José Eduardo Pessanha: Está chegando perto...
22/05/2020 13:48 - Atualizado em 03/06/2020 17:58
José Eduardo  Advogado e professor universitário
José Eduardo Advogado e professor universitário
A cada dia que passa, somos inundados por notícias (ruins) sobre a Covid-19: são números avassaladores, contágios em série, crescimento exponencial, óbitos traduzidos por números (apenas), onde a essência dos seres humanos que jazem é deixada em segundo plano. O jornalismo faz uma grande cobertura, mas também nos causa “transtornos mentais”, como de ansiedade, depressão ou mesmo condutas histéricas.
O finado e renomado escritor Umberto Eco preconizava que “muita informação era perigosa” para o ignorante e útil para o sábio, porém não filtrava o conhecimento e congestionava a memória do usuário. Note que isto foi dito há quase onze anos, premonindo uma Era de Fakes, estardalhaços, desatinos e contrainformações danosas. Em verdade, a realidade da pandemia traz em seu bojo a falta da solidariedade, empatia e consideração de boa parte da humanidade que ainda teima em semear o caos. Os casos de altruísmo e validação do ser humano são, ainda, poucos, no contexto global, de tal forma que ainda são “notícia” e podem ser difundidos. Melhor seria se fosse algo tão comum que não mais chamasse a atenção!
Parafraseando o Pastor Luterano Martin Niemöller, de origem alemã, em uma de suas famosas preleções no Pós 2ª Guerra Mundial, em uma Ode contra o nazifascismo, poderíamos, com a “licença poética”, adaptar, aos dias atuais, sua célebre oratória, da seguinte forma:
“Quando o vírus da pandemia veio buscar os maltrapilhos, eu fiquei em silêncio; eu tinha abrigo. / Quando eles atacaram os desempregados, pela via da fome, eu fiquei em silêncio; eu tinha emprego fixo-público. / Quando eles vieram buscar os autônomos e avulsos eu não disse nada; afinal eu não andava de ônibus ou era aviltado em filas de bancos por míseros reais. / Quando eles buscaram os profissionais da saúde, eu fiquei em silêncio; eu não trabalhava em clínicas, nem hospitais. / Quando eles vieram me buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar.”
Assim é esta praga; vem corroendo a Sociedade, por partes, desagregando Famílias, destruindo trabalhadores, lacerando lares, enquanto que boa parte dos “vizinhos” se queda inerte. Ocorre que, mesmo ante nosso estupor catatônico, “está chegando perto”; já vemos pessoas conhecidas, do nosso dia a dia, do nosso convívio, partirem, com ou sem recursos, em hospitais públicos ou privados. Há uma impessoalidade nesta pandemia nefasta que supera as classes sociais e as fortunas pessoais. O fato é que emerge, diuturnamente, o pavor, não apenas de ser contaminado (e pior: na forma mais grave), mas presenciar sua coletividade mais íntima ser vítima deste algoz viral. São tios, vizinhos, parentes de toda espécie, amigos de infância, pais, mães e irmãos; enfim, um gama de pessoas queridas da esfera privada de cada ser que vai sendo carreada ao túmulo, deixando histórias incompletas e sonhos por serem vivenciados. Não há como virar o rosto: a peste está ao lado... chegando perto... e somente nos resta defender este legado que nos representa: a Raça Humana. Cuidem-se!

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