Modesto da Silveira, em defesa da liberdade
01/04/2014 | 10h09
Modesto da Silveira é uma legenda na defesa dos perseguidos, presos, torturados pelo Golpe de 64. Figura doce, dedicada e amiga. Em 1978, foi eleito deputado federal pelo MDB, com uma vitória retumbante da oposição ao regime militar. Tive a honra e o privilégio de ter convivido na ocasião com este brasileiro. É emocionante vê-lo ativo, fiel aos princípios que nortearam sua carreira e vida. Sugiro a leitura da matéria aqui.
Alessandra Duarte (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 30/03/14 - 8h00
 Modesto da Silveira foi o advogado que mais defendeu brasileiros na ditadura Foto: Pedro Kirilos / Pedro Kirilos 
Modesto da Silveira foi o advogado que mais defendeu brasileiros na ditadura Pedro Kirilos / Pedro Kirilos
RIO - Defensor de agricultores, intelectuais, líderes estudantis e religiosos, Modesto da Silveira viu “os tanques do golpe” na Cinelândia. Seis anos depois, foi sequestrado e levado a uma sala do DOI em que as paredes tinham sangue coagulado. Hoje, guarda mais de 30 agendas daquela época. Algumas encardidas, outras empoeiradas. E, como se de um jogo se tratasse, convida: “Vamos ver a de 68?” O advogado de 87 anos vai então ao dia 13 de dezembro, data da decretação do Ato Institucional número 5 (AI-5) e na agenda lê: “Prisão Sobral Pinto”. — Esse “prisão” escrevi entre aspas porque foi o sequestro do Sobral, né? — conta ele, lembrando colegas de profissão. Todas as agendas estão em seu apartamento. E, numa época de infiltrados e acusadores, os compromissos anotados viraram álibis e testemunhas de defesa. Até hoje Silveira é considerado, por colegas, como o advogado que mais defendeu brasileiros no regime militar. Ele não sabe dizer quantos clientes teve, mas diz que cuidou de gente “de Belém a Porto Alegre”, de agricultores e operários a nomes como Mário Alves, Ferreira Gullar, David Capistrano e Dom Adriano Hipólito. De muitos, não cobrou nada. E a memória do dia do golpe é nítida: — Naquele dia, quando cheguei à Cinelândia, o povo esperava um comício em apoio a Jango. Mas não apareceram líderes sindicais, estudantis ou intelectuais. Apareceram tanques do Exército. Quando voltaram os canhões para o povo, ficou claro que eles eram do golpe. Então começaram a vaiar. Dois à paisana deram tiros para o alto e entraram no Clube Militar. No meu escritório, gente já pedia socorro. Para o mineiro de Uberaba, “o pior era quando você perdia o cliente”, numa referência à morte. Maria Auxiliadora Lara Barcellos, a Dodora — citada pela presidente Dilma Rousseff em discurso de 2010, foi um deles. Presa e torturada, suicidou-se no exílio. Em 1970, Silveira foi sequestrado pela repressão e ficou no DOI-Codi do Rio por dois dias. Não sofreu tortura física, mas psicológica. Na sala havia sangue coagulado, e a máquina de choque estava ligada. — Passaram a falar das minhas três filhas: “Sabe aquela? Trago aqui, boto a arma na boca e pow!” Modesto está hoje na Comissão de Ética da Presidência e presta assistência jurídica a antigos clientes. Auxilia a Comissão Nacional da Verdade e pede que ela tenha mais membros, poder de intimação e dê mais atenção à Operação Condor. — É preciso olhar o apoio financeiro e logístico de um regime que fez, no mínimo, meio milhão de vítimas diretas.
 
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Sobre o autor

Luciana Portinho

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