Com Carnaval de 2022 cancelado e o de 2023 marcado, Cepop passará por reforma
Matheus Berriel 03/05/2022 20:21 - Atualizado em 04/05/2022 15:05
Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), em Campos
Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), em Campos / Foto: Subcom
Pouco mais de um mês após confirmar a não realização do desfile de escolas de samba, blocos e bois pintadinhos neste ano, a Prefeitura de Campos divulgou um aviso de licitação para tomada de preços visando a reforma do Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), com valor estimado em R$ 2.748.011,15. O anúncio foi publicado na edição de 28 de abril do Diário Oficial, e os interessados em participar do certame devem fazer a proposta comercial no próximo dia 17, às 10h.
— O processo licitatório está em andamento. Só após o seu término a secretaria de Obras e Infraestrutura poderá se pronunciar sobre início e término da obra. e, portanto, a reinauguração também será divulgada em época oportuna — informou em nota a Prefeitura.
Inaugurado em 28 de março de 2012, com realização e entrega da obra durante o governo Rosinha Garotinho, o Cepop teve custo aproximado de R$ 100 milhões, ostentando o fato de ser o maior centro de eventos populares do interior do estado e ter o maior palco fixo da América Latina. Há capacidade para cerca de 10,5 mil pessoas sentadas nos cinco blocos de arquibancadas e outras 20 mil em pé.
Desde a inauguração, no que se refere ao Carnaval, o Cepop sediou apenas cinco edições do desfile das agremiações, todos fora de época. O ano atual é o sexto sem desfile desde 2012, marcando o auge da derrocada da folia na planície goitacá. Um dos motivos para não haver desfile em 2022 foi justamente a necessidade de reforma no local que sedia o evento. De acordo com a Prefeitura, a estrutura do espaço estava impossibilitada de uso devido “às más condições encontradas pelo governo atual”. Um boletim de ocorrência sobre furto em 7 de janeiro do ano passado chegou a ser registrado na 134ª Delegacia de Polícia (DP), e o local teria sido alvo de novo furto no dia seguinte, com os criminosos levando partes de cabos, fios de cobre, peças de ar-condicionado e bicos de mangueiras de incêndio.
Ainda de acordo com a Prefeitura, o cancelamento do desfile deste ano teria sido pedido pelas presidências das escolas de samba, dos blocos e bois pintadinhos, que teriam alegado “dificuldade para promover o evento popular”. Como contrapartida, o Carnaval de 2023 foi marcado para 15 dias após o desfile das campeãs do Rio de Janeiro.
— O município se colocou responsável por oferecer toda a estrutura logística e operacional para a realização do Carnaval 2023, através da Fundação Cultural e de outras secretarias municipais. A Prefeitura também vai oferecer apoio aos eventos que serão realizados pelas escolas, os blocos e bois pintadinhos durante todo este ano, para ajudar todos a se preparem para apresentar, no ano que vem, o grande espetáculo que nossa população merece — afirmou a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Auxiliadora Freitas, quando do cancelamento. — O poder público municipal gostaria muito de realizar o Carnaval, a maior festa popular de nossa cidade, mas foi verificado que o projeto inicial não atenderia às necessidades de reparos do Cepop, tão crítica a situação do equipamento cultural, que ficou abandonado e teve até mesmo todos os fios de cobre roubados. Um projeto mais amplo, inclusive com um investimento quase seis vezes maior do que o previsto inicialmente, já foi aprovado e orçado, e vai ser apresentado em breve pelo prefeito Wladimir Garotinho — alegou Auxiliadora na ocasião.
Em 29 de março, foi lançado pela Prefeitura o edital de chamamento público “Culture, Campos - Carnaval na ciranda cultural”, com distribuição de R$ 300 mil para contemplar até nove escolas de samba, sete blocos e nove bois pintadinhos. Atualmente, a organização dos desfiles carnavalescos é de responsabilidade da Associação dos Bois Pintadinhos de Campos (Aboipic), cuja recente eleição da presidência foi alvo de contestação judicial. O então presidente, Marciano da Hora, chegou a ser declarado reeleito pela entidade e segue exercendo o cargo. Para ele, a reforma do Cepop e o edital de fomento lançado pela Prefeitura ajudam o setor, mas não são suficientes.
Segundo Marciano, a Aboipic conta com duas cartas de intenção aprovadas para captação de recursos junto à iniciativa privada, uma delas por meio da política de renúncia fiscal do Governo do Estado, no valor de R$ 1,5 milhão. A cervejaria Ambev seria uma interessada em patrocinar o evento.
— Nós estávamos há meses pedindo uma reunião à Prefeitura com a Ambev, com o representante do projeto e o presidente da Federação da Indústria Criativa Cultural do Carnaval do Estado do Rio de Janeiro (Ficerj), Sérgio Firmino. Essa reunião aconteceu há mais ou menos um mês — disse Marciano. — Mas, nós sabemos que, com R$ 1,5 milhão, não vai dar para fazer um Carnaval de escolas, blocos e bois pintadinhos. São necessários no mínimo R$ 2,5 milhões, R$ 3 milhões, que é o valor em que está orçado o Carnaval de Campos. Tudo subiu. A gente agradece e parabeniza ao prefeito Wladimir Garotinho, porque o Cepop custou R$ 100 milhões e realmente estava sem nenhuma utilidade. Mas, não adianta reformar o Cepop e não dar condições de as instituições se reestruturarem — enfatizou.
Além da Aboipic, a organização do desfile em 2023 também é reivindicada pela Liga das Escolas de Samba e Entidades de Carnaval de Campos dos Goytacazes (Liesecam).
— Não há nada definido se nós vamos realizar ou não o Carnaval. A única coisa que estamos é trabalhando junto aos nossos patrocinadores para quando houver um chamado ou algo dessa forma durante ou após a reforma do Cepop. A Liesecam está esperando e fazendo o trabalho dela, um trabalho sério, para, se houver uma chamada, nós estarmos preparados — declarou o presidente da liga, Zulu Pessanha, com atuação no Carnaval do Rio de Janeiro.
— Tem uma ação judicial rolando sobre a Aboipic, nós estamos aguardando o desfecho para ver o que vai ser possível fazer, se vai haver uma conversação. Nós não sabemos nada do processo, e também não interessa à Liesecam, porque aqui o trabalho é feito independente de qualquer ação judicial que ocorra em outra liga. Só nos dirá respeito se houver uma definição e tiver que sentar na mesa para conversar, para o bem do Carnaval de Campos. A liga é para isso. A liga tem que ouvir a todos, receber todos. Tem que haver um consenso geral para mudar a ideia do Carnaval de Campos, em que, hoje, é cada um por si — finalizou o presidente da Liesecam.
Questionada, a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima citou um edital lançado em 16 de novembro de 2021, estabelecendo parâmetros para empresas, associações e/ou ligas interessadas em promover o carnaval campista apresentarem projetos de captação de recursos. “O evento será realizado por quem apresentar propostas que contemplem os critérios estabelecidos”, enfatizou a fundação.

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