas dessas doenças, como Vivaldi, compositor renascentista que morreu de asma brônquica e uma pneumonia do tipo pneumocócica, em época que não havia vacinas para esta infecção. Mozart, por exemplo, sofria de amigdalites de repetição e sequelas de uma Febre Reumática que o levou à morte. Beethoven morreu devido a uma provável hepatite B e uma cirrose hepática, por uso crônico de álcool.
Já no romantismo a tristeza, angústia e depressão era um padrão que trazia junto a tuberculose, abreviando vidas como a de Chopin e Wagner. A cólera foi outra doença que vitimou populações e nos tirou precocemente Tchaikoviski. Doenças sexualmente transmissíveis, como a Sífilis, vitimou grande número de pessoas ao longo da história, destacando Shubert e Shumann.
Aqui no nosso país destaco a gripe espanhola, que matou o presidente eleito Rodrigues Alves. Gonzaguinha e Noel Rosa, grandes compositores da música brasileira, se internaram em sanatórios especializados no tratamento de tuberculose, sendo que este último morreu precocemente. A Aids mexeu demais com nosso planeta, levando precocemente grandes nomes da música como Fred Mercury, Cazuza, Renato Russo etc.
Na história política de nosso país, lembramos de Tancredo Neves, que morreu de uma grave infecção hospitalar, motivando a criação de leis para o controle deste mal que mata anualmente milhares de brasileiros. E assim vamos convivendo com Sarampo, Dengue, Zika, Chikungunya, Zika, H1N1, entre tantas outras há muitos anos.
Porém, a chegada da Covid trouxe um impacto impressionante. Não só biológico, mas também social, econômico e político em todo o planeta. A divulgação de milhares de mortes diárias no mundo e em nosso país não expressa a dor do sofrimento de cada família pela perda.
Minha homenagem a todos os infectologistas deste país, que vêm se desdobrando na linha de frente para cuidar e orientar as pessoas frente ao pânico e à desinformação, tendo a ciência como principal armamento para prevenir e tratar estas doenças tão marcantes na vida do planeta.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS