O cuidado na primeira infância como forma de prevenção
02/02/2020 | 05h08
A violência gera graves consequências para as pessoas e para a sociedade com repercussão em diferentes setores da sociedade. Os atos violentos não devem ser tratados apenas como uma questão de segurança pública e o combate a exige uma articulação entre diferentes áreas governamentais. Além do papel desempenhado pelas forças de segurança do Estado, há um importante papel a ser desempenhado através da educação na prevenção a esses atos de violência.
Nesse contexto é essencial uma atenção especial à chamada primeira infância. O período compreendido entre 0 a 6 anos de idade é essencial para o desenvolvimento da criança e cria os alicerces para as aprendizagens posteriores. Toda a base para o desenvolvimento futuro dessa criança até chegar à fase adulta é desenvolvida nessa etapa da vida, podendo variar de acordo com características individuais. É uma fase de atenção constante com relação a proteção e cuidados adequados para que o indivíduo possa atingir todo seu potencial físico e intelectual.
Para o prêmio Nobel em economia James Heckman, que se dedica ao tema da primeira infância, o investimento na primeira infância é uma estratégia para o crescimento econômico e o desenvolvimento da sociedade. Em seus estudos ele conclui que o investimento nessa fase da vida das pessoas é o que gera o maior retorno para a sociedade. Isso porque nesse período o cérebro da criança se desenvolve rapidamente e é mais maleável, sendo assim mais fácil incentivar habilidades cognitivas e de personalidade como atenção, autocontrole, sociabilidade e motivação. Sua pesquisa apontou que com o investimento na primeira infância há um retorno em produtividade, aumento da escolaridade, diminuição de gastos com saúde e com o sistema penal.
Apesar das pesquisas apontarem a importância desse investimento pouco tem sido feito no Brasil nessa área. Apesar da Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente preverem a prioridade absoluta na atenção às crianças e adolescentes, isso não corresponde à realidade. Os serviços de educação no país são extremamente desiguais e muito deficitários. Faltam investimentos, manutenção das instalações existentes e a péssima remuneração dos profissionais afasta os mais qualificados. É um quadro de desamparo em um momento de muita relevância para o desenvolvimento das crianças.
Como afirmou o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Essa frase foi dita em 1982 e quase 40 anos depois vivemos essa realidade. A situação não é irreversível, porém a cada ano que passa, sem os investimentos necessários, o quadro tende a piorar e em algum momento não teremos sequer a capacidade de proteger o Estado de Direito.
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Sobre o autor

Roberto Uchôa

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