Da Flip 2015, primeiras impressões
02/07/2015 | 11h16
Com 43 autores - 11 são poetas - e o escritor brasileiro modernista Mario de Andrade (1893 - 1945) como homenageado, ontem (01) teve início a 13ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). A cidade histórica durante os cinco dias do evento, será aos poucos tomada por uma gente misturada que veio assistir aos debates, encontros e mostras. Ainda que a recessão econômica do presente afete toda e qualquer iniciativa no país, a Flip, logo na abertura, deu mostra da seriedade e qualidade com que é elaborada desde a primeira edição há mais de uma década.
O evento cultural, segundo os organizadores (Associação Casa Azul) não é mais um evento “de fora” ao paratiense; está fincado nos quatro cantos do Centro Histórico, movimenta a economia do turismo local, já faz parte do território, mesmo que tenha tido seu orçamento diminuído. Se em 2014 a Flip contou com R$ 8.5 milhões este ano recebeu R$ 7,5 milhões. Não é nada, não é nada – outros talvez cancelassem a festa em total descompromisso com o cativo público -, pois aqui se observa que o fundamental do movimento cultural está assegurado, o supérfluo sofreu cortes e a Flip 2015 acontece firme apesar de.
Intitulada “As margens de Mário” foi a mesa da sessão de abertura da Flip 2015. Dela, participaram a crítica literária argentina Beatriz Sarlo, a ensaísta paulista Eliane Robert Moraes e o carioca estudioso do modernismo brasileiro, Eduardo Jardim. Antes, um vídeo com o artista e músico pernambucano Antonio Nóbrega. A proposta é alargar o olhar como o fez Mario de Andrade em suas incursões inquietas pelo Brasil; nas palavras de Nóbrega “O dia que descobrirmos esse olhar seremos um país melhor”, ou como disse Beatriz Sarlo ao fazer paralelo entre os dois países sul-americanos - Argentina e Brasil – trata-se de pensar “carência e conflito” deste país não apenas multicultural, mas, “ricamente multicultural”.
"Eu sou trezentos, sou trezentos- e-cinquenta,
Mas um dia afinal me encontrarei comigo..."
Mário de Andrade
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Mário de Andrade dá o tom do show de abertura da Flip
24/06/2015 | 11h53
[caption id="" align="alignleft" width="296"] Luís Perequê (foto de André Conti)[/caption]
Intitulado “Música na Praça”, o show de abertura da Flip 2015 reúne Luís Perequê, o grupo cirandeiro Os Caiçaras e a cantora Dani Lasalvia, voltados para a arte popular -- tema recorrente na obra do homenageado Mário de Andrade (1893-1945). O autor e musicólogo foi um desbravador da música popular de raiz do Brasil, apontando suas pesquisas para ritmos indígenas, músicas africanas, acalantos, ranchos, modinhas, cirandas. O show, gratuito, acontece ao lado da Igreja Matriz, na quarta-feira (1º de julho), às 21h30, após a sessão de abertura da festa literária.
Apresentando canções de sua autoria, Luís Perequê abre a noite. Na sequência, uma convidada do artista caiçara ganha a Tenda da Flipinha, a cantora Dani Lasalvia – que interpreta algumas das canções coletadas por Mário. A ciranda, que o escritor modernista chamou de “dança dramática”, estará representada pelo grupo Os Caiçaras.
Programação da FlipMais é totalmente gratuita
A programação da Flip transborda os limites da Tenda dos Autores e se espalha pela cidade. Marcadas pela diversidade, as atividades da FlipMais combinam literatura, cinema, teatro, arquitetura, artes plásticas e políticas públicas, que ocupam a Casa da Cultura de Paraty e, pela primeira vez, a Capela Nossa Senhora das Dores, a Capelinha – tudo com entrada gratuita.
Debates sobre preço fixo do livro e produção de poesia, além de espetáculos que trazem para cena o feminismo e a linguagem contemporânea do circo, compõem a grade da FlipMais. Confira a programação completa aqui.
ascom([email protected])
Um Rio
18/01/2015 | 05h27
Reproduzo via mural do Artur Gomes, poeta e produtor cultural, publicado no Facebook, o poema escrito por Antonio Roberto Góis Cavalcanti (Kapi), entre os anos 1977 e 1978. Há mais de duas décadas, a sensibilidade do poeta Kapi já antevia a agonia do "nosso" Rio Paraíba do Sul.
Um rio
Era uma vez…
Um rio
Que de tão vazio,
já não era rio
e nem riachão,
tão pouco riacho.Não era regato,
nem era arroio,
muito menos corgo.uma vez…
um rio
que, de tanta cheia,
já não era rio
e nem ribeirão.Era mais que Negro,
era mais que Pomba,
era mais que Pedra,
era mais que Pardo,
era mais que Preto,
bem maior ainda
que um rio grande.
