Está descartada a necessidade imediata de demolição da fachada do Museu Olavo Cardoso, segundo informou a Prefeitura de Campos, na quarta-feira (30). A possibilidade entrou na pauta da reunião do Conselho da Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal (Coppam), no dia anterior. Inaugurado em 2006, fechado em 2011 e saqueado em 2020, o imóvel está em avançado estado de deterioração. Para evitar acidentes, acaba de receber tapumes.
O Ministério Público também agendou uma reunião para o próximo dia 13. Na pauta, estaria a questão do imóvel, localizado na Avenida Sete de Setembro, área central da cidade. Os convocados, ansiosos por respostas, acreditam que a reunião teria uma relação com o Inquérito Civil Público instaurado em 2018. Até o fechamento da edição, a Folha ainda aguardava uma resposta do MP sobre a pauta da convocação.
Presente na reunião do Coppam, na manhã de terça, o conselheiro suplente pelo Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes (IHGCG), Renato Siqueira, disse que um grupo presente ficou incrédulo quando o representante da Defesa Civil Municipal cogitou a demolição da fachada, chegando a anunciar que poderia ocorrer na próxima terça-feira (6).
“Inacreditável foi a naturalidade como foi dito pelo representante da Defesa Civil, na reunião, a data para a demolição”, conta. Segundo ele, alguns poucos membros do Coppam, se posicionaram contrários à demolição da fachada do casarão. Ele cita, além dele, Antônio Berriel, pelo IHGCG; João Coutinho, pelo Isecensa; e Geovani Laurindo, pelo Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural do Estado do Rio de Janeiro (Inepac).
Casarão fica na Avenida 7 de Setembro
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Rodrigo Silveira
O casarão, construído no início do século XX, foi doado à Prefeitura em 2006, pela família do usineiro Olavo Cardoso, para que funcionasse como um museu. O município, por uma das cláusulas, teria que aceitar a doação. Caso contrário, ele poderia passar para o espólio do Asilo do Carmo. “Como a Prefeitura assumiu, hoje, essa possibilidade não existe mais”, informa o diretor do Asilo, André Araújo.
Ex-diretora do Museu, no governo de Alexandre Mocaiber, a historiadora Sylvia Paes, diz que o local, hoje, é cenário de tristeza. “E sem necessidade”, acrescenta. Segundo ela, tem um projeto no Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, com o valor de R$ 1 milhão.
“Esse valor, agora, é insuficiente para fazer a reforma, mas há um ano, daria para fazer mais coisas do que no atual momento do avançado estado de deterioração. Porém, ainda daria para fazer limpeza por dentro, tirar o mato, fazer escoramento, ações emergenciais. Essa verba aprovada precisa de ação da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima para ser captada”, diz a historiadora.
O museu encerrou as atividades há 14 anos. As portas foram fechadas em definitivo no governo de Rosinha Garotinho e, a cada ano, o imóvel sofre os efeitos do tempo e humano.
No final do governo do prefeito Rafael Diniz, em dezembro de 2020, parte do seu acervo do Olavo Cardoso foi roubado, em ação criminosa. Na ocasião, a então presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Auxiliadora Freitas, e a vice-presidente, à época, Fernanda Campos, pretendiam cruzar informações do boletim de ocorrência na Polícia Civil para realizar um cruzamento dos objetos listados no boletim com os registrados no Patrimônio da Prefeitura. De lá para cá, não há informações sobre a investigação.
É possível ressaltar que em 2023, em um período conturbado na relação Executivo e Legislativo, o prefeito Wladimir Garotinho e o então presidente da Câmara, Marquinho Bacellar, chegaram a iniciar uma conversa para a restauração do imóvel. Na ocasião, falou-se em investimento de R$ 2,6 milhões no projeto que abrigaria, em um dos seus anexos, a Escola Legislativa. A conversa, no entanto, não teria evoluído, com a aproximação do período eleitoral.
Até o fechamento da edição, a Folha não recebeu respostas para as demandas direcionadas à presidência do Coppam e à presidência do Conselho Municipal de Cultura de Campos dos Goytacazes (Comcultura); os dois têm no comando a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Fernanda Campos.