?O Mistério do Samba? no Cineclube Goitacá
26/03/2014 14:03

Talita Barros

No terceiro encontro deste ano no Cineclube Goitacá, o público é convidado a assistir ao filme “O mistério do samba” (2008), de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor, com produção de Marisa Monte. A sessão acontece hoje (26), a partir das 19h30, na sala 507 do edifício Medical Center, sede do Oráculo Produções, no cruzamento da avenida 13 de Maio com a rua Conselheiro Otaviano.

O documentário será apresentado pelo pesquisador de cultura popular Marcelo Sampaio, que destaca a sensibilidade da montagem.

— Por ser um documentário, “O mistério do samba” é composto, essencialmente, de imagens reais de encontros com integrantes da velha-guarda da Portela. O grande mérito da sua filmagem foi uma edição que privilegiou a emoção — salientou.

O filme acompanha a pesquisa que a cantora Marisa Monte iniciou para produzir o disco “Tudo azul” (Idem, 2000). O trabalho levou nove anos para ficar como chegou às telas. No filme, a cantora, também produtora deste trabalho — em sua primeira experiência neste cargo —, entrevista e acompanha o cotidiano de músicos da Velha Guarda da Portela, no Rio de Janeiro. Em 2009, “O mistério do samba” ganhou como melhor documentário e melhor montagem (Natara Ney) no grande prêmio Vivo do cinema brasileiro.

Para Marcelo, toda a obra chama a atenção, porque conjuga com beleza e maestria o samba e seu contexto histórico-social.

— O samba, pelo menos aquele honesto historicamente, jamais foi só música. Mais do que música, o samba é uma forte resistência a diversos preconceitos e várias discriminações. Desde que ele possui a atual configuração musical, tem funções sociais das mais significativas. Portanto, é de extrema verdade intelectual o verso “Se não houver tristeza o samba não fica bonito”.

Para a compreensão do mistério do samba, o documentário mescla versos de sambas — “A nossa vida é nascer e florescer para mais tarde morrer” ou “O mundo passa por mim todos os dias, enquanto eu passo pelo mundo uma vez” — e cenas em espaços suburbanos, segundo Marcelo, “carregados de uma nostalgia contagiante”.

No filme estão todos os grandes artistas: o espírito de Manacea, Jair do Cavaquinho, Argemiro Patrocínio, Casquinha, Monarco, o filho mais moço Paulinho da Viola, protegidos por Tia Surica e Tia Doca, além de Zeca Pagodinho. A Portela aparece nos sapatos brancos e pretos, nas mãos gastas, nos rostos marcados pelo tempo, nos pés descalços, nos retratos na parede, na comida, nas cervejas, nos cavaquinhos e nos pandeiros.

Esta é a segunda vez que Marcelo Sampaio apresenta um filme no Cineclube Goitacá. No ano passado, durante a mostra Memória, o pesquisador de cultura popular ficou responsável por debater com o público o filme “Noel – Poeta da Vila” (Idem, 2006), do diretor Ricardo van Steen. As apresentações não fogem às suas experiências no samba e no carnaval, além das pesquisas acadêmicas que realiza na área da cultura popular. Para Marcelo, o Cineclube é uma iniciativa que preenche uma lacuna cultural em Campos.

— Quando soube que seria recriado um Cineclube fiquei bastante animado, pois além dos cinemas existentes na cidade, para mim salas de projeção, quase não saírem de uma programação basicamente comercial, são muito raros por aqui os espaços para o debate de ideias em alto nível intelectual — ponderou.

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