Era uma vez…
um rio
que de tão antigo
era temporário,
era obsequente,
era um rio tapado
e antecedente.
Que não tinha foz,
que não tinha leito,
que não tinha margem
e nem afluente,
tão pouco nascente.
Mas que era um rio.
Não era das Velhas,
não era das Almas,
não era das Mortes.
Era um Paraíba,
era um Paraná,
era um rio parado.
Rio de enchentes,
rio de vazantes,
rio de repentes:
Um rio calado:
Sem Pirá-bandeira,
Sem Piracajara,
Sem Piracanjuba.
Em suas águas
não havia Pira
não havia íba,
não havia jica,
não havia juba.
Nem Pirá-andira,
nem Piraiapeva,
nem Pirarucu.
Era um rio assim:
Sem pirá nenhum.
Mas que era um rio.
Era uma vez….
Um rio.
Que, de tão inerte,
Já não era rio.
Não desaguou no mar,
não desaguou num lago,
nem em outro rio.
É um rio antigo,
que de tão contido
não é natureza.
Um dia foi rio,
há muito é represa.
[caption id="attachment_8661" align="aligncenter" width="556"] Ft. Artur Gomes[/caption]
Acolhimento
29/04/2014 | 11h57
Aniversário
05/04/2014 | 01h35
Em dia de aniversário da que vos escreve, deixo um presente a você leitor que todos os dias me acena com leitura e comentários. Mais um ano se passa ou eu passo por mais um ano e, a cada um percorrido me certifico que pouco quero além da troca de afeto com a família, da estreita convivência com os amigos e da sensibilidade para as coisas bonitas que a natureza e o ser humano me proporcionam. Se poder tivesse extirparia o mal e o mau da Terra, seríamos assim mais dignos e irmanados. Como nada sou, procuro fazer a minha minúscula parte nessa grande confusão que é a sociedade que soubemos erigir. Curtam a fotografia perfeita do campista Dudu Linhares e a pequenina poesia do também campista Artur Gomes.
[caption id="attachment_7805" align="alignright" width="465" caption="Ft. Dudu Linhares"][/caption]
Poética
para Dudu Linhares
pássaro pluma
voa leve pluma voa
sobre o barco/pássaro
flutuando na lagoa
Artur Gomes
"No caminho, com Maiakóvski"
20/03/2014 | 03h25
Fuçando aqui e acolá, lendo e escrevendo, reencontro esta maravilha que sendo universal é atemporal. Dias confusos de uma sociedade cansada, de matanças reais e imaginárias, de muito calar. De indignações sérias, de marchas surradas ensaiadas, de tramas a inventar.
"[...]
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
[...]"
EDUARDO ALVES DA COSTA
Niterói, RJ, 1936
E no Rio é Carnaval
23/02/2014 | 09h08
A cidade do Rio de Janeiro, sob uma solina daquelas de rachar os miolos, praias cheias, transito arrastado, povo nas ruas, turistas nos quatro cantos, se entrega ao rei momo....aderiu ao Carnaval. Que venha a brincadeira, o fazer de conta, que daqui a alguns dias tudo se acaba.
Fotografias Luciana Portinho
QUANDO PARTIMOS
02/01/2014 | 11h07
De narrativa um tanto lenta, a história de Umay (Sibel Kekilli), do início ao fim, é a do desacerto dramático entre moral e ética na qual a mulher - se quiser fazer prevalecer os seus sonhos – haverá de enfrentar em certos contextos culturais. Uma trajetória simples: uma mulher/mãe que não aceita os maus tratos do marido. Seu desejo? Criar o pequenino filho Cem, estudar, ser independente e, quem sabe de sobra, serem felizes. Para isso retorna à família, na esperança do acolhimento à sua decisão de romper com o casamento.
[caption id="attachment_7391" align="alignleft" width="350" caption="ft. Divulgação"][/caption]
Não sendo aceita, por desonrar a moral rígida dos valores dominantes masculinos, é vista como mais uma prostituta. Umay parte novamente e novamente. Mais do que não ser protegida pelos pais e irmãos, é por eles rejeitada, vira saco de pancadas, é perseguida. Ainda que ame a mãe e a ela recorra por abrigo, a mãe é a síntese do que Umay não quer para sua vida: dependência e submissão.
Com tom baixo e poucos diálogos, o filme se desenrola nas expressões faciais. Estas revelam o quanto de sofrimento no impasse entre sentimentos que reprimidos sucumbem à necessidade externa de aceitação social; geram a desgraça.
