André Longobardi quer "endireitar" Macaé e diversificar economia
Arnaldo Neto - Atualizado em 31/07/2020 23:35
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André Longobardi (Republicanos) está disposto a entrar novamente na corrida eleitoral em Macaé. Vice na chapa encabeçada por Chico Machado (PSD) em 2016, que foi derrotada por Dr. Aluizio (PSDB), ele descarta uma união da oposição, porque acredita que seria “trocar seis por meia dúzia”. Longobardi também não poupou crítica ao atual prefeito, afirmando que a área da saúde “respira sob aparelhos” e que parcerias com a iniciativa privada não estão trazendo resultados para a população. A avaliação negativa se estenda a vários setores e para as administrações das últimas quatro décadas. O pré-candidato prega, entre outras prioridades, a descentralização do poder e a diversificação da economia. Declara alinhamento político e ideológico — “conservador, de direita, patriota” — com o presidente Jair Bolsonaro, além de propor uma gestão municipal para substituir o que considera uma “promiscuidade política”.
Folha da Manhã – O deputado estadual Chico Machado (PSD), de quem você foi vice em 2016, e que já descartou entrar na disputa a prefeito este ano, tem pregado uma união de forças da oposição. Silvinho Lopes (DEM) e o líder da oposição na Câmara, Maxwell Vaz (SD), já estão alinhados, inclusive com o vereador cotado a ser vice na chapa. Há possibilidade de candidatura única da oposição?
André Longobardi – Essa discussão vai além da retórica, pois não adianta dizer que é oposição ao governo municipal, mas jamais ter tido tal posição. Atitudes falam mais que palavras, e aprendi com o passado que nem tudo que parece, realmente é. União para trocar “seis" por “meia dúzia” não nos interessa. Buscamos um novo cenário para Macaé, livre de amarras com o passado, sem compromissos espúrios com políticos ou empresários, e completamente independentes. Seguimos o exemplo do presidente Bolsonaro e nosso único compromisso é com o povo e as pautas que defendemos, de liberdade, justiça e equidade. Ademais DEM e Solidariedade são partidos que se opõem ao governo Bolsonaro, impedindo avanços para diálogos no plano municipal.
Folha – A última eleição, em 2018, revelou a importância do eleitorado conservador. Em Macaé, tem nomes como o do deputado federal Felício Laterça (PSL) e o seu, representante do partido que, ao menos por ora, abriga parte do clã Bolsonaro. Hoje, qual sua relação com o Laterça? No pleito anterior, como viu a aproximação de Dr. Aluizio ao eleitorado mais conservador, quando ele decidiu apoiar o deputado do PSL?
André – Não temos nenhuma relação com Felício Laterça, aliás nem o conheço pessoalmente. Devido a nossa origem empresarial no campo privado e identidade com a nova política imposta pelo presidente Bolsonaro, buscamos desde o início um partido de direita, com alinhamento com o governo federal. Assumimos o Republicanos em Macaé e graças a um racha entre Bolsonaro e o PSL, nosso partido passou a ser um dos grandes parceiros do presidente. Nesse racha, o Republicanos passou a ser a primeira opção partidária dos bolsonaristas, até que o Aliança seja homologado. Migraram para o Republicanos, o senador Flávio Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro, Rogéria Bolsonaro, e muitos outros nomes do primeiro time da família Bolsonaro. Já no PSL ficaram deputados presos à legenda devido à legislação eleitoral, e oportunistas de olho no fundo partidário. Atualmente o PSL é visto pelos bolsonaristas como traidores, e a postura do referido deputado, não condiz com a filosofia adotada por Bolsonaro. Quanto à eleição de 2018, provou muitas coisas, mas ficou claro que Macaé é uma cidade conservadora e que deseja mudanças verdadeiras na política.
Folha – Alguns pré-candidatos pelo Republicanos querem carregar para campanha a marca de ser o nome da família Bolsonaro no pleito municipal. É o seu caso? Ter no mesmo palanque nomes que se vinculem ao presidente Jair Bolsonaro agrega voto entres os macaenses?
André – Não se trata de carregar nome do Bolsonaro e sim de identidade política e ideológica. Sou conservador, de direita, patriota, defendo a meritocracia e a necessidade de pôr um fim nesse “toma lá, dá cá" tão tóxico à sociedade. Bolsonaro se tornou referência nessa nova forma de fazer política, se tornando não só o presidente da República, mas uma inspiração para todo brasileiro que luta por um Brasil justo, digno, ético, sem corrupção, conservador nos costumes e liberal na economia. Agora o desafio é “endireitar” Macaé e o número maior de municípios possíveis.
Folha – O atual prefeito é médico e, durante o primeiro mandato, chegou a acumular a secretaria municipal de Saúde. Fora a questão da pandemia, que abordaremos a seguir, a saúde pública é um setor delicado em qualquer gestão, em todas as esferas. Qual o seu balanço sobre o quadro da saúde em Macaé? E o que propõe de mudanças?
