Agronegócio é aposta para recuperação econômica
Ícaro Abreu Barbosa - Atualizado em 16/01/2021 08:55
Em 2021, autoridades, produtores e economistas preveem que o agronegócio no setor sucroalcooleiro em Campos tenha uma safra girando em torno de 2,1 e 2,3 milhões de toneladas de cana com faturamento estimado em R$ 1 bilhão — mesmo com redução de 32,52% no orçamento da Agricultura, para 2021 — no ano passado foi de R$ 7,7 milhões; este ano será de R$ 5,2 milhões. Apesar das limitações, o setor vem se reinventando desde 2015 e cresceu, triplicando a moagem em 2020. Com projeções otimistas, produtores mostram intenção de dobrar, em dois anos, a quantidade de cana.
— Nós esperamos três anos interessantes e estimulantes para o nosso segmento da cana de açúcar. Temos que gerar nossa riqueza e criar uma independência dos royalties. É uma das atividades principais geradoras de renda e riqueza para o nosso município que ficou mais de 30 anos desprestigiada — ressaltou o vice-prefeito e produtor rural Frederico Paes.
Frederico disse que o governo de Wladimir Garotinho (PSD) irá apoiar o setor agropecuário de forma “ampla e irrestrita” para levar a agricultura a um lugar que ela nunca deveria ter perdido. Esses apoios se evidenciam, por exemplo, na indicação do secretário de Agricultura, Almy Junior, responsável pela ponte entre a academia e o campo, visto que foi reitor da Uenf, é produtor e engenheiro agrônomo. Para o vice-prefeito, “uma pessoa extremamente conhecedora do campo e da tecnologia que tem que ser usada na terra para evoluirmos cada vez mais”.
Para o economista José Alves Neto, o agronegócio tem potencial para ser o braço forte econômico do município, mas depende do acesso que Almy Junior pode ter aliando terra e a tecnologia.
— Há 400 anos que nós exploramos a atividade agroaçucareira. Então ela já está nos seus estertores, com baixa produtividade. A nossa saída econômica via agronegócio é possível com alta tecnologia aplicada à agricultura e com muito conhecimento — afirma José Alves Neto.
O economista também chamou a atenção para um ponto que gera questionamentos sobre a prioridade que o setor tem na atual gestão: o orçamento da Secretaria de Agricultura aprovado na Câmara de Vereadores, para o exercício fiscal de Campos em 2021 teve uma redução de 32,52%, em relação ao ano de 2020.
Entretanto, os próprios agricultores entendem que essa redução, para R$ 5.206.266,00 pode não significar muita coisa.
Tito Inojosa, presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), comenta: “Esses orçamentos nunca funcionaram. Se reduzirem e aplicarem o valor que está no orçamento já vai fazer muita coisa. Sabemos que dentro da crise a prefeitura tem que cortar em vários lugares, mas o importante é repassar esses valores. O último governo, de Rafael Diniz, apesar de prever nos orçamentos R$ 7.715.578,76, empenhou somente R$ 1,09 milhão, dos quais apenas R$ 510 mil foram pagos. Repito, se cortar e aplicar o valor previsto já vai melhorar muito”.
Em nota, a secretaria de Agricultura ressalta que o orçamento para o ano de 2021 foi aprovado ainda no ano de 2020, a partir de proposta do governo anterior. O orçamento destinado à produção rural para 2021 é de R$ 5,2 milhões.
“O prefeito Wladimir Garotinho acredita, sim, que a agricultura é fundamental para que Campos saia da condição que está e, mesmo antes de assumir, já conquistou para o ano de 2021, junto ao Ministério da Agricultura, mais de R$ 10 milhões a fim de atender às demandas dos agricultores e reestruturar a capacidade da secretaria de Agricultura que estava totalmente abandonada. O valor obtido no referido Ministério é 4,5 vezes maior do que o somatório total de investimentos realizados pela prefeitura nos últimos 4 anos no setor”, informou ainda a nota da secretaria de Agricultura.
Saldo positivo e projeção de mais emprego
O agronegócio de Campos contratou, de janeiro a novembro de 2020, ano em que o mundo quase parou, 1.103 trabalhadores e demitiu 854, resultando na criação de 249 empregos formais com carteira assinada. Em 2019, o número de contratações foi maior, contando com 2.568 trabalhadores, mas as demissões superaram esses números e 2.602 trabalhadores foram desligados - resultando num saldo negativo de 34 trabalhadores. As informações têm como base dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Além dos empregos formais, para o economista José Alves Neto a agricultura é muito forte em Campos, e a agricultura familiar é igualmente importante, já que 70% dos alimentos produzidos no Brasil vêm desses produtores. “Então temos que fortalecer essa agricultura familiar, e também fortalecer a cultura sucroalcooleira. Nós não temos muita alternativa, não sobrou nada pra gente”, comentou José Alves.
Já que a perspectiva dos produtores é dobrar a quantidade de cana produzida, em dois anos, a produção de álcool e açúcar deve dobrar paralelamente. “Nisso nós aumentamos a geração de emprego e esticamos mais a moagem, esticando os empregos sazonais e garantindo uma maior distribuição de renda na região”, explica o vice-prefeito e produtor rural, Frederico Paes. Ele ainda cita os incentivos externos aos pequenos produtores; além do preço “atrativo” e “interessante” do álcool e açúcar no mercado internacional.
— Temos de 5 a 6 mil produtores, muitos são pequenos agricultores que ficam com 60% do valor bruto arrecadado pela atividade. Esse dinheiro circula aqui. Uma das atividades principais geradoras de renda e riqueza em nosso município volta a ser a cana de açúcar — concluiu Frederico.
Ações para alavancar a produção no campo
O secretário de Agricultura, Almy Junior, e sua equipe, abriram 15 dias de governo atuando para reestruturar as condições de atendimento da Secretaria, com ênfase no apoio à regularização fiscal dos agricultores e de associações do setor, além da certificação dos produtos agrícolas produzidos no município e melhoria das condições de comercialização.
A secretaria também faz levantamento das aptidões de produção de cada região do município.
Mas, após 30 anos de abandono, levantar o setor que por 400 anos foi o principal pilar da economia campista vai precisar de mais trabalho da gestão, além de vontade e determinação dos produtores.
Para Tito Inojosa, é vital criar um centro de distribuição e processamento de alimentos e evitar que os hortifrútis hortigranjeiros vendam produtos procedentes de outras regiões. O presidente da Asflucan afirma:
— Quem pode levantar a região somos nós do agronegócio, mas precisamos de infraestrutura. Limpeza dos canais, estradas, pontes, tudo isso é uma forma de ajudar o produtor a escoar seus produtos — finalizou Tito Inojosa.

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