Um 2020 que iniciou bem antes
Aldir Sales 04/01/2020 15:00 - Atualizado em 19/02/2020 15:39
Esquenta bastidores da eleição de 2020
Esquenta bastidores da eleição de 2020 / Divulgação
O ano de 2020 começou oficialmente na última quarta-feira. No entanto, na política o ano não segue o nosso calendário gregoriano e o 2020 já começou há tempo nos bastidores, com movimentações, reuniões e conversas de olho na disputa das eleições municipais de outubro. Ainda há muita água para rolar debaixo da ponte sobre o rio Paraíba do Sul, mas o cenário em Campos tem se desenhado com um grande número de pré-candidatos das mais diferentes correntes, como é comum neste período. O prefeito Rafael Diniz (Cidadania) inicia seu último ano de mandato em meio a sérias dificuldades para pagar os servidores, com queda na arrecadação e desgaste que levou a um racha de sua base na Câmara Municipal. O deputado federal Wladimir Garotinho (PSD), Caio Vianna (PDT) e Rodrigo Bacellar (SD) recolocam no tabuleiro sobrenomes tradicionais na política local, mas com ares renovados. Juntos com outros atores importantes, como o deputado estadual Gil Vianna (PSL), o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio de Janeiro (FCDL) Marcelo Mérida (PSC) e os sindicalistas Odisséia Carvalho (PT) e José Maria Rangel (PT) prometem temperar os debates sobre o pleito desde os primeiros dias do ano.
Para o sociólogo, cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), George Gomes Coutinho, a próxima eleição municipal marcará uma renovação contraditória na política local.
— Um ponto também a destacar é a possibilidade das eleições campistas demarcarem a consolidação da renovação geracional de candidatos a disputarem o Executivo local. Caso se confirme, teremos, desta vez, três candidatos jovens detentores de um capital político familiar pregresso, incluindo evidentemente o próprio prefeito Rafael Diniz. De alguma maneira aqui teríamos uma renovação contraditória, tal como vimos em nível federal na Câmara dos Deputados: sem dúvida uma geração mais jovem dotada de um capital familiar herdado.
Coutinho também chamou a atenção para a “guerra” declarada entre o governador Wilson Witzel (PSC) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que também pode dividir o eleitorado considerado mais conservador em Campos. Eleito na esteira do bolsonarismo, Gil Vianna se distanciou do grupo do ex-capitão da reserva do Exército após o conflito do seu PSL com Bolsonaro. O ex-vereador campista disputa com Mérida, Bacellar e Wladimir o apoio de Witzel.
— Há a particularidade do Estado do Rio de Janeiro onde governador e presidente, ambos novatos enquanto mandatários no Executivo e unidos no início de 2019, encontrarem-se, neste momento, em posição de conflito em virtude das particularidades geradas pelas investigações acerca do assassinato de Marielle Franco. Há uma relação tumultuada e por vezes agressiva entre eles, isso a despeito de Bolsonaro e Witzel compartilharem de uma mesma base social, eleitoral e mesmos valores. A aproximação de candidatos fluminenses para Executivo ou Legislativo de Witzel ou de Bolsonaro pode ser um ponto a dividir o eleitorado mais conservador no espectro político.
“Teste duríssimo em outubro para Rafael”
Eleito em 2016 com ampla vantagem ainda no primeiro turno, Rafael Diniz carregou consigo a esperança de renovação por parte da população após oito anos do governo da ex-prefeita Rosinha Garotinho (Pros). Três anos após tomar posse, Rafael encontra dificuldades para administrar o município e também vem perdendo espaço na Câmara Municipal, onde um grupo de oito vereadores dissidentes da base governista criou o G8 e impôs as primeiras derrotas do prefeito na Câmara no final do ano passado.
— Rafael Diniz terá um teste eleitoral duríssimo em outubro. Desta vez é vidraça e não mais pedra. E lidará com uma opinião pública que o elegeu com farta dose de expectativas em um surpreendente primeiro turno nas últimas eleições municipais. Neste momento, Diniz terá de lidar com esta mesma opinião pública impaciente, crítica, sob uma gestão que nem sempre trouxe boas notícias orçamentárias e medidas impopulares em um contexto nacional recessivo que em nada o ajuda — completou George.
Royalties também influenciam cenário político
No entanto, outro tema que promete muita discussão neste ano é a possível redistribuição dos repasses dos royalties do petróleo. O Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para o dia 22 de abril o julgamento da ação que pode decretar a falência de estados e municípios produtores. Além de mudar os rumos da região, o resultado no STF também pode mudar completamente o cenário eleitoral no maior município do interior do Rio de Janeiro.
— Campos lida com o ingrediente da possibilidade de uma votação decisiva no Supremo Tribunal Federal neste ano acerca da distribuição dos royalties de petróleo. A possibilidade da redução do repasse de royalties, dado o orçamento da Prefeitura ser profundamente dependente destes recursos, é um problema político-administrativo de alta complexidade, para além da obviedade do estrago na economia local. Em virtude da profunda relevância do tema, a diminuição do repasse dos royalties, caso assim seja o resultado do entendimento do STF, certamente será tema de debate e “munição” política a ser utilizada no fogo entre adversários em disputa. Mas, “tudo o mais constante”, ou seja, com o STF mantendo as regras tal como se encontram em vigor hoje, o tema não chegará “quente” ao segundo semestre. De todo modo, na hipótese de um resultado pró-redistribuição no STF, na disputa a diminuição de recursos será utilizada fartamente enquanto recurso político, de forma justa ou não — destacou Coutinho.

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