Existirá um Joe Biden brasileiro a tempo para 2022?
01/12/2020 12:23 - Atualizado em 01/12/2020 12:30
Talvez, ao olharmos o mapa das eleições municipais após a conclusão do segundo turno, possamos ter a ilusão de que o Bolsonaro tenha perdido a ponto de também sair derrotado em 2022. Mas é preciso ter uma avaliação mais acurada e, ao mesmo tempo, mais ampla sobre os resultados.
Em seu primeiro discurso como prefeito eleito do Rio neste domingo (29), Eduardo Paes (DEM) nomeou como "vitória da política" o resultado geral. Paes venceu em todas as 49 zonas eleitorais da cidade. No segundo turno recebeu aproximadamente o dobro dos votos de Marcelo Crivella (REP), apesar do bispo da igreja universal ter recebido o apoio direto do presidente Bolsonaro. A radicalização perdeu feio, seja de direita ou de esquerda.
Eduardo Paes (DEM) sai com grande vencedor no Rio. Política tradicional de centro-direita é a grande vitoriosa nas eleições municipais.
Eduardo Paes (DEM) sai com grande vencedor no Rio. Política tradicional de centro-direita é a grande vitoriosa nas eleições municipais.
Paes além de vitorioso está correto. A política tradicional foi a grande vencedora dessas eleições. A política “profissional”. As “raposas”. Representadas em partidos de centro e centro-direita. DEM, PP, PSD e Republicanos administrarão juntos 2.013 municípios. O Brasil possui 5.570 no total. Esses partidos cresceram em 597 cidades, comparando com 2016.
PSDB e MDB apesar de terem perdidos, juntos, 550 prefeituras ainda governam um número expressivo de eleitores em 1.304 cidades. Inclusive São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, com quase 9 milhões de eleitores.
Os partidos citados até aqui podem ser enquadrados em alguns campos ideológicos, uns mais ao centro outros mais à direita. Mas, não podem ser chamados de esquerda. Mesmo o PSDB que se origina como progressista, mas se afastando em sua história prática.
A esquerda e a centro-esquerda perderam. Amplamente. O PT perdeu 74 prefeituras, governará apenas 183. Para que as escolhas do campo progressista não sejam surpreendias pelos fatos e continuem não tendo qualquer compromisso com a realidade, vai ser preciso repensar muito das estratégias e do convencimento popular.
A jornalista Manuela D'Ávila (PCdoB), foi derrotada hoje nas urnas pelo adversário Sebastião Melo (MDB) no último domingo, mas reforça seu nome na esquerda. Menos radical?
A jornalista Manuela D'Ávila (PCdoB), foi derrotada hoje nas urnas pelo adversário Sebastião Melo (MDB) no último domingo, mas reforça seu nome na esquerda. Menos radical?
“O mundo é para quem nasce para o conquistar. E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão”. Já dizia Álvaro de Campos, heterônimo do grande Fernando Pessoa. O crescimento de Guilherme Boulous (PSOL) foi fruto principalmente de suavização de imagem e de discurso. A jornalista Manuela D'Ávila (PCdoB) fazia lives pintando as unhas enquanto tentava convencer feministas radicais a votarem nela. Ambos, embora tenham perdido as eleições, saíram vencedores do pleito. Boulos, indo ao segundo turno em São Paulo e nacionalizando seu nome, surge como nova força na esquerda. Força criada se descolando do PT. Um apoio direto de Luís Inácio Lula da Silva foi dispensado pela maioria.
Suavização da imagem de Guilherme Boulos (PSOL) para a campanha em São Paulo.
Suavização da imagem de Guilherme Boulos (PSOL) para a campanha em São Paulo. / Reprodução
E para 2022? A exemplo das eleições americanas, um candidato com casca de esquerda, mas interior de centro-direita, tem mais chances de derrotar o bolsonarismo. Um “Joe Biden” tupiniquim aparentemente terá boas chances, salvo uma grande fragmentação, inclusive da esquerda, levando Bolsonaro facilmente ao segundo turno. Se a tal “frente ampla” não avançar e não for realmente ampla, o destino será outro, diferente da maior democracia do mundo, e possivelmente levará o Trump (ainda mais caricato e irresponsável) dos trópicos ao poder.
As eleições americanas consagram o democrata Joe Biden como vencedor contra o republicano Donad Trump.
As eleições americanas consagram o democrata Joe Biden como vencedor contra o republicano Donad Trump. / Reprodução

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    Edmundo Siqueira

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