Drummond 110 Quem no dia 4 de julho chegou a Paraty, ainda que soubesse pela programação divulgada, que encontraria com o poeta maior, ao começar a festa literária percebeu a inteira dimensão da homenagem que se prolongaria naqueles cinco dias. Pela voz do escritor - poeta, filósofo e letrista – Antonio Cícero, um dos drummonds se manifestou na leitura do poema “A Flor e a Náusea”, do livro “A rosa do Povo”, de 1945. Cícero deteve-se em cada uma das nove estrofes do poema, na tentativa de investigar alguns versos de significado menos evidente para o público em geral. E fomos para os tempos que eram. Eram tempos de guerra. Tempos de feiura. “... O tempo é ainda de fezes, maus poemas,/alucinações e espera”...// A plateia dá sinais do incomodo de a densidade das palavras, Cícero então esclarece que “a função da poesia é desautomatizar a linguagem e o pensamento”. Feito o alerta ao recém-chegado público, continua nos versos. “... As coisas. Que tristes são as coisas,/consideradas sem ênfase.// E Cícero segue ao falar do tédio em Drummond “... Nenhuma carta escrita nem recebida./Todos os homens voltam para casa./ Estão menos livres mas levam jornais/e soletram o mundo, sabendo que o perdem.//” Eram tempos de solidão, pessoal e literária, tempos de reflexão ante a incomunicabilidade humana da guerra, ou seja, da náusea. E da flor surge a poesia. “... Uma flor nasceu na rua!//... Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde/e lentamente passo a mão nessa forma insegura.// É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.//”. [caption id="attachment_4354" align="aligncenter" width="500" caption="Ft.Luciana Portinho"][/caption] De outra faceta
Os materiais da vida Carlos Drummond de Andrade
Drls? Faço o meu amor em vidrotil nossos coitos são de modernfold até que a lança de interflex vipax nos separe em clavilux camabel camabel o vale ecoa sobre o vazio de ondalit à noite asfáltica plks
[caption id="attachment_4355" align="aligncenter" width="500" caption="Ft.Luciana Portinho"][/caption]Do encerramento
Já no domingo, últimas horas da Flip, naquela penúltima mesa de 2012 “Drummond: o poeta brasileiro” o também consagrado poeta Armando Freitas Filho, em vídeo – mas, como se ali estivesse, discorreu sobre sua relação pessoal e literária com Drummond. “Se uma máquina de escrever falasse, teria a voz de Drummond: seca e surda”, disse Armando. Rememorou o presente dado por seu pai ao fazer 15 anos – um disco, com Manuel Bandeira no lado A e Carlos Drummond de Andrade no lado B. Não por acaso era o lado B, esclarecendo que Drummond vai mais fundo, está adiante, do lado de lá: “Escrevia com o próprio fígado, pegava o ser humano por dentro, como se fosse uma cunha. Você pode até esquecer as palavras do verso, mas não esquece o sentimento que o verso trouxe”. Em 1960, Armando entregou o manuscrito de seu primeiro livro a Bandeira e foi por ele aconselhado a encaminhar seus poemas a Drummond. Daí surgiu uma rica relação pessoal, de mestre e pupilo – “ele não foi uma influência, foi uma possessão” – só terminada com a morte de Drummond. “Fui o primeiro a chegar ao velório e até corrigi um erro ortográfico que o funcionário cometera na placa que afixam à porta da sala onde está o morto – faltava um M no Drummond”, lembrou. “Hélio Pellegrino e eu entramos juntos na sala, abraçados, Hélio tremendo muito (ou era eu?), quando fomos abordados pelo jovem repórter Arthur Dapieve, perguntando qual era o significado daquela morte. Hélio respondeu: ‘Eu não me entenderia como pessoa sem a poesia dele’.” E assim caminhou a Flip, no que tange ao poeta da poesia Drummond. Ou como nas palavras do poeta, ensaísta e crítico literário Antonio Carlos Secchin, “O primeiro Drummond a gente nunca esquece”. Luciana Portinho Matéria publicada em 15/07, no caderno especial, Folha na Flip 2012.