André – Ser um bom médico, um bom professor, um bom economista, não confere a ninguém a qualificação de ser um bom gestor. Macaé precisa menos de políticos e mais de gestão, pois temos uma cidade privilegiada em vários aspectos, sobretudo o orçamentário, porém a falta de gestão resulta em ausência de políticas públicas eficazes, e a consequência disso é a desigualdade social, baixa qualidade de vida aos munícipes, péssimos serviços públicos, etc. Na questão da saúde, Macaé está delegando a responsabilidade sobre a gestão, a organismos privados. Sou favorável as parcerias público-privadas, mas desde que os resultados sejam satisfatórios, e não é o que acontece. Filas intermináveis para exames, falta de medicamentos básicos, ausência de médicos, carência de atendimento local sob demandas, ou seja, de que adianta um prefeito médico se a saúde pública respira sob aparelhos?
Folha – Macaé é o município da região com maior número de infectados pelo coronavírus. O prefeito desde o início adotou diversas medidas no enfrentamento da pandemia. Especificamente neste caso, na pandemia da Covid-19, qual sua avaliação da atuação do governo Aluizio? E em relação aos governos estadual e federal, como analisa a postura?
André – No início, a Prefeitura de Macaé tomou medidas importantes de prevenção, já que o inimigo invisível era desconhecido de todos nós. Porém, exagerou com adoção de medidas autoritárias e intempestivas, passou a criar novas crises locais, como a crise econômica, desemprego, recessão, fome, violência doméstica, suicídios, saúde mental, psicológica, dentre outros males tão prejudiciais quanto o coronavírus. O STF decretou que os estados e municípios seriam os responsáveis pelas ações de prevenção e combate ao coronavírus, e no caso de Macaé, faltou sensibilidade ao adotar ações efetivas para sustentar a economia local, incluindo comerciantes, pequenos empresários, profissionais autônomos, ambulantes, e outros, que literalmente “fecharam as portas”, gerando desemprego e instabilidade social. Importante ressaltar que, desde o início da pandemia, fui e continuo sendo a favor do isolamento vertical, fato muito eficaz em muitas cidades brasileiras.
Folha – Conhecida como capital do petróleo, Macaé sofreu sobremaneira os impactos da crise econômica. Além dos cofres públicos, com a queda dos royalties, embora o município seja o que receba a maior parcela da região, veio o desemprego e o efeito em cadeia nas atividades que dependem da indústria petrolífera. O que muito se fala há anos, de acabar com a dependência do petróleo, é viável? Se sim, como?
André – A indústria offshore é o motor da nossa economia e sustenta toda nossa cadeia de desenvolvimento. Porém, já estamos há cerca de 40 anos nessa dependência econômica e já passou da hora de Macaé buscar novas matrizes de desenvolvimento. O petróleo é um recurso esgotável, poluente, o Congresso já aprovou a redistribuição dos royalties, nossos campos no pós-sal já estão maduros, a Petrobras está preferindo priorizar o pré-sal, ou seja, sobram narrativas para Macaé buscar empreender. Temos riquezas naturais ímpares e nossa cidade, desde a região serrana com cachoeiras, rios, cenários paradisíacos, reservas ecológicas, até a cidade com orla, arquipélago, lagoa, rede hoteleira, centro de convenções, ginásio, e muitos outros possíveis atrativos turísticos capazes de tornar nossa cidade em um polo turístico. Temos solos propícios ao cultivo de milho, feijão, banana, terras para pasto de bois, um terminal pesqueiro para fomento a pesca, ou seja, Macaé possui grande potencial pesqueiro e agropecuário. Ainda temos a possibilidade de atrair novas indústrias, preferencialmente fábricas, pois a indústria do petróleo constitui-se essencialmente da prestação de serviços e não de fábricas. Precisamos preparar Macaé para o pós petróleo e temos no comércio uma grande aliada econômica. Um dos principais destaques do nosso plano de governo, é exatamente atrair novas fontes geradoras de recursos e empregos ao município, buscando na iniciativa privada a força motriz para novas matrizes econômicas.
Folha – Apesar da crise, o setor de óleo e gás é promissor para Macaé e toda região, com investimentos que podem chegar a R$ 20 bilhões, segundo a Firjan. Só não há mais monopólio no Norte Fluminense. A disputa é grande entre Macaé e São João da Barra, devido ao Porto do Açu, para atração desses investimentos de energia. Como fazer da sua cidade a mais atrativa?
André – Embora o porto em Macaé seja limitado em vários sentidos, é um porto próprio da Petrobras, com arranjo logístico e capacidade instalada que atendem as necessidades da companhia. Caso o mercado offshore expanda novamente, a Petrobras utilizará prioritariamente suas próprias instalações, para depois recorrer a terceiros. Vejo que teremos que regionalizar a questão, não para acirrar concorrências entre vizinhos, mas sim para que haja sinergia e ganhos a toda região. Não podemos tratar Macaé como uma ilha, como acontece há anos, agora temos que regionalizar para multiplicar. O novo porto de Macaé precisa sair do papel, e embora seja um investimento privado, o município tem o dever de ser um parceiro nesse projeto. Macaé absorve atualmente, a maior parte das operações portuárias fora da capital, sediando as principais empresas do ramo petrolífero. No caso do Açu, questões ambientais e limitações logísticas restringem suas operações, colocando Macaé como principal opção.