Assisti “Quando Partimos”(Die Fremde), sem maior pretensão. Colada fiquei ao dilema da jovem mulher Umay, na ingenuidade de supor que conseguiria se afirmar em ambiente sociocultural hostil. Há nela uma teimosa esperança, a de que pela sinceridade do seu tão genuíno propósito, vitoriosa seria. Não foi. A mesma família que a criou a destrói. Do laço da fraternidade sonhada veio a lâmina que mata seu amor incondicional, o menino Cem, aconchegado em seu colo.
Li depois a crítica, cobra do personagem um maior desligamento de seu núcleo familiar, poderia tê-la poupado. Discordo da análise racional. A história de Umay é poética. Nela, a poesia da vida que nos move ou que nos detém. Remete-nos à angustia provocada pelo choque cultural entre uma estúpida moral e os legítimos anseios individuais, nada imorais, e que ao cabo é fonte da infelicidade humana nos desencontros absurdos que a vida social estabelece.
Candidato da Alemanha a uma vaga no Oscar 2011, Die Fremde (Quando Partimos) estreou no Festival de Berlim em fevereiro de 2010. Depois, o filme passou por outros sete festivais, incluindo o de São Paulo. Direção da atriz austríaca Feo Aladag.
Um bom longa, desperta reflexões. O desfecho me causou silencioso choro. Triste. Recomendo.
E na semana de Finados....VIDA!
27/10/2013 | 03h06
UM POLICIAL MUITO TRISTE
[caption id="attachment_7068" align="alignright" width="320" caption="Ft.Google"][/caption]
Não tenho bota,
não tenho chapéu,
não tenho batalhão.
Perdi meu bastão.
A única coisa que tenho
é um pedaço de ferro velho
que vai me criar coragem
para eu entrar no cemitério.
Sophia Vianna (senhorinha, amada neta de oito anos)
História viva
22/09/2013 | 09h45
Passados 40 anos da morte do Nobel de Literatura Pablo Neruda em condições suspeitas, o Chile traz a história à tona ao exumar os restos mortais do poeta e por fim à incerteza de que ele teria sido assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet. Oficialmente Neruda foi morto em decorrência do agravamento do câncer de próstata que sofria. É o escrito no atestado de óbito. A exumação feita em abril passado poderá confirmar se ele foi assassinado com uma injeção misteriosa inoculada na mesma clínica onde morreu anos depois o ex-presidente Eduardo Frei, como denuncia o seu ex-motorista Manuel Araya. De acordo com Araya, na tarde de 23 de setembro de 1973, Neruda, que até aquele momento estava lúcido e estável, disse a ele e a sua esposa, Matilde Urrutia, que um médico havia inoculado uma injeção que agravou sua condição.
[caption id="attachment_6901" align="alignleft" width="400" caption="Ft.Google"][/caption]
O poeta Pablo Neruda que também foi diplomata e senador pelo Partido Comunista, morreu em 1973, 12 dias depois do golpe que derrubou seu amigo, o presidente socialista Salvador Allende. No dia seguinte à sua morte, Neruda viajaria ao México, onde pretendia se exilar e mobilizar a oposição de Augusto Pinochet.
Na mesma Clínica Santa Maria, para onde ele foi transferido e veio a falecer, outros casos reforçaram as suspeitas de envenenamento. Nove anos depois, nesta clínica, o ex-presidente Eduardo Frei Montalva (1964-1970) morreu devido a uma "introdução gradual de substâncias tóxicas", segundo determinou a justiça em um caso que permanece em aberto. Frei - que na época surgia como um dos maiores adversários de Pinochet - deu entrada na Clínica Santa Maria para o tratamento de uma hérnia, morreu subitamente pouco depois devido à septicemia.
"Este aniversário vivemos com muita tensão. Estamos muito atentos aos resultados dos testes de toxicologia", disse à AFP Rodolfo Reyes, sobrinho de Neruda e advogado no caso.
Os serviços secretos da ditadura de Pinochet (1973-1990) desenvolveram armas químicas como sarin, soman e tabun, para usar contra países inimigos e opositores.
A ditadura brasileira forneceu ao Chile, entre os anos 1970 e 80, neurotoxina botulínica, uma poderosa arma química que provoca a morte por asfixia. Vestígios desta substância foram encontrados no Instituto de Saúde Pública do Chile há cinco anos pela então diretora Ingrid Heitmann.
O Chile ainda investiga a extensão do uso de tais armas na ditadura que deixou 3.200 mortos.
Sobre o autor
Luciana Portinho
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