José Paes diz que 10 novos leitos de UTI do CCC já estavam previstos e pede mais diálogo com a Defensoria
27/05/2020 07:53 - Atualizado em 27/05/2020 17:35
Procurador José Paes Neto
Procurador José Paes Neto / Folha da Manhã
Em entrevista à primeira edição do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, nesta quarta-feira (27), o procurador-geral do município de Campos, José Paes Neto, considerou presunçosa a opinião do defensor público Tiago Abud, há dois dias, no mesmo programa, de que a inauguração de 10 novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC) representaram uma reação do município à determinação do juiz Paulo Maurício Simão Filho, que cobrou a ampliação da oferta, acatando a ação civil pública movida pelo próprio Tiago Abud e pela promotora Maristela Naurath.
— Acho que quem acompanha minimamente o que está acontecendo no Brasil e que vem acontecendo no mundo todo, na verdade, sabe da dificuldade que se tem para a aquisição de respiradores, que é um dos motivos, inclusive, pelos quais os Hospitais de Campanha ainda não foram inaugurados aqui no Rio de Janeiro. E há dificuldade nisso no Brasil inteiro. Então, acho que é um pouco presunçoso demais achar que o município, em três dias, arrumou 10 respiradores por conta do pleito da Defensoria Pública. Esses respiradores que estão sendo utilizados e que possibilitaram a criação desses leitos já eram respiradores do município, que estavam inutilizados por diversos motivos. Desde março, o prefeito buscou essa parceria com o Porto do Açu, que, desde então, montou essa força tarefa para realizar o reparo desses respiradores, e conseguiu entregá-los agora, devolvê-los ao município sem nenhum tipo de custo — afirmou José Paes Neto.
De acordo com o procurador, a implementação dos 10 novos leitos, possibilitada após o recebimento de 15 respiradores, reparados e entregues na quinta-feira (21) pelo Comitê de Responsabilidade Social e Ações Humanitárias do Porto do Açu, já estava prevista no planejamento do município. José Paes Neto também citou existir, em sua opinião, falta de abertura ao diálogo por parte da Defensoria Pública. Na segunda-feira, o defensor Tiago Abud disse, enquanto cidadão, considerar difícil que a Prefeitura amplie a oferta na rede pública ou contratualizada para 457 leitos clínicos e 129 leitos de UTI exclusivos para Covid-19 até o final desta semana, mas que, no exercício de sua profissão, cobrou o que estava previsto no Plano de Contingência do Município.
— É um momento de as pessoas não apenas apontarem problemas, mas também apontarem soluções. Não adianta apenas entender que precisa aumentar o número de leitos, e eu também acho que preciso aumentar. Mas, como a gente vai aumentar? Se há esse entendimento exposto no programa de segunda-feira que ele acha a decisão inexequível e que o município não vai conseguir aumentar o número de leitos 457 clínicos e 129 de UTI, se já se tem essa percepção, de certa forma, por que então ajuizar uma ação apenas para ter uma decisão no papel dizendo que esses leitos precisam existir? Não é muito mais prático, mais conveniente e muito mais produtivo sentar com o município e entender quais são as dificuldades e possibilidades para que haja um trabalho conjunto para resolver os problemas que possam existir? — questionou José Paes Neto.
— Não estou querendo dizer que o município não tem que cumprir com as suas obrigações. É papel do município tirar do papel as políticas públicas e implementá-las. Mas, se há, por parte das instituições, essa vontade de interferir no processo de implementação da política pública, que se tenha, então, a boa vontade também de sentar e dialogar com o município, para que as coisas possam evoluir da melhor maneira possível — pontuou o procurador geral do município.
José Paes Neto afirmou ainda que a primeira versão do Plano de Contingência, que embasou a determinação judicial, passou por duas atualizações.
— O Plano de Contingência não prevê apenas leitos públicos, mas leva em consideração também os eitos da iniciativa privada. E não necessariamente que esses leitos da iniciativa privada sejam requisitados e passem a ser administrados pelo município. É preciso ter uma concepção do todo — salientou José Paes. — O plano definitivamente não fala, e a gente até buscou aclarar agora, para sanar qualquer tipo de dúvidas, não fala da utilização simultânea de 129 leitos de UTI. Se fala de, num momento mais grave da doença, ter uma expectativa de que 129 pessoas vão precisar utilizar leitos de UTI. Mas, as 129 não vão estar internadas ao mesmo momento. É uma doença que vai avançando, pessoas vão se recuperando, desocupando os leitos, outras vão ocupando — complementou.
Outro tema comentado na entrevista foi a experiência de José Paes Neto com a Covid-19. Já curado, ele relatou ter apresentado os primeiros sintomas no Dia das Mães, como cansaço e febre. Três dias depois, constatou em uma tomografia que estava com comprometimento parcial dos pulmões (inferior a 25%). Durante o processo de isolamento, apresentou ainda dores no corpo e perdas de olfato e paladar.
— Na primeira semana, os sintomas se manifestaram de forma mais clara. Tive febre durante quase uma semana, começou no domingo e foi até a sexta-feira seguinte. Um cansaço muito grande. Para fazer atividades muito básicas, o máximo que eu podia fazer, como ir do quarto ao banheiro; no próprio quarto, fazer uma refeição, já ficava um pouco cansado. E não foram sintomas tão graves, apesar do comprometimento parcial dos pulmões. Se eu já me senti dessa forma, fico imaginando como as pessoas que estão em estágio mais avançado da doença se sentem, porque você fica realmente cansado, os batimentos cardíacos aceleram. Você passa o dia inteiro com os batimentos acelerados, é um dos sintomas também — detalhou José Paes. — Na tomografia, quando apontou comprometimento parcial dos pulmões, ali você toma um baque, vê que realmente existe e não é uma gripezinha — acrescentou.
Confira a entrevista:

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