Terror toma conta na área central de Campos
Ícaro Abreu Barbosa 29/01/2022 09:02 - Atualizado em 29/01/2022 11:17
Reprodução de vídeo
Um criminoso armado com uma pistola de brinquedo tentou roubar uma loja na Pelinca, na manhã desta sexta-feira (28). O crime só não ocorreu porqueo gerente da loja da Claro trocou socos com o ladrão, que conseguiu fugir sem levar nada e não deixou feridos. O incidente é mais um exemplo que reforça: uma onda de crimes patrimoniais vem varrendo a região da área mais valorizada de Campos ao longo da última semana, deixando um rastro de cacos de vidro, medo e prejuízo aos lojistas. Para a Sociologia, os últimos acontecimentos na área mostram que existe uma “febre”, que precisa ser tratada.
Até agora, citando apenas os casos que se tornaram boletins de ocorrência, duas lojas de roupa, um supermercado, uma filial das lojas americanas e, agora, uma filial da Claro, foram alvos de bandidos nos últimos 10 dias.
No olho do furacão estão as autoridades policiais da cidade: o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Gustavo Marques; a delegada titular da 134ª Delegacia de Polícia (Centro), Natália Patrão; e o novo secretário municipal de Ordem Pública, Jackson Sousa. Eles falaram com exclusividade à Folha da Manhã sobre os crimes e as reações que pretendem dar com suas forças. Confira na íntegra:
Tenente-coronel, Gustavo Marques
— "Posso afirmar que esse tipo de crime vem acontecendo em todas as grandes cidades, por questões de fragilidade social, e por questões ligadas ao consumo de drogas, pela manutenção do vício". Sobre a Pelinca ser alvo, ele garante que é uma área patrulhada ostensivamente pelo 8º BPM, 24 horas por dia, sete dias por semana, e ainda pela Operação Presente (que vem realizando prisões na região). Quero deixar claro que estamos nos esforçando muito, mas infelizmente temos as nossas limitações e a oferta dessa mão de obra delinquente é infindável. ”

Delegada da 134ªDP, Natália Patrão
— “Em todos esses crimes estão sendo colhidos materiais de impressões papilares deixadas nos locais (perícia papiloscópica). Além disso, juntamos todas as imagens dos crimes, que são publicadas em grupos de segurança pública para possível identificação em deslocamento na rua. Elas são passadas ainda para os 50 policiais da segurança presente. Por fim, aguardamos o laudo papiloscópico aguardando algum retorno positivo acerca da identificação e sobre o crime na loja da Claro, o autor já está identificado. ”

Secretário Municipal de Ordem Pública, Jackson Souza
— “Neste primeiro momento a Guarda Civil Municipal está fazendo um remapeamento e analisando a mancha criminal de vários pontos da cidade junto a Polícia Militar. A Pelinca necessita de mais policiamento e nós estamos planejando o posicionamento de mais agentes no local o mais rápido possível. ” 
Medo e insegurança na área mais valiosa de Campos
O dono de uma das lojas de roupas que foram arrombadas falou sobre a sensação de insegurança causada pelos furtos e arrombamentos seriais. Isso tudo agora mexe com a cabeça dos lojistas na região da Pelinca.
Segundo André Bousquet, dono da Track & Field, que foi vítima de um arrombamento no último domingo (23), assim que as lojas começam a fechar e a lua começa a subir, a escuridão toma conta da região. Nestas horas, principalmente quando acaba o turno dos vigias, os criminosos começam a rondar. “A gente fica preocupado”, afirma, se consolando com o fato de “não ter muito o que fazer”.
A impotência e a vulnerabilidade acabam se transformando em estresse. Isso tudo paira sobre a cabeça daqueles que detém um ponto comercial na região, assim como André, em todas as madrugadas: “a gente não sabe se vai entrar uma pessoa ali, quebrar o vidro e te furtar… nós acabamos ficando preocupados até com a loja aberta. A gente só vai tendo notícias de cada vez mais assaltos na área. Mas é complicado, as pessoas hoje usam máscaras e isso dificulta o reconhecimento e ficam comentando esses furtos em série na mesma região”, disse o lojista, que pela sensação de que a área está sitiada pela bandidagem providenciou um reforço na fechadura da loja.
Uchôa compara crimes a "febre" na área de políticas de Segurança
Sociólogo, policial federal, ex-policial civil e especialista em segurança pública, Roberto Uchôa, comparou os crimes que têm ganhado destaque na mídia local com uma febre: um sinal de que alguma coisa não anda nada bem com as políticas de segurança no município.
“Segurança pública é um problema complexo e precisa ser tratado de forma multisetorial, com várias secretarias envolvidas e planejamento a longo prazo: tem que ser uma política de estado e não uma política de governo, onde tudo se resume a marketing”, salienta.
Se existe febre, existe doença. E existem exames que precisam ser feitos para chegar no diagnóstico… portanto, quem são as pessoas que saltam de suas casas em direção à Pelinca? O que move essas pessoas? Seriam as drogas ou a vulnerabilidade social? Talvez o desemprego... Tudo isso é um caminho que está cercado por uma neblina e que precisa ser percorrido com bastante cuidado. O especialista adianta: “não existe solução simples à vista para estes problemas”.
— Quase todos os índices subiram na nossa região, com relação a 2020, segundo o ISP. E isso era previsível. Nós tivemos uma redução muito grande por conta da Pandemia e do menor número de pessoas circulando nas ruas, mas essa redução não foi acompanhada por nenhuma política de mudança na segurança pública — pontuou o policial, que logo após continuou e deixao uma pulga atrás da orelha da sociedade e das autoridades:
— A segurança pública tem que ser tratada como se fosse uma doença e os casos de repercussão são equivalentes a febre; não podemos atacar só a febre. Temos que ter um diagnóstico do que está causando o aumento no número de crimes patrimoniais e atacar a doença. Qual seria a doença?

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