Entrevista: Felipe D´Avila, presidenciável pelo Novo, fala sobre saída de Moro e formas de governo: 'defendo o modelo parlamentarista'
31/03/2022 | 07h56
Felipe d’Avila é fundador do VirtuNews, site de jornalismo,e do Centro de Liderança Pública (CLP), é pré-candidato pelo Novo e lança sua campanha neste sábado (2). D´Avila é formado em ciências políticas, e tem mestrado em administração pública pela Harvard Kennedy School.
Felipe d’Avila é fundador do VirtuNews, site de jornalismo,e do Centro de Liderança Pública (CLP), é pré-candidato pelo Novo e lança sua campanha neste sábado (2). D´Avila é formado em ciências políticas, e tem mestrado em administração pública pela Harvard Kennedy School. / Assessoria
 
Em um dia de mudanças no tabuleiro eleitoral para presidente, com a desistência de Sérgio Moro, agora filiado ao ‘União Brasil’ e devendo concorrer a deputado federal, e o vaivém proposital de João Doria, que chegou a ensaiar um abandono da corrida eleitoral para forçar o seu partido a apoiá-lo explicitamente, mas voltou atrás no final do dia, já anunciando sua renúncia ao governo de São Paulo, este espaço ouve o pré-candidato à presidência pelo partido Novo, Felipe D´Avila, que lançará sua campanha neste sábado (2), na capital paulista.
O Novo, após a expulsão do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, e o rompimento definitivo com o governo Bolsonaro, se apresenta como uma das opções da chamada “terceira via”. D´Avila diz ser um nome para “não termos que escolher entre duas opções (Lula e Bolsonaro) no segundo turno”.
Questionado sobre o alinhamento com o bolsonarismo, o pré-candidato diz que o seu partido “nunca teve uma aliança com o governo”, mesmo tendo seu fundador, João Amoedo, declarado voto em Bolsonaro em 2018, e um de seus membros ocupar o Ministério do Meio Ambiente.
“Mal menor”, mas ainda mal
Em uma referência a Lula, o pré-candidato fala em “mal menor” em um possível segundo turno, mas que ainda estaria “escolhendo o mal”, votando no petista. Sobre a terceira via e a possibilidade de futuras alianças, diz que “qualquer alternativa ao populismo de esquerda e de direita” deve ser “construída através de propostas”. E que a escolha, caso ocorra uma união da terceira via, deve ser feita em torno de “projetos, não nomes”.
Liberalismo e parlamentarismo
Sobre a agenda liberal, muito ligado ao Novo, e as formas de governo e democracia que ele e partido defendem, D´Avila diz ser “pessoalmente a favor” do modelo parlamentarista e que o “livre-mercado” é um dos elementos necessários ao crescimento do país. Defendendo uma reforma no federalismo brasileiro como “uma bandeira”, o pré-candidato no Novo também fala sobre o cenário eleitoral no Rio.
Mudanças na terceira via
A terceira via dá mostras de afunilamento, e sem que nenhum de seus candidatos tenha apresentado números convincentes nas pesquisas, começa a definir quem segue ou não na disputa. Com a desistência de Moro, é preciso aguardar para saber onde irão seus votos. Apesar de apresentar propostas de interferência estatal agressiva, e até antidemocráticas — o ex-juiz propôs um “tribunal de exceção” acima do judiciário —, Moro era visto como uma alternativa viável pelo mercado e parte da grande imprensa.
Moro desiste da campanha
Moro desiste da campanha / Marcos Correa
Com números bem próximos ao ex-juiz estava Ciro Gomes, pré-candidato pelo PDT, que é crítico ferrenho de Moro, o que pode dificultar a migração de seus eleitores para o pedetista. Porém, se conseguir, pode chegar a dois dígitos em intenções de voto.
Já o movimento de Doria não parece refletir em votos, portanto mudando pouco o cenário eleitoral para o PSDB. Sem uma união ainda palpável da terceira via, o jogo pode permanecer favorável à polarização Lula x Bolsonaro.
A entrada do Novo, com o lançamento da campanha no sábado, terá força para alterar essa situação? Receberá o espólio eleitoral da campanha presidencial de Moro?
Confira a entrevista:
"Quanto ao segundo turno, estou em pré-campanha com o objetivo de não termos que escolher entre estas duas opções no segundo turno. Não podemos esquecer que, ao escolher o “mal menor”, ainda estamos escolhendo o mal." (Felipe D´Avila)
Edmundo Siqueira - Felipe, o senhor é pré-candidato à presidência pelo Partido Novo, d lançará no próximo sábado sua campanha. O Novo mantinha uma aliança com o governo Bolsonaro, inclusive com participação direta em ministério. No ano passado teria rompido definitivamente, inclusive com a posição do fundador do partido, João Amoedo, dizendo que os partidários que ainda apoiarem Bolsonaro deveriam procurar outra legenda. Qual seria sua posição em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro? O senhor tem declarado que “votaria nulo”, mas essa não seria uma opção pelo lado mais forte eleitoralmente?


