Diversificação ainda é desafio
Paulo Renato Pinto Porto 25/01/2020 20:26 - Atualizado em 07/02/2020 15:18
Agência Brasil
Com o declínio da produção de cana e o brutal atrofiamento do parque fabril reduzido a apenas duas indústrias (de álcool e açúcar), a diversificação da produção agrícola e a busca de novas matrizes para o desenvolvimento econômico de Campos continuam a ser um enorme desafio a ser superado, inclusive dentro de uma proposta de não dependência dos royalties preconizada pelo governo municipal.
Mesmo em baixa, cana é ainda a matéria-prima de maior vocação local e em condições de gerar um produto final de melhor valor agregado, casos do etanol e do açúcar, e continua a ser uma cultura representativa na agricultura local, com uma área total de plantio de 25 mil hectares plantados, quando há 10 anos havia no município nada menos que 150 mil hectares de área cultivada com o verde dos canaviais. Outras culturas, no entanto, ainda continuam incipientes com fraco desempenho na representação na economia local.
O empresário Joílson Barcelos, presidente da Associação de Atacadistas e Distribuidores do Estado do Rio (Aderj) e sócio da rede de supermercados Super Bom, admite que é muito baixo o volume de compras locais de produtos da adquiridos pelas 13 unidades do grupo.
— É algo que fica em torno de 5%, se tanto. É preciso buscar meios de fazer crescer a produção, seja através de cooperativas ou com mais incentivos para melhorar a agricultura. Precisamos criar mais estímulos para não alimentar a tradicional cultura do empreguismo. As coisas aqui são feitas muito de forma isolada. Preciso de mais união e integração para produzirmos mais. Compramos aqui um pouco de abacaxi, de tomate, de camarão, mas não é muita coisa, poderíamos produzir bem mais. A maior parte dos alimentos que compramos vem de outros estados e outras regiões do próprio Estado — disse.
A rede de supermercados compra algumas folhas como alface e couve que são cultivados por um produtor local que conseguiu organizar sua produção em escala para fornecer inclusive com sistema próprio de logística de transportes.
Embora Campos seja um importante centro de pecuária de corte, a carne consumida pelos campistas vem do Centro Oeste brasileiro.
— Existem algumas experiências interessantes de produtores de cana que partiram para outras culturas como o café conilon, o milho, o feijão, o sorgo, o coco e a soja com o produtor Nelson Lamego, com um trabalho na região de Martins Laje. Na avicultura voltada para a produção de ovos também há outras iniciativas. Alguns desses produtores têm obtido êxito com apoio de técnico da própria Uenf e inserção de tecnologia — disse o engenheiro agrônomo José Carlos Mendonça, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que atribui a queda da produção da cana a fatores climáticos. “Vivemos historicamente três períodos hídricos durante o ano, um deles o subúmido que está abaixo de um regime do semiárido”, explicou.
Os bons exemplos do vizinho Espírito Santo
O professor Alcimar Chagas Ribeiro, também da Uenf, defende a agricultura como uma alternativa viável para geração de renda e empregos em Campos e cita exemplos do vizinho Espírito Santo.
— Há algumas cidades com 20 mil habitantes, com 40% do orçamento de São João da Barra, onde a população vive com melhor renda e bem estar, graças à agricultura com sustentabilidade e uma cadeia produtiva mais organizada e valor agregado em seus produtos. A agricultura local precisa ser replanejada para sairmos do setor primário e integrarmos a cadeia do agronegócio”, disse o economista.
— Há (no interior do Espírito Santo) uma riqueza de menor monta, mas é totalmente fixada em seu território. Atividades agropecuárias são integradas ao turismo, atraindo um grande volume de turistas com poder aquisitivo que permite a organização de cadeias produtivas com produtos de maior valor agregado para atender uma demanda mais exigente — acrescentou.
Ventos favoráveis para o setor canavieiro em 2020
No setor canavieiro sopram ventos favoráveis. A Coagro (Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio) e a família Coutinho que controla a Usina Paraíso, somaram forças para multiplicar o plantio de cana e a intenção de retomar a produção na unidade de Tocos. “Estamos investindo em tecnologia para melhorar os índices de produtividade e triplicar a produção de cana, o que vai resultar na abertura de mais uma unidade industrial, com a retomada das atividades da Usina Paraíso”, disse o empresário Renato Abreu, presidente do Grupo MPE, investidor no projeto.
Enquanto o setor busca alternativas e enfrenta as adversidades climáticas, o jeito é também esperar trâmites de incentivos no Rio e em Brasília. Na capital, o apoio prometido pelo governador Wilson Witzel de uma injeção de R$ 30 milhões para projetos de irrigação, problema crucial para o bom funcionamento do setor. Em Brasília, tramita um projeto do deputado Wladimir Garotinho para incluir a região na Zona Agrícola de Risco Climático que vai permitir acesso dos produtores a subvenção, linhas de crédito e concessão do crédito rural. Os estudos estão sendo feitos pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Embrapa.

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