Carnaval de Campos entra em pauta no Folha no Ar
Matheus Berriel 19/02/2020 07:47 - Atualizado em 02/03/2020 14:16
Toninho Shita e Marcelo Sampaio participaram do Folha no Ar
Toninho Shita e Marcelo Sampaio participaram do Folha no Ar / Genilson Pessanha
O Carnaval de Campos entra em pauta no programa Folha no Ar 1ª edição, desta quarta-feira (19), que recebe o presidente do Conselho Municipal de Cultura, Marcelo Sampaio, e o sambista Toninho Shita. Os entrevistados falam dos tempos de glórias aos anos sem desfiles das escolas de samba, blocos e bois pintadinhos, a mudança para a folia fora de época e a possibilidade dos desfiles neste ano, mediante ao cenário de crise financeira no município.
Na entrevista, foram abordados assuntos do passado, presente e futuro do Carnaval, que voltou a ser realizado fora de época em Campos em 2019, no mês de agosto, após dois anos sem ter acontecido. Para Marcelo, a retirada dos desfiles do período original da festa popular representou o enfraquecimento dos mesmos, devido a uma perda de identidade nos barracões. No ano passado, apesar do bom nível apresentado pelas escolas, os blocos e bois pintadinhos, o público foi baixo no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop).
— A partir de 2009, quando a prefeita Rosinha Garotinho instituiu este famigerado Carnaval fora de época, eu falei que havia começado a acabar o Carnaval de Campos. Porque, com isso, viria um monte de coisa de fora, os artistas locais perderiam espaço; nós viríamos a ter menos comunidades. E comunidade e Carnaval são como povo e futebol. Se você tirar o povo do futebol, é outra coisa, porque futebol não é — pontuou Marcelo Sampaio.
A crítica foi endossada por Toninho Shita. “Você quer ver a nossa gente lá, quer prestigiar a nossa gente. Aí você vem de onde estiver para ver o seu povo desfilando, satirizando, curtindo aquele ambiente festivo. Quer ver a sua agremiação, do seu bairro. Quando você começa a não ter elementos, trabalhando com crianças, jovens, formando pessoas para continuar aquela essência, você se afasta, automaticamente, e fica difícil tocar Carnaval”, disse o compositor. “As agremiações perderam as comunidades. A costureira não está costurando; a filha da costureira não vai lá desfilar nem ver a mãe desfilando de baiana”, pontuou.
A própria criação do Cepop foi citada por Marcelo Sampaio como outro problema, retirando as manifestações populares da avenida XV de Novembro, no Centro.
— O Cepop é o maior equívoco. Aliás, um equívoco de R$ 100 milhões. Ele é mal localizado, mal construído e mal utilizado. E horroroso. Por onde entra o público, entra a agremiação carnavalesca. O cara vai ter que passar no meio da concentração da escola para entrar no Cepop. E em nenhum lugar o Carnaval é fora do Centro da cidade — disse Marcelo. — Mesmo se voltar para a data (oficial) em Campos, vamos continuar com um grande problema, que é o Cepop. Ele nunca vai funcionar para desfile de Carnaval, porque não se subverte a ordem quase na estrada Campos-São João da Barra. Não é preconceito com bairro periférico, com distrito nenhum. É porque, se não estiver no Centro, não subverte a ordem. Vai à praça do Santíssimo Salvador em dia de Carnaval... A vida vai continuar normalmente — criticou o professor e pesquisador, indicando ainda a necessidade de que houvesse em Campos uma espécie de Cidade do Samba, para lá serem produzidos, guardados e reutilizados os materiais dos desfiles.
Foi reforçado por Marcelo Sampaio que, neste ano, o Comcultura não vai liberar verba para a Associação dos Bois Pintadinhos de Campos (Aboipic), responsável pela realização do Carnaval. O motivo é exatamente a manutenção dos desfiles fora de época, marcados para os dias 1º, 02 e 03 de maio, ignorando uma ressalva feita no repasse do ano passado.
— O Comcultura aprovou a liberação dos R$ 500 mil do Carnaval 2019 para as agremiações carnavalescas fazerem os desfiles, que fizeram em agosto. Foi minha proposta. Por unanimidade, aceitamos a liberação, mas com uma ressalva de que em 2020 fosse na data do calendário. Todos os meus companheiros corroboraram com a ressalva. Isso está decidido. O conselho não mudou, porque a próxima Conferência Municipal de Cultura, que vai eleger o novo conselho, será no final deste ano. Até o final de 2020, o Comcultura terá a sua mesma posição. Então, não vai sair um centavo do poder público através do Comcultura para Carnaval em Campos esse ano, porque só se fosse na data oficial — disse.
A Aboipic tem buscado outras formas de apoio, como via Governo do Estado e/ou a iniciativa privada
Confira entrevista completa:

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