Não são raros os casos de deputados com base eleitoral em outros pontos do Estado do Rio de Janeiro e que, por vezes, aterrissam na planície goitacá na tentativa de ampliar suas atuações. Também não são incomuns os parlamentares desinformados e distantes da realidade local que se portam como metrópole em terra colonial. Também existem aqueles que demonstram preocupação e interesse legítimo pela região. Foi a bancada fluminense na Câmara Federal que articulou a destinação de uma emenda de R$ 25 milhões para ajudar na conclusão das obras do campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos, por exemplo.

A major da Polícia Militar Fabiana Silva de Souza – conhecida como Major Fabiana – recebeu 57.611 votos em 2018 e foi uma dos 12 candidatos do PSL eleitos na esteira da popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para representar o Rio de Janeiro na Câmara Federal e ocupa, atualmente, a vice-liderança do governo na Câmara. Deste total, a militar somou 358 votos em Campos e esteve no município ontem para, segundo ela, cobrar a aplicação de R$ 5 milhões de uma emenda parlamentar para a Saúde. Ela esteve, entre outros locais, no Hospital Geral de Guarus (HGG) e no Hospital Ferreira Machado (HFM).

Com um estilo que ficou popular nos últimos anos, a deputada, acompanhada de simpatizantes e assessores, sacou o celular e começou a fazer uma transmissão ao vivo em suas redes sociais dentro do HGG, cobrando atendimento aos pacientes, requisitando a escala dos médicos de plantão na unidade e afirmando que iria sair direto para a delegacia e o Ministério Público para fazer denúncias sobre a Saúde de Campos. No entanto, o destino da Major Fabiana foi outro: saiu em romaria por rádios e outros meios de comunicação para dar entrevistas e fazer mais vídeos ao vivo.

A deputada também se encontrou com o secretário municipal de Saúde Abdu Neme durante a tarde e posou sorridente para várias fotos ao lado do titular da pasta. Em nota, a Prefeitura informou que a emenda de R$ 5 milhões não estava disponível ainda porque aguardava a publicação do Orçamento e só a partir de então é que poderia encaminhar o dinheiro para realizar a aquisição dos materiais necessários. Depois disso, a parlamentar apagou das suas redes sociais os vídeos que fez dentro do HGG e não retornou mais o contato da equipe de reportagem da Folha da Manhã.

O HGG e a Saúde de Campos possuem diversos e graves problemas. Em novembro do ano passado, parte do forro da unidade desabou após uma forte chuva e sete setores chegaram a ser interditados. Pacientes também tiveram de ser transferidos para hospitais da rede contratualizada. As obras começaram no início de dezembro e o governador Wilson Witzel (PSC) prometeu R$ 5 milhões para ajudar na reforma da unidade. O deputado estadual Bruno Dauaire (PSC) e o pré-candidato a prefeito Marcelo Mérida (PSC) também disputam com o prefeito Rafael Diniz (Cidadania) a paternidade de mais R$ 10 milhões repassados pelo Estado.

Sempre é importante contar com o dinheiro federal, estadual e municipal para ajudar os hospitais e a população que tanto necessita. No entanto, a deputada Major Fabiana, que veio de Brasília, devia estar muito ocupada e preocupada com questões que envolvem a Previdência Social, Enem, Amazônia, Cultura e tantas outras polêmicas que orbitam o governo federal para não se inteirar sobre a realidade de Campos. Aproveitando que o assunto é Saúde, este é o clássico caso do clínico geral que não é capaz de diagnosticar um resfriado.

O blog do jornalista Lauro Jardim, hospedado em O Globo, divulgou ontem que segundo os dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), a produção de petróleo no Brasil bateu recorde em dezembro do ano passado, com aproximadamente 4 milhões de barris por dia de petróleo equivalente (óleo e gás natural somados). O pré-sal representou impressionantes 67% do total. Somado todo o ano de 2019, a produção total de petróleo chegou a 1,017 bilhão de barris, superando pela primeira vez a marca de 1 bilhão de barris por ano, também recorde.