Morte de criança coloca Campos no mapa da febre maculosa
Ícaro Abreu Barbosa 21/09/2021 14:16 - Atualizado em 21/09/2021 14:34
  • Coletiva sobre febre maculosa (Fotos: Genilson Pessanha)

    Coletiva sobre febre maculosa (Fotos: Genilson Pessanha)

  • Coletiva sobre febre maculosa (Fotos: Genilson Pessanha)

    Coletiva sobre febre maculosa (Fotos: Genilson Pessanha)

  • Coletiva sobre febre maculosa (Fotos: Genilson Pessanha)

    Coletiva sobre febre maculosa (Fotos: Genilson Pessanha)

A morte de uma criança em Travessão, no dia 31 de agosto, colocou Campos no mapa da febre maculosa, mas não há risco de uma epidemia no município, segundo a pesquisadora responsável pelo Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Elba Lemos, que concedeu uma entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (21), juntamente com o subsecretário municipal de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde, Charbell Kury, e o diretor de Atenção Básica, Rodrigo Carneiro. A especialista apontou, entretanto, a necessidade de disseminar o conhecimento sobre a doença, para que a população a identifique rapidamente e faça o tratamento de forma precoce.
Após o óbito por febre maculosa no município, no mês passado, a Prefeitura vem recebendo pesquisadores da Fiocruz para estudarem as áreas de Travessão, onde foram coletadas amostras de moradores e animais domésticos nas proximidades de onde o caso foi registrado. Também será iniciado um trabalho de criação e disseminação de protocolos para as unidades de saúde dessas zonas mais afastadas e com maior potencial de transmissibilidade.
O caso de Campos foi confirmado através de biologia molecular. Esse foi o primeiro caso confirmado e é inquestionável, na visão das autoridades sanitárias. Desde 2015 foram notificados três casos da doença em Campos e todos eles foram descartados: "Então tivemos que vir para cá para ver se haviam outros casos acontecendo naquela área. Nossa proposta foi identificar através de testes sorológicos em pessoas e cães de estimação da área. Essas amostras vão ser levadas por mim para analisarmos alguma cicatriz sorológica da febre maculosa. Isso tudo vai ser enviado individualmente entre eles (população submetida aos testes)", explicou a pesquisador Elba Lemos. 
— Nós também demos uma palestra sobre a doença na área, para que a população tenha noção de como prosseguir e agir frente aos seus animais de estimação, que podem atuar como vetores da área rural para a área urbana e é importante que o controle de carrapatos seja realizado pelo dono — continuou a especialista. Posteriormente foi informado pelas autoridades municipais que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) estuda a logística para que o Castramóvel faça, além da castração dos animais, uma vermifugação para ajudar no combate à febre maculosa, que é transmitida pelo carrapato-estrela.
Entre os principais sintomas da febre maculosa estão a febre, dor de cabeça, cansaço e, além disto, as pessoas podem apresentar manchas no corpo, inclusive na palma das mãos e dos pés. Essas manchas, entretanto, não aparecem em alguns hospedeiros, especialmente nos de etnia negra. Nestes casos, as pessoas devem procurar os postos de saúde e comentar sobre os seus sintomas.
Elba também pontuou os grupos de risco: crianças, velhos, negros e alcoólatras. Ela acrescentou que "o fator tempo é fundamental para a febre maculosa". De acordo com a pesquisadora, diante de um quadro de febre, principalmente na região de Travessão e adjacências, devem ser procurados os médicos e ministrado, aos pacientes, os antibióticos adequados.
Para reforçar a importância do tempo, Elba comentou sobre a conversa que teve com o pai da criança que morreu, vítima da doença, em Travessão: "O pai da criança que morreu falou que a vítima fatal da doença em Campos começou com a febre na sexta-feira de manhã e ficou 'amoadinha' no sábado, 'mas eu trabalho o dia inteiro e dei uma dipirona para melhorar', contou ele, continuando, 'no domingo também trabalhei o dia inteiro e o levei ao Hospital na segunda-feira'. Aí já foram quatro dias. A partir do sétimo o caso se tornou irreversível e as paredes dos vasos sanguíneos não suportaram e perdemos o paciente". 
Charbell Kury, falou pelo município de Campos: "A Vigilância trabalha com informações, as informações são acompanhada de ações, que por sua vez são acompanhadas por avaliações de efetividade das ações. Ontem fizemos ações de conscientização e posteriormente serão feitas as avaliações. Nós estamos programando um treinamento com médicos da Unidade de Travessão e do Ferreira Machado, que receberam essa criança e deram o diagnóstico presuntivo de meningite; diagnóstico posteriormente corrigido para febre maculosa. Agora a doença está no nosso armamentário de doenças infeciosas e Campos está agora sendo considerada área de interesse da doença", explicou.
— Nós devemos ir além, não são todos os carrapatos que transmitem a febre maculosa. Não precisa se desesperar e ligar para o CCZ. Você tem que cuidar do seu animal e seguir as recomendações dele. Nós acreditamos que a união da educação e saúde, além do acesso ao profissional que consegue identificar a doença, vai evitar futuras mortes em Campos e mitigar a doença. Vamos fazer o trabalho educativo nas escolas municipais daquela área de travessão e Campelo — acrescentou o subsecretário municipal de Atenção Básica, Vigilância e Promoção da Saúde.
Rodrigo carneiro, diretor de Atenção Básica, fechou a coletiva e, com alguma experiência prévia em relação à febre maculosa, doença que combateu após ter trabalhado em Itaperuna, explicou: "A nossa região Norte e principalmente o município de Campos, historicamente, nunca foi uma área endêmica de febre maculosa. Locais de endêmicidade na região Noroeste são Varre-Sai e Itaperuna, que é o polo da região. Mas nós estamos observando nos últimos meses e anos que fatores ambientais estão fazendo o carrapato se deslocar da região Noroeste para a região Norte. Nós temos que aumentar a vigilância e treinar as equipes pra implementar o tratamento precoce e mudar o prognóstico do paciente", concluiu Rodrigo.  
 
 

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