Críticas e homenagens dão tom a desfiles no Rio e em SJB
26/02/2020 09:46 - Atualizado em 02/03/2020 14:20
  • Desfiles animaram foliões no Rio e em SJB

    Desfiles animaram foliões no Rio e em SJB

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    Desfiles animaram foliões no Rio e em SJB

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    Desfiles animaram foliões no Rio e em SJB

Pelo segundo ano consecutivo, a Folha da Manhã acompanhou os desfiles das escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro. O grupo foi representado na Marquês de Sapucaí, nos quatro dias de folia, pelo professor e pesquisador Marcelo Sampaio e sua esposa, Yoná Alves Sampaio. A cobertura foi encerrada na madrugada dessa terça-feira (25), último dia de desfiles do Grupo Especial. Ao todo, somando as escolas da Série A que passaram pela avenida, foram 27 desfiles. A grande vencedora será conhecida hoje (26), e as seis melhores escolas do Grupo Especial voltam ao sambódromo para o desfile das campeãs no próximo sábado (29). Em São João da Barra, os tradicionais desfiles das escolas Congos e Chinês também arrastaram milhares de foliões para as ruas.
— Nunca vi desfiles tão parelhos como desta vez. São prognósticos mais divididos dos últimos anos. Todas as escolas pecaram um pouco, o que é normal, mas nada que fizesse grande diferença entre elas. Coloco como favoritas ao título Portela, Mangueira e Grande Rio e Viradouro — avaliou Marcelo.
Pelo Grupo Especial, no primeiro dia, desfilaram Estácio de Sá, Unidos da Viradouro, Mangueira, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Grande Rio, União da Ilha do Governador e Portela. Na segunda noite, passaram pela Sapucaí as escolas São Clemente, Unidos de Vila Isabel, Acadêmicos do Salgueiro, Unidos da Tijuca e Mocidade Independente de Padre Miguel.
A Estácio de Sá foi campeã da Série A no ano passado e voltou ao Grupo Especial com a campeoníssima do Sambódromo carioca, Rosa Magalhães, completando 50 carnavais em 2020, que levou para a avenida o enredo “Pedra”. A vermelho e branco, conhecida como berço do samba, sacudiu o público com a bateria comandada pelo mestre Chuvisco e a voz do intérprete Serginho do Porto. Muito interessante a relação feita entre o tema proposto e a história da própria agremiação, assim como o esmero no visual estético principalmente nas fantasias.
A Unidos do Viradouro, vice-campeã do ano passado, pisou na avenida para mostrar o enredo “Viradouro de alma lavada”, assinado pelos carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon. Chamaram atenção o intérprete Zé Paulo Sierra, a bateria do mestre Ciça e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho Nascimento e Rute Alves. A escola niteroiense homenageou as Ganhadeiras de Itapuã, mulheres que lutaram pela liberdade no fim do século XIX e resistiram através de um grupo musical com o mesmo nome.
A Mangueira, campeã do ano passado, causou polêmica desde que lançou o enredo “A verdade vos fará livre”, do carnavalesco Leandro Vieira. A tradicional verde e rosa impactou com uma comissão de frente muito bem vestida e executando uma fantástica coreografia criada por Rodrigo Neri e Priscila Motta. Tratou-se de um desfile que questionou uma possível existência de Jesus Cristo nos dias de hoje, numa comunidade pobre como a mangueirense. Partiu da biografia bíblica e foi desconstruindo a imagem cristã, eurocêntrica, elitista e racista.
A Paraíso do Tuiuti, 8ª colocada no ano passado, apresentou o enredo “O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião”, do carnavalesco João Vitor Araújo. A azul-escuro e amarelo do Morro do Tuiuti cruzou as vidas e trajetórias de São Sebastião e Dom Sebastião. Num dia 20 de janeiro, o santo foi executado a flechadas por romanos, no ano de 286, e o rei português nasceu em 1554. O desfile teve como destaque o empolgante samba de Moacyr Luz, Cláudio Russo, Aníbal, Píer, Júlio Alves e Alessandro Falcão, embalado pelas vozes de Celsinho Mody e Nino do Milênio.
A Acadêmicos do Grande Rio, 9º lugar no ano passado, trouxe o enredo “Tata Londirá – O canto do caboclo no Quilombo de Caxias”, dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A dupla de estreantes no Grupo Especial foi ousada ao homenagear Joãozinho da Gomeia, famoso babalorixá de Duque de Caxias. A verde, vermelho e branco caxiense desfilou com uma garra contagiante e deixou seu recado contra a intolerância religiosa, que pode ser ilustrado pelos dois últimos versos do refrão: “Eu respeito seu amém, você respeita o meu axé”.