Felipe D´Avila - Primeiro, acho importante deixar claro que o NOVO nunca teve uma aliança com o governo Bolsonaro. Tampouco Ricardo Salles representava o partido quando era ministro - tanto que ele foi expulso. O NOVO no Congresso sempre teve uma postura independente. Somos um partido previsível: votamos a favor de projetos bons para o Brasil (como a Reforma da Previdência e o Novo Marco do Saneamento), e contra projetos ruins (como a PEC dos Precatórios). Quanto ao segundo turno, estou em pré-campanha com o objetivo de não termos que escolher entre estas duas opções no segundo turno. Não podemos esquecer que, ao escolher o “mal menor”, ainda estamos escolhendo o mal.
Edmundo Siqueira - Hoje o ex-ministro Sérgio Moro se filiou ao ‘União Brasil’, e desistiu de sua candidatura. Depois de vaivém, Doria, decide manter-se, pelo PSDB. A chamada “terceira via” parece estar se afunilando. O senhor concorda com essa avaliação? O Novo pretende disputar esse espaço, ou há possibilidade de sua candidatura também se alterar, unido-se a outro candidato para fortalecer a terceira via?
Felipe D´Avila - Qualquer alternativa ao populismo de esquerda e de direita que vem assolando o Brasil só pode ser construída em torno de propostas. É isso que defendo para esse período de pré-campanha: que os pré-candidatos apresentem as soluções para tirar o Brasil da estagnação econômica, do aumento da miséria e do desemprego. Projetos, não nomes. Somente em torno dos valores corretos é que qualquer aliança pode ser discutida.
Edmundo Siqueira - O Novo é muito vinculado ao pensamento liberal. Vivemos em um país de desigualdade profunda, onde apenas 5 brasileiros concentram a renda somada dos 100 milhões mais pobres. É possível que um governo de pensamento liberal consiga cumprir uma agenda que melhore as condições de igualdade?
"Pessoalmente, defendo o modelo parlamentarista. Sempre digo que, no Brasil, nós escolhemos o presidencialismo por causa dos seus defeitos, não seus méritos." ()
Felipe D´Avila -
Primeiro, estamos falando de concentração de riqueza, não de renda. E a agenda liberal é a única capaz de unir aumento da riqueza com diminuição da desigualdade. Se você olhar para os países que dão certo, que conseguiram sair da pobreza e se desenvolver, todos seguem a mesma fórmula: livre-mercado, abertura comercial, facilidade para empreender e trabalhar, e um modelo de Estado ágil e eficiente. O Brasil é desigual por falta da agenda liberal, não por excesso. Os outros modelos, em que o Estado toma as rédeas da economia e da vida das pessoas, já foram testados no Brasil tanto pela direita quanto pela esquerda. O resultado está aí: quatro décadas de estagnação.

Edmundo Siqueira - O papel do estado e o modelo de democracia que adotamos no Brasil nos empurram para o chamado “presidencialismo de coalizão” (confira aqui uma entrevista deste espaço com Sérgio Abranches), conforme definido pelo cientista político Sérgio Abranches. Alterar a forma de governo, para um parlamentarismo por exemplo, seria uma solução viável? Em relação ao papel do estado, sem infraestrutura deve ser ele o indutor da economia?
Jorge Araujo/Folhapress
Felipe D´Avila -
Pessoalmente, defendo o modelo parlamentarista. Sempre digo que, no Brasil, nós escolhemos o presidencialismo por causa dos seus defeitos, não seus méritos. Aqui, o presidente acaba concentrando muito poder. No parlamentarismo, o primeiro-ministro precisa do apoio do Congresso para chegar ao poder. E, quando perde popularidade, é mais fácil removê-lo e construir um novo governo, sem precisar do processo traumático do impeachment.

Edmundo Siqueira - Campos é a maior cidade do interior do Rio de Janeiro, com mais de 350 anos de história, e nascedouro de políticos de relevância nacional, inclusive um presidente da República, Nilo Peçanha. Em entrevista ao programa Folha No Ar, da FolhaFM, o pré-candidato do Novo ao governo do Rio, Paulo Ganime, citou o governo de Minas Gerais como exemplo. Qual sua visão sobre o modelo de federação que temos no país, e especificamente sobre o Rio, como um governador do Novo agiria para não ser comparado a um “segundo prefeito da capital”, na definição do sociólogo Roberto Dutra, e como historicamente temos por aqui?
Felipe D´Avila - A mudança do federalismo é uma das bandeiras que estamos defendendo ao longo desta pré-campanha. Brasília concentra poder e recursos demais. E qual a consequência disso? Os prefeitos e governadores estão sempre fazendo romaria para Brasília em busca de verbas e emendas, abrindo margem para todo tipo de desvio e de conluio político. Isso precisa mudar. O dinheiro precisa estar próximo das pessoas, nos estados e municípios. Quanto menos a verba viajar, melhor. É mais fácil fiscalizar e direcionar o recurso onde ele realmente é necessário. E para o Rio de Janeiro, pode ter certeza que o Paulo Ganime é o nome certo para modernizar o estado, colocar a segurança em ordem e melhorar a vida do cidadão fluminense. Foi o que o Governo Zema conseguiu fazer em Minas Gerais: pegou um estado enfrentando enormes dificuldades financeiras, colocou a casa em ordem, e tem mais de 70% de aprovação da população.
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Edmundo Siqueira

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