Folha – Com mudanças significativas desde o início da exploração do petróleo, Macaé é muitas vezes apontada como modelo negativo de desenvolvimento, com mazelas sociais ainda visíveis e o domínio do tráfico a reboque. Quais as lições ficaram para que em uma nova oportunidade de crescimento não se cometam os mesmos erros?
André – Sempre que o poder público é negligente ou omisso, o poder paralelo assume o espaço vazio. Macaé cresceu ao longo dos anos, porém não se desenvolveu. A cidade se tornou um abismo de desigualdade social, os assentamentos precários se multiplicaram, o poder paralelo se empoderou, e levará alguns anos para corrigir essa dislexia administrativa. Precisaremos investir fortemente em educação integral, conjugados com cultura e esporte, além de buscar parcerias com estado e união para intensificar a segurança e sufocar o poder paralelo. A ausência de planejamento, carência de políticas públicas e falta de amor a nossa gente, resultaram em uma cidade rica, com povo cada vez mais pobre. Ainda há tempo para Macaé reverter esse quadro de exemplo negativo de desenvolvimento, para tanto, será necessário um excelente alinhamento do executivo municipal com o governo federal, e essa é a nossa proposta.
Folha – Desde que defendeu a campanha “Menos Royalties, Mais Empregos”, que não foi para frente, Aluízio se distanciou dos prefeitos da região e ficou isolado na Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro). Em um momento tão delicado, com possibilidade de redistribuição dos royalties, que só não foi julgada ainda no Supremo Tribunal Federal (STF) devido à pandemia, não seria importante a união entre todas as forças políticas?
André – Abrir mão de direitos adquiridos foi uma demonstração tendenciosa do prefeito de Macaé, que optou em defender os interesses das grandes operadoras de petróleo, em detrimento ao próprio povo. O petróleo é uma atividade riquíssima e se a Petrobras não tiver interesse ou capacidade para investir na nossa bacia, que entregasse a concessão a ANP para novo leilão ou repassasse a outra operadora. Defender a redução de alíquota alegando maior investimento foi uma irresponsabilidade, defendendo as operadoras em detrimento da cidade, algo inaceitável a qualquer cidadão comum, quiçá um prefeito. Obviamente que nenhum outro prefeito da região concordou com essa atrocidade, isolando ainda mais Macaé no contexto geopolítico.
Folha – Voltando a falar do tabuleiro eleitoral, como você vem acompanhando as movimentações do grupo governista? Já está claro o nome que terá apoio do prefeito? E, na sua opinião, qual será o peso da máquina na definição do pleito deste ano?
André – A máquina está desgastada e altamente impopular, porém são muitos assessores, muitos interesses privados, muitos recursos envolvidos, tanto que não se pode menosprezar a candidatura apoiada pelo prefeito. Já anunciaram alguns nomes, mas todos naufragaram antes mesmo da partida. O último nome escolhido pelo prefeito, foi do ex-secretário Célio Chapeta, visto como inapto para o cargo.
Folha – Reeleito com sobra em 2016, Aluizio, agora, caminha para o fim do mandato. Naquele pleito, como já citado, você foi vice na chapa de oposição, o que demonstra insatisfação com o primeiro mandato do prefeito. E hoje, qual a sua avaliação do governo?
André – Continuo com a mesma opinião, um governo omisso, sem prioridades, sem conexão com as ruas, sem estratégia, sem planejamento, sem transparência, mas que promove o mesmo pão e circo dos últimos 40 anos. É impossível qualquer alinhamento com um governo que abandonou a cultura, o esporte, sucateou o patrimônio público, abandonou o turismo, que inclui a região serrana, a segurança pública, não proveu investimentos mínimos e básicos para o desenvolvimento do município, ignorou o apelo do comércio em meio à pandemia, ou seja, não governou para o povo. Macaé não pode mais cometer este erro.
Folha – Seja qual for o resultado das urnas em novembro, quais os principais desafios do próximo prefeito de Macaé? Na condição de pré-candidato, como pretende superá-los?
André – Os desafios são inúmeros, pois Macaé vive no mesmo jugo sombrio por cerca de 40 anos. Descentralizar a administração, humanizar os serviços, garantir mais que o básico, diversificar a economia, promover justiça social, prover uma gestão transparente, ética e moral. Quebrar paradigmas e planejar a cidade para os próximos 40 anos. Hoje, contamos com um plano de governo que contempla desde a valorização da juventude até o cuidado com a terceira idade, priorizando o primeiro emprego, capacitação profissional, assistência a mulher, acessibilidade, desenvolvimento de talentos, educação integral, resgate das culturas locais, reestruturação da segurança, revisão do plano de saneamento, sustentabilidade, valorização do funcionalismo público. Nosso objetivo, será imprimir ao município um modelo de governança austero, com plano de metas, resultados, transparência, a qual a gestão ocupe os espaços, até agora, ocupados pelo barganha de cargos, troca de interesses e promiscuidade política.

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