A União da Ilha do Governador, que ficou na 10ª colocação no ano passado, levou para a avenida o enredo “Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas; a sorte está lançada: Salve-se quem puder”, desenvolvido pelos carnavalescos Laíla, Fran Sérgio e Cahê Rodrigues. A azul, vermelho e branco insulana fez um desfile criticando as injustiças sociais no Brasil. Do início ao fim, foram mostrados os problemas sofridos pelas camadas mais pobres da população e sugerida como solução, para eles, a educação.
A Portela, que é a maior vencedora, com seus 22 títulos, e, no ano passado, se classificou em 4º lugar, contratou para serem seus carnavalescos, pela primeira vez, Renato Lage e Márcia Lage, que desenvolveram o enredo “Guajupiá, terra sem males”. A comissão de frente, coreografada pelo Carlinhos de Jesus, iniciou a missão de contar a história do Rio de Janeiro antes da chegada dos portugueses. A escola apresentou um desfile com excelente plasticidade e os emblemáticos versos “Nossa aldeia é sem partido ou facção; não tem ‘bispo’ nem se curva a ‘capitão’”.
De Elza Soares ao Rei Negro do Picadeiro
Na segunda noite de desfiles do Grupo Especial, na segunda-feira (24), a São Clemente, que ficou em 12º lugar no ano passado, manteve o seu estilo irreverente e levou para a avenida o enredo “O conto do vigário”, desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Silveira. A única escola da Zona Sul carioca — sediada no bairro de Botafogo — que desfila na elite seguiu sua tradição e trouxe uma crítica bem-humorada à histórica mania de “se dar bem” e do popular “jeitinho brasileiro”. Apresentou a evolução da “vigarice” na história do Brasil e foi embalada pelas vozes dos intérpretes Leozinho Nunes, Bruno Ribas e Grazzi Brasil.
A Unidos de Vila Isabel, 3ª colocada no ano passado, mostrou o enredo “Gigante pela própria natureza – Jaçanã e um índio chamado Brasil”, do carnavalesco Édson Pereira. A azul e branco do bairro do compositor Noel Rosa optou por um tema meio chapa branca, até mesmo ufanista. Ao abordar a formação da cidade de Brasília numa viagem indígena idílica, sem tocar na atual problemática dos índios, cometeu um grande equívoco narrativo. Como destaque a interpretação bem cadenciada do samba pelo Tinga.
A Acadêmicos do Salgueiro, que ficou no 5º lugar ano passado, desenvolveu o enredo “O Rei Negro do Picadeiro”, do carnavalesco Alex de Souza. Fez uma homenagem aos 150 anos de nascimento do Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do Brasil, tema que combina com os enredos afros salgueirenses. Emerson Dias e Quinho interpretaram com vigor o samba. No entanto, foi um desfile pouco empolgante quem inclusive, não conseguiu mostrar sua identidade plástica e seu estilo de evoluir na avenida.
A Unidos da Tijuca, após a 7ª colocação no ano passado, trouxe de volta o carnavalesco Paulo Barros, que criou o enredo “Onde moram os sonhos”. Com o objetivo de contar a história da evolução arquitetônica e urbanística da cidade do Rio de Janeiro, onde este ano será realizado o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, houve um passeio por várias épocas e diversos estilos. Foram muito bem a bateria, comandada pelo mestre Casagrande, e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, composto por Alex Marcelino e Raphaela Caboclo.
A Mocidade Independente de Padre Miguel, 6ª colocada no ano passado, foi muito feliz com o enredo “Elza Deusa Soares”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Ao escolher homenagear uma das mais importantes cantoras da Música Popular Brasileira, a verde e branco da Zona Oeste carioca conquistou afetivamente o público. Com a Elza Soares num trono no último carro alegórico e o intérprete Wander Pires deslizando com sua voz pela melodia do belo samba, a escola fez um desfile arrebatador.
A Beija-Flor depois de amargar um 11º lugar no ano passado, trouxe o enredo “Se essa rua fosse minha” dos carnavalescos Cid Carvalho e Alexandre Louzada. A azul e branco de Nilópolis mais uma vez pisou firme e forte na avenida impulsionada pela swingada bateria comandada pelos mestres Plínio e Rodney e pelo longevo intérprete Neguinho da Beija-Flor. O tema tem a rua muito presente e o samba possui um refrão do meio verdadeiramente antológico que pegou de imediato, “Nilopolitano em romaria; A fé me guia, a fé me guia